Ministros da Primeira Turma julgam denúncia da PGR nesta sexta-feira
Eduardo Bolsonaro - 14/08/2025 (Foto: REUTERS/Jessica Koscielniak)
O julgamento que pode transformar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em réu por coação no Supremo Tribunal Federal (STF) começou nesta sexta-feira (14), mesmo sem qualquer manifestação do parlamentar no processo. A análise ocorre em meio à ausência contínua do deputado, que permanece nos Estados Unidos e tem sinalizado a aliados que não pretende participar de nenhuma etapa da ação.
Segundo a Folha de S.Paulo, o processo — aberto após denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) — segue tramitando apesar de Eduardo não ter constituído advogado e não ter feito contato com o defensor público designado para representá-lo.
A Defensoria Pública da União afirma que cumprirá sua função constitucional e atuará no caso, ainda que o acusado permaneça ausente. Ministros do Supremo avaliam que, caso a denúncia seja aceita, a instrução processual deve ocorrer no primeiro semestre de 2026, com expectativa de conclusão antes das eleições. Esse calendário, no entanto, depende da Câmara dos Deputados, que tem o poder de suspender a ação penal. Internamente, há uma leitura de que o parlamentar pode ser cassado por faltas, o que reduziria o impacto de eventual resistência da Casa.
A sessão iniciada nesta sexta-feira se limita a verificar se a denúncia da PGR apresenta elementos suficientes de autoria e materialidade para abertura do processo. O ministro Alexandre de Moraes, relator, é o primeiro a votar. Os demais integrantes da Primeira Turma têm até 25 de novembro para registrar seus votos no plenário virtual.
A denúncia atinge também o jornalista Paulo Figueiredo. Segundo a PGR, ambos teriam articulado ações junto ao governo dos Estados Unidos para interferir nos processos que envolvem Jair Bolsonaro (PL) no Brasil. O procurador-geral Paulo Gonet os acusa de coação, caracterizada por “usar de violência ou grave ameaça” com o objetivo de favorecer interesses próprios ou alheios.
O processo foi desmembrado: Moraes determinou que Eduardo fosse intimado por edital, sob o argumento de que ele dificultava o andamento da ação; Figueiredo, que vive nos EUA há mais de uma década, será notificado por cooperação jurídica internacional.
A PGR afirma que, desde que Jair Bolsonaro passou a ser investigado no Supremo, Eduardo e Figueiredo teriam coordenado iniciativas reiteradas para influenciar o desfecho dos processos. “O propósito foi o de livrar Jair Bolsonaro, e também o próprio Paulo Figueiredo, da condenação penal pelos crimes que ensejaram a abertura de procedimentos criminais”, escreveu Gonet na denúncia. “As ameaças foram reiteradas várias vezes, em diferentes ocasiões”, acrescentou.
O procurador sustenta ainda que a dupla tentou explorar sua proximidade com interlocutores do governo norte-americano, incluindo assessores e conselheiros do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. A intenção, segundo a acusação, era pressionar o STF a encerrar os processos sem condenações, além de influenciar o Congresso Nacional a aprovar um projeto de anistia que beneficiaria Jair Bolsonaro. A denúncia aponta que a estratégia incluía a promessa de obter sanções dos EUA contra autoridades brasileiras para constranger o andamento das investigações.
Um dos resultados dessas articulações, conforme reconhecido publicamente, foi a imposição de sanções financeiras pelo governo americano contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa.
Após a formalização da denúncia, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo divulgaram nota conjunta na qual classificaram a acusação como parte de uma “perseguição política em curso”, chamaram o processo de “fajuto” e se referiram à equipe de Paulo Gonet como “lacaios de Moraes”.
O defensor público Antonio Ezequiel Inácio Barbosa, responsável por apresentar a defesa técnica do parlamentar, argumenta ao Supremo que a denúncia não deveria avançar porque o crime de coação exige violência ou grave ameaça real. Segundo ele, “declarações sobre fatos políticos, ainda que críticas, ácidas ou contundentes, não constituem violência nem grave ameaça. Especificamente, esta última pressupõe promessa de mal futuro que dependa da vontade e do poder de quem ameaça. Se o agente não tem poder de concretizar o mal anunciado, não há grave ameaça, mas mera opinião ou prognóstico sobre eventos futuros”.
O STF segue agora para a fase de votos no plenário virtual, etapa que definirá se Eduardo Bolsonaro, mesmo ausente, se tornará réu na ação de coação.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo