Ministro diz ao 247 confiar na reeleição do presidente Lula, vê Tarcísio de Freitas focado em SP e destaca R$30 bi em investimentos em portos e aeroportos
(Foto: Silvio Costa Filho via Redes Sociais)
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, foi categórico, durante uma abrangente entrevista à jornalista Rachel Vargas, do Brasil 247, ao cravar:
"Eu tenho muita confiança que o presidente Lula (PT), em 2026, será reeleito presidente da República. Quem estiver apostando que o governo vai chegar fragilizado em 2026, vai errar".
Se tivesse de apostar, Costa Filho, do partido Republicanos, não colocaria suas fichas no governador de São Paulo e correligionário, Tarcísio de Freitas.
Segundo o ministro, o próprio governador—considerado um dos principais quadros da oposição com projeção nacional para 2026—tem sinalizado que sua preferência é disputar a reeleição em São Paulo.
Ao ser questionado sobre qual lado tomaria em uma eventual disputa entre o atual presidente e o governador, Costa Filho destacou que o cenário político ainda está em aberto—e que não seria surpresa se o governador acabasse mudando de ideia.
"Eu acho que tem muito tempo ainda, então acredito que a gente só vai ter uma leitura mais clara do processo no final desse ano agora", ponderou, antes de sublinhar sua confiança no governo do presidente Lula.
Nesse cenário, marcado também pela incerteza sobre o alinhamento geral do Republicanos ao governo do presidente Lula, Costa Filho assumiu protagonismo e passou a exercer um papel estratégico na articulação federal. À frente de Portos e Aeroportos, ele coordenou investimentos em infraestrutura portuária e aeroportuária que ultrapassaram R$ 30 bilhões apenas em 2024.
Na entrevista, o ministro destacou uma série de conquistas de sua gestão: "O governo do presidente Lula está fazendo o maior volume de concessões do setor portuário da história do Brasil".
"Temos o privilégio de poder entregar ao Brasil, em quatro anos, em torno de 60 leilões, ou seja, é o maior volume de leilões da história do Brasil", acrescentou Costa Filho.
De todo modo, o mais significativo é que até mesmo a própria direita precisa reconhecer—e começar a admitir—a relevância das conquistas do governo Lula, defendeu o ministro.
"Nós precisamos preservar as conquistas do presidente Lula, as conquistas sociais, nós precisamos avançar na agenda econômica brasileira", disse.
Leia a entrevista na íntegra:
Rachel Vargas (RV): O senhor defende as concessões como forma de impulsionar a infraestrutura e movimentar a economia do país. Esse modelo tem sido eficiente?
Silvio Costa Filho (SCF): É importante registrar que o governo do presidente Lula está fazendo o maior volume de concessões do setor portuário da história do Brasil. Para se ter uma ideia, a Lei dos Portos foi criada em 2013. De 2013 até 2022 foram realizados no Brasil 41 leilões, com investimentos na ordem de R$6 bilhões. Temos o privilégio de poder entregar ao Brasil, em quatro anos, em torno de 60 leilões, ou seja, é o maior volume de leilões da história do Brasil, com um volume de investimentos na ordem de mais de R$30 bilhões.
RV: Qual o reflexo desses investimentos no escoamento nacional?
SCF: Na década de 80 e 90, o Porto de Santos detinha mais de 50% das operações portuárias no Brasil. Agora, a gente está trabalhando para que possa descentralizar o desenvolvimento portuário brasileiro. Com investimento nos portos de Itaqui (MA), de Amapá, de Cabedelo (PB), no porto do Suape (PE), Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina. Então, a gente está trabalhando para além de fazermos amplos investimentos nos portos públicos, a gente também avançar em grandes investimentos nos portos privados. O setor portuário brasileiro está vivendo um excelente momento, com crescimento, em média, nesses últimos dois anos de 5%, e o setor de contêineres teve crescimento no ano de 2024 de 18%. Para você ter uma ideia, em 4 anos do governo anterior, foram investidos em torno de R$8 bilhões no Brasil. Nos dois anos do presidente Lula, já são mais de R$22 bilhões, entre investimentos públicos e investimentos privados.
RV: E como tem sido a receptividade dos investidores estrangeiros?
SCF: O mundo hoje quer produzir, o mundo quer projetos e o mundo quer investir com sustentabilidade. E o Brasil tem, hoje, bons projetos. O Brasil acabou de aprovar a reforma tributária, que dá segurança jurídica para quem quer prover investimentos no Brasil e nós temos uma ampla agenda na sustentabilidade. Ou seja, a gente pode fazer grandes investimentos, o mundo pode fazer no Brasil. Tanto é que a procura de investidores nesses últimos três meses no Brasil cresceu consideravelmente pelos países emergentes. O Brasil passou a ser o país mais procurado por investidores internacionais.
RV: O senhor fez roadshow na Europa para atrair investidores. Dará continuidade a essa agenda?
SCF: Sim. A nossa ideia é que a gente faça, possivelmente, no dia 5 de junho, um grande roadshow internacional sobre o Túnel de Santos. Nós vamos chamar muitos investidores do Brasil, de fora do Brasil, e apresentar nossa carteira de investimentos para esses próximos dois anos do governo Lula, que vai desde o Tecon Santos 10, do Túnel de Santos, como também outros leilões que nós queremos fazer por todo o Brasil na área de graneis sólidos e graneis líquidos.
RV: O Brasil registrou aumento no fluxo de passageiros nos aeroportos, mas ainda enfrenta o problema do alto custo das passagens. O que está sendo feito para solucionar isso?
SCF: Após a pandemia, as companhias aéreas no mundo tiveram problemas e naturalmente as brasileiras ficaram num processo de endividamento porque não houve atenção do governo passado. Nós criamos o FENAC, um programa de financiamento para as companhias aéreas pegarem recursos através do BNDES. Então, a gente está num processo de estruturação do setor, que vai desde crédito, como também o estímulo à compra de aeronaves brasileiras, da Embraer. Porque eu acho que isso é um gesto ao Brasil e fortalece a agenda de comércio local.
Ou seja, é uma prioridade do nosso governo fortalecer a aviação brasileira. E, naturalmente, a gente tem trabalhado para baixar o preço da passagem. Se você pegar o preço da passagem no ano de 2024 de maneira globalizada, houve uma queda no preço da passagem no Brasil, em torno de quase 4%. Então houve uma queda no valor globalizado. Mas dentro do possível, com redução da judicialização, com agenda de crédito, com redução do querosene de aviação a gente tende a ter uma redução no preço das passagens.
RV: O Republicanos tem conversado com o MDB sobre uma Federação partidária. O senhor apoia?
SCF: Eu sou um defensor da federação com o MDB. Existe, sim, a possibilidade de uma possível federação entre esses dois partidos. O Marcos Pereira [presidente do Republicanos] e o Baleia Rossi [presidente do MDB] estão conversando bem para que possa chegar a uma construção coletiva e ao final esse bloco ter aproximadamente 100 parlamentares para ajudar na governabilidade e nas pautas importantes do interesse do Brasil. Entretanto, está cedo esse processo, mas eu penso que há hoje um sentimento positivo.
RV: Ocorrendo a Federação, qual posição o grupo adotará em 2026?
SCF: O partido vai deixar para discutir isso em 2026, na hora certa. Mas eu estarei ao lado do presidente Lula e o partido sabe disso. Independentemente da posição que o partido vier a tomar, porque entendo que o presidente Lula para o nosso país é a melhor opção. É alguém que deu estabilidade ao Brasil, que retomou a geração de emprego e renda, retomou os investimentos públicos e privados. Nós estamos tendo nesses últimos dois anos um crescimento em mais de 3% do PIB, o menor desemprego da história, crescimento na renda do trabalhador, inflação controlada, retomada de programas importantes. Então, a gente está vivendo um momento muito positivo para o Brasil. É verdade que a gente precisa ter um olhar para a agenda fiscal? É. Mas se você pegar hoje todos os indicadores da economia brasileira, eles são positivos e a gente está vendo uma melhoria na qualidade de vida da população. Agora é preciso que o governo cada vez mais se conecte com a sociedade brasileira, é preciso que o governo possa mostrar o que está sendo feito, porque há hoje um gap entre o que está sendo feito no governo federal e o que parte da sociedade brasileira sabe, e o governo precisa mostrar isso.
RV: Mas com tantos dados positivos, por que o governo ainda enfrenta queda na avaliação?
SCF: Eu acho que o governo precisa melhorar cada vez mais a comunicação, acho que começou a fazer isso, acho que o governo precisa ampliar a sua comunicação no digital, porque a gente não pode fazer uma comunicação analógica, a gente tem que ir para o digital, porque hoje essa juventude brasileira, toda ela, tem um smartphone e ela hoje utiliza muito mais as redes sociais do que a própria televisão. E é onde ela consome muita desinformação também, né? Então, a gente tem dois desafios. Primeiro, ampliar a comunicação no digital para fazer com que o governo chegue na casa das pessoas e, segundo, que a sociedade possa refletir efetivamente sobre o que está sendo feito.
RV: Mas a avaliação positiva não depende só da comunicação, diz respeito também sobre a economia.
SCF: Exatamente. Eu acho que a economia está indo bem, mas a gente precisa dialogar mais com a agenda do ajuste fiscal, porque isso reduz o dólar, reduz juros futuros e dá mais previsibilidade, como você sabe, para quem quer prover investimentos no Brasil. Eu acho que isso é importante, está sendo tratado, mas ao mesmo tempo você não pode fazer como Milei fez na Argentina. Você tem uma melhoria fiscal, mas em detrimento a milhões de pessoas passando fome, então a gente não pode fazer esse modelo. O modelo tem que ser crescer com sustentabilidade, mas sobretudo cuidando das pessoas, cuidando da população brasileira. E é isso que o governo está fazendo. Ele está tentando equilibrar entre a agenda econômica, a agenda fiscal e, ao mesmo tempo, a melhoria na qualidade de vida da população.
RV: O senhor acha que o presidente Hugo Motta deveria adotar uma agenda própria?
SCF: Olha, eu acho que o presidente Hugo tem trabalhado fortemente. Ele é alguém que dialoga com esquerda, com a direita, com o centro, acho que está indo muito bem à frente da presidência da Câmara. Ele tem dito em todo canto do seu desprendimento de querer ajudar o governo, que significa ajudar o Brasil e naturalmente tratar a sua agenda congressual de maneira democrática e participativa. Ele tem um olhar para a agenda econômica, parece que ele está estudando junto ao governo algumas ações econômicas que poderiam avançar dentro do congresso e, automaticamente, ele quer avançar, pelo que eu tenho conversado de votar matérias de interesse da população brasileira.
RV: O senhor tem sido um interlocutor com o segmento evangélico, certo? Como é que tem sido esse diálogo, tendo em vista a possível reeleição do presidente Lula?
SCF: Olha, eu acho que o presidente precisa avançar mais no diálogo com o segmento evangélico. Acho que o governo, hoje, não colocou isso na ordem do dia como uma prioridade para ampliar diálogo. Eu acho que o governo precisa avançar mais no diálogo com os líderes evangélicos, porque, na minha opinião, se tem um governo que cuida das famílias brasileiras, é o governo do presidente Lula. Na hora que você está gerando um emprego para um filho, você está cuidando da família brasileira. Na hora que você está dando um Bolsa Família para uma mãe do sertão de Pernambuco, por exemplo, que precisa ter um apoio, você está cuidando da família brasileira. E você não vê nenhuma pauta no governo, nesses últimos anos, de costumes. Tanto é que o segmento evangélico votou no presidente Lula em 2002 e na reeleição dele em 2006, e também estiveram juntos na própria eleição da presidenta Dilma.
RV: E por falar em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do seu partido, é um potencial nome da direita. Como será sua posição diante de uma eventual disputa entre os dois?
SCF: Eu acho que o governador Tarcísio tende a ser candidato à reeleição de São Paulo. Historicamente, todos os governadores que deixaram o estado de São Paulo para disputar a eleição terminaram não ganhando eleição. E Tarcísio é alguém que tem imprimido uma boa gestão, tem feito um trabalho exitoso no estado de São Paulo e acho que o caminho natural dele, todas as vezes que eu estive com ele, ele coloca nessa direção, de disputar a reeleição no estado de São Paulo, é o foco dele. Entretanto, nós temos que aguardar como vai estar o final do ano, as federações, como vai estar o governo do presidente Lula, como é que vai estar o cenário da direita, como é que vai estar a gestão dos governos estaduais. Eu acho que tem muito tempo ainda, então acredito que a gente só vai ter uma leitura mais clara do processo no final desse ano agora. Mas eu tenho muita confiança que o presidente Lula, em 2026, será reeleito presidente da República. Quem estiver apostando que o governo vai chegar fragilizado em 2026, vai errar.
RV: Nesse cenário, qual seria o nome mais forte da direita para o senhor?
SCF: Eu acho que, naturalmente, qualquer candidato da direita tende a reunir 30%, 35% dos votos. Entretanto, nós temos que aguardar como vai ser o ex-presidente Bolsonaro, se ele é candidato, ou se ele vai fazer uma opção pelo familismo, ou ele vai tentar buscar um candidato com alguma experiência administrativa na medida que ele venha a não ser candidato. Eu acho que a gente tem que esperar para fazer qualquer avaliação. Entretanto, o que a gente precisa nesse momento, e vejo que a direita também não está fazendo esse debate, é o debate de conteúdo programático para o Brasil. O que é que nós queremos ser como nação nesses próximos dez anos? Nós precisamos preservar as conquistas do presidente Lula, as conquistas sociais, e nós precisamos avançar na agenda econômica brasileira. Então, eu acho que a sociedade brasileira hoje nos pede para que seja feita uma reflexão sobre onde nós estamos e aonde nós queremos chegar. Mas a gente só vai conseguir avançar na agenda socioeconômica do Brasil se a própria classe política também avançar numa agenda programática. Acho que falta isso.
RV: Qual a opinião do senhor sobre a anistia?
SCF: Inegavelmente houve um movimento para se dar um golpe e, naturalmente, teve um núcleo estratégico que pensou nisso. Está cada vez mais claro nos autos. Essa é uma leitura que tem que ser feita pelo poder Judiciário.
Entretanto, tem muitos que foram, em algum momento, usados como massa de manobra, então tem que ser rediscutido pelo próprio Supremo, questões como algumas tipificações da pena, ou seja, a dosimetria em relação a alguns que foram para esse ato antidemocrático [de 8 de janeiro de 2023].
RV: Pelo Supremo [Tribunal Federal], não pelo Congresso?
SCF: Pelo Supremo. O caminho nesse momento é avançar por meio do fortalecimento do Judiciário. Lá, sim, é o âmbito que cabe faze essa reflexão. Ao final, a decisão tem que partir do Judiciário. A solução e automaticamente a decisão.
RV: E os seus planos para 2026? Senado?
SCF: Na hora certa nós conversaremos com o presidente Lula. Nós tomaremos a decisão após a conversa com o presidente. Eu estou disposto a ficar no Ministério, estou disposto a ser candidato à reeleição de deputado federal, mas hoje o projeto é disputar o Senado.
E se o cavalo passar selado, eu monto até sem sela. Hoje nós temos um alinhamento político com o prefeito [de Recife] João Campos, que vai disputar o governo de Pernambuco. Na eleição majoritária, Tancredo Neves já dizia, "é muito mais destino do que projeto pessoal", e a gente vai trabalhar para construir as condições naturalmente conversando com o presidente Lula para ajudá-lo nos próximos anos.
Edição—Leonardo Sobreira
Fonte: Brasil 247