Governador de SP defende estratégia diante da tarifa de 50% imposta pelos EUA e se aproxima de empresas e políticos estadunidenses
Tarcísio de Freitas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) Durante reunião com empresários nesta terça-feira (15), no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que pretende adotar uma estratégia de “relação paradiplomática” com os Estados Unidos. A iniciativa prevê diálogo direto com governos estaduais norte-americanos e senadores daquele país para minimizar os efeitos da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Segundo a Folha de S.Paulo, o governador afirmou que “não há disputa” com o governo federal, mas defendeu que São Paulo deve agir “até onde for possível” para proteger sua economia dos impactos da medida anunciada por Trump. A chamada paradiplomacia envolve negociações internacionais conduzidas por entes subnacionais, como estados, e não pelo governo central.
O encontro ocorreu na manhã desta terça-feira e contou com a presença de executivos de grandes empresas brasileiras, como Embraer, Cutrale, Minerva, Usiminas e representantes dos setores de café e aço. Rubens Ometto, do Grupo Cosan, também participou. O governo dos Estados Unidos foi representado pelo encarregado de negócios Gabriel Escobar e pelo cônsul-geral interino, Benjamin Wohlauer — atualmente, os EUA estão sem embaixador no Brasil, e Escobar é o principal representante da embaixada.
Além do governador, participaram do encontro o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Jorge Lima, e o chefe do escritório do governo paulista em Brasília, José Vicente Santini — ex-secretário-executivo da Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro (PL), demitido após usar um avião da FAB para viajar de Davos à Índia. Ao todo, 18 pessoas acompanharam a reunião.
Durante sua fala, Jorge Lima destacou que o núcleo de decisões de Trump “é muito restrito” e que seria necessário pressionar os interlocutores americanos para mostrar que a medida trará prejuízos não apenas ao Brasil, mas também aos próprios EUA. Ele mencionou que essa abordagem já foi adotada por outros países e tem surtido efeito.
Ainda de acordo com a reportagem, a reunião buscou sinalizar moderação e capacidade de articulação por parte de Tarcísio, evitando confrontos com o governo Lula. Uma das maiores preocupações é o impacto da tarifa sobre o setor de aviação, que liderou as exportações de São Paulo para os EUA em 2024, com R$ 2,2 bilhões em vendas. O segundo maior segmento foi o de petróleo, seguido por suco de laranja, carne bovina, tratores e pás carregadeiras. Somente o setor agropecuário paulista exportou US$ 1,9 bilhão para os EUA no primeiro semestre deste ano — o equivalente a 30% do total enviado ao mercado americano.
Enquanto o governo paulista articula sua própria reação, o governo federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também iniciou esforços para enfrentar a crise. No domingo (13), Lula determinou a criação de um comitê interministerial para ouvir os setores mais impactados pela sobretaxa de Trump. O colegiado será presidido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e contará com os ministros Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda).
De acordo com Alckmin, o grupo iniciou nesta terça reuniões com representantes das indústrias mais expostas ao mercado americano, como as de alumínio, celulose, calçados e autopeças. À tarde, foi a vez dos setores do agronegócio, como suco de laranja, carnes, frutas, pescados e mel. “Vamos conversar também com empresas americanas e com entidades de comércio bilateral, como a Amcham [Câmara Americana de Comércio para o Brasil]”, anunciou o vice-presidente.
A movimentação de Tarcísio desagradou o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em declaração à Folha de S.Paulo, Eduardo criticou a iniciativa de Tarcísio: “É um desrespeito comigo”. Segundo ele, a aproximação com a embaixada dos EUA deveria ter passado por sua interlocução.
“Nós já provamos que somos mais efetivos até do que o próprio Itamaraty. O filho do presidente, exilado nos Estados Unidos. Queria buscar uma alternativa lateral. É um desrespeito comigo. Mas eu não estou buscando convencimento da população, eu estou buscando pressionar o Moraes”, declarou, referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Eduardo afirmou ainda que não se arrepende de ter defendido sanções dos EUA contra o Brasil, mesmo que isso possa beneficiar Lula. Ele condicionou seu retorno ao país à punição do ministro do STF pelo governo estadunidense.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo