Estudo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira aponta agronegócio como principal beneficiado com redirecionamento das exportações brasileiras
Um levantamento da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira identificou oportunidades para ampliar as exportações do Brasil aos países árabes diante da sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a diversos produtos brasileiros desde 6 de agosto. A análise mapeou os itens mais atingidos pelo novo tarifaço, seus volumes de importação no mundo árabe e possíveis mercados substitutos para absorver parte da produção nacional redirecionada.
O estudo, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, abrange 13 produtos que, nos últimos cinco anos, figuraram entre os principais embarques brasileiros aos EUA e que apresentam potencial de expansão no mercado árabe. Em cada caso, foram indicados três países com maior capacidade de compra. O diagnóstico aponta que as oportunidades se concentram, sobretudo, no agronegócio, que já responde por 76% das vendas brasileiras para os 22 países da Liga Árabe.
O café verde lidera a lista de produtos com maior potencial. Em 2024, o Brasil exportou US$ 513,83 milhões do grão não torrado aos árabes, contra US$ 1,896 bilhão para os Estados Unidos. A Arábia Saudita, que importou US$ 400 milhões do produto no ano, comprou apenas US$ 49,12 milhões do Brasil, sinalizando espaço para crescimento. Kuwait e Argélia também são vistos como mercados estratégicos.
Na carne bovina, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e a própria Arábia Saudita são apontados como destinos promissores. Em 2024, o Egito importou US$ 927,12 milhões da proteína, sendo US$ 273,07 milhões provenientes do Brasil. No total, as exportações brasileiras de carne bovina para o bloco árabe somaram US$ 1,211 bilhão, superando os US$ 885 milhões vendidos aos EUA.
Alguns itens exportados aos Estados Unidos ainda não chegam ao mercado árabe ou têm vendas incipientes, mas apresentam potencial de avanço — como produtos semimanufaturados de ferro ou aço, madeira de coníferas, máquinas de construção e carregadoras. A vantagem tarifária é expressiva: enquanto o tarifaço americano eleva a alíquota a 50%, os mercados árabes cobram taxas de zero a 12% para esses itens.
No café não torrado, a tarifa é zero; na carne bovina congelada, varia entre zero e 6%; no açúcar, de zero a 20%. O petróleo refinado, outro destaque nas exportações brasileiras aos EUA, enfrenta tarifa de 50% no mercado americano, mas paga apenas 5% na Liga Árabe.
Segundo a Câmara, o objetivo é reduzir os impactos da tarifa americana — composta por uma sobretaxa de 40% somada à alíquota de 10% já vigente desde abril — e fortalecer as relações comerciais com o mundo árabe. A instituição cruzou dados sobre os 20 principais produtos exportados aos EUA, os maiores importadores árabes e as tarifas aplicadas, considerando apenas os que sofreram a alíquota integral de 50%.
O secretário-geral da Câmara, Mohamad Mourad, enfatiza que "os países árabes têm crescimento populacional e econômico acima da média mundial, têm população jovem, e o Brasil é um importante provedor para a segurança alimentar de lá". Para ele, carne bovina e café são produtos com potencial de colocação imediata no mercado árabe, embora nem toda a demanda americana possa ser absorvida.
Em 2024, o Brasil registrou recorde de US$ 23,68 bilhões em exportações para o bloco, com superávit de US$ 13,50 bilhões. Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita foram os principais compradores.
Ainda conforme a reportagem, a Câmara sugere ao governo brasileiro e ao setor privado ações em três frentes: sensibilização, diversificação de comércio e facilitação. Entre as propostas estão a promoção comercial de produtos competitivos, o apoio à adaptação às exigências locais — como a certificação halal — e o fortalecimento de acordos comerciais.
Também estão na pauta a facilitação de vistos de negócios, missões comerciais e atração de investimentos. A entidade defende a ampliação de tratados de livre comércio do Mercosul com países árabes, citando o exemplo do acordo com o Egito, de 2010, que quase dobrou as exportações brasileiras ao país. Negociações mais avançadas hoje envolvem os Emirados Árabes Unidos.
Mourad afirma que o momento é favorável e que "o governo sabe trabalhar muito bem essa região, enxerga o peso econômico e o potencial de consumo e respeita a importância do mundo árabe". Ele destaca Egito, Argélia, Iraque e Líbia como mercados que exigem atenção especial, seja pela solidez econômica, por acordos já existentes ou pelo potencial de consumo.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Estado de S. Paulo