A serviço das elites financeiras, presidente da Câmara age como inimigo do governo do presidente Lula
A tensão entre o Palácio do Planalto e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), atingiu um nível inédito. Motta liderou, na noite de quarta-feira (25), a articulação que derrubou, por ampla maioria, o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que reajustava a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Segundo Renata Agostini, do jornal O Globo, antes mesmo de pavimentar a derrota do governo no plenário, Motta passou a ignorar telefonemas da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), responsável pela articulação política do Planalto. A ministra tentou, em vão, abrir um canal de diálogo horas antes da votação decisiva. O mesmo 'gelo' foi dado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que enviou mensagens pedindo uma conversa de última hora e sequer recebeu confirmação de leitura.
Interlocutores relatam que Motta acusa o chefe da equipe econômica de agir com “deslealdade” ao criticar publicamente pautas aprovadas pelo Congresso. Para o deputado, o governo aposta na retórica do “nós contra eles” para colar no Legislativo a pecha de defensor dos “lobbies” e do “andar de cima”. Irritado, ele afirma que não está disposto a “fazer o jogo do governo” e que precisa salvaguardar os interesses da Câmara.
Motta se sentiu ainda mais obrigado a desafiar Lula no caso do IOF depois de o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), conduzir uma sessão do Congresso que derrubou uma série de vetos presidenciais. A Câmara não podia ficar para trás, avaliam interlocutores de Morra.
No Planalto, a leitura é oposta. Assessores de Lula enxergam na postura do presidente da Câmara a tentativa de antecipar o tabuleiro eleitoral de 2026. Motta chegou ao comando da Casa chancelado por líderes do centrão interessados em apoiar um nome da direita na próxima disputa presidencial. Para esses auxiliares, a escalada de confrontos serve para consolidar o deputado como fiador dos interesses de grandes bancos e gestoras — nichos duramente atingidos pelo decreto do IOF.
Mesmo antes da votação, porém, havia sinais de indisposição. Pela manhã, Motta reclamou a colegas da “ingratidão” de Haddad, que, nas suas palavras, teria recebido apoio da Câmara para avançar com a reforma tributária, mas agora demonstraria “falta de reconhecimento”. Paralelamente, fez chegar ao Planalto o recado de que só voltará à mesa de negociação “quando houver coordenação de verdade”.
Para parlamentares governistas, o impasse expõe os limites da base aliada. Eles lembram que Lula entregou cargos e emendas a partidos do bloco de centro, mas não recebeu fidelidade em votações de alto impacto fiscal. Já na avaliação de integrantes do núcleo político do Republicanos, o episódio comprova que o governo “errou o alvo” ao atacar o Congresso.
Num ambiente de desconfiança mútua, o cronograma de pautas econômicas corre risco. Propostas como a regulamentação da nova fase da reforma tributária e a votação do Orçamento de 2026 podem se tornar reféns de disputas internas enquanto Motta — fortalecido após a derrota do IOF — se move para manter o Executivo sob pressão.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo