Relatório do Ministério do Trabalho mostra que mulheres negras ganham até 53% menos que homens brancos, apesar de avanços pontuais
Mulheres ganham 21% menos que homens mesmo com avanço no mercado (Foto: José Paulo Lacerda/CNI) As mulheres continuam recebendo, em média, 21,2% menos que os homens nas 54 mil empresas brasileiras com cem ou mais funcionários. Os dados fazem parte do 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base na Lei da Igualdade Salarial, sancionada em 2023.
Segundo o levantamento, publicado pela Folha de S.Paulo, a remuneração média feminina é de R$ 3.908,76, enquanto os homens recebem R$ 4.958,43. A desigualdade é ainda mais acentuada quando se consideram cor e raça: mulheres negras (pretas e pardas) ganham, em média, 53,3% menos que homens brancos. A diferença equivale a uma renda de R$ 2.986,50 contra R$ 6.391,94.
O estudo analisou 19,4 milhões de vínculos trabalhistas, sendo 41,1% de mulheres e 58,9% de homens, a partir dos dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) enviados pelas empresas entre o segundo semestre de 2024 e o primeiro de 2025.
Apesar do aumento de 11% no número de mulheres contratadas, que passou de 7,2 milhões para 8 milhões, a diferença salarial entre os gêneros permanece praticamente estagnada desde o início da divulgação do relatório, há dois anos. “O avanço ainda é tímido”, afirma Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE.
Segundo Montagner, o relatório não tem caráter punitivo, mas funciona como um instrumento de diagnóstico. “Ele mostra que há algo a ser corrigido dentro da empresa”, explica. Quando são identificadas diferenças salariais entre homens e mulheres na mesma função, as companhias são obrigadas a preencher um questionário adicional para justificar os motivos.
Entre os principais fatores apontados pelas empresas para justificar desigualdades estão o tempo de experiência (78,7%), metas de produção (64,9%) e planos de cargos e salários (56,4%).
◈ Mais mulheres contratadas, mas com salários menores
O aumento da presença feminina no mercado de trabalho, sobretudo em cargos de entrada, ajuda a explicar a persistência da disparidade. “O ingresso de mais mulheres é positivo, mas como muitas entram com salários mais baixos, isso pesa na massa salarial final”, avalia Paula Montagner.
Ela destaca que a redução da desigualdade depende também de mudanças culturais dentro das empresas. “Hoje, gestores já convidam mulheres para cargos de liderança, e elas têm respondido positivamente. São mais assertivas e buscam qualificação”, afirma.
Mesmo com avanços discretos, há sinais de melhora. De 2023 a 2025, cresceu 21,1% o número de empresas com ao menos 10% de mulheres negras em seus quadros, subindo de 29 mil para 35 mil. Também aumentou em 6,4% o número de companhias com diferença salarial de até 5% entre homens e mulheres, chegando a 17,8 mil.
Em diversas ocupações, o rendimento feminino apresentou leve aumento: 1,5% em serviços administrativos, 2,1% em atividades operacionais, 2,7% em cargos de direção e gerência e 3,5% entre profissionais com nível superior.
◈ Disparidades regionais e políticas públicas
Os estados com maior desigualdade salarial são Paraná (28,5%), Rio de Janeiro (28,5%), Santa Catarina (27,9%), Mato Grosso (27,9%) e Espírito Santo (26,9%). Já as menores diferenças aparecem no Piauí (7,2%), Amapá (8,9%), Acre (9,1%), Ceará (9,9%), Pernambuco (10,4%) e Distrito Federal (9,3%).
Para a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, a simples inserção feminina no mercado de trabalho não é suficiente. “É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. Temos como compromisso intensificar medidas que resolvam essas distorções”, afirmou.
Márcia defende políticas estruturais que enfrentem as desigualdades de gênero, como a ampliação da licença-paternidade, o auxílio-creche e a redistribuição do trabalho doméstico, que ainda recai majoritariamente sobre as mulheres.
A Lei da Igualdade Salarial, sancionada em 3 de julho de 2023, determina que empresas com cem ou mais empregados adotem medidas para assegurar a igualdade de remuneração entre homens e mulheres e publiquem relatórios semestrais de transparência. A norma também estimula práticas de conciliação entre vida profissional e familiar, como licença parental estendida (presente em 44% das empresas) e auxílio-creche (oferecido por 21,9%).
Fonte: Brasil 247