Presidente do Senado articula sessão relâmpago e contabiliza maioria para barrar indicado de Lula ao STF
Jorge Messias e Davi Alcolumbre (Foto: José Cruz/Agência Brasil | Waldemir Barreto/Agência Senado) O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), elevou a pressão sobre a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal e disse a aliados ter 60 votos para derrubar o nome escolhido pelo presidente Lula. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo. Segundo o próprio Alcolumbre, mesmo que o governo consiga mobilizar votos suficientes, ele pretende encurtar o tempo de votação para impedir que Messias alcance o mínimo de 41 apoios necessários.
A movimentação amplia a ofensiva do presidente do Senado contra o indicado de Lula, cuja preferência sempre foi Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Senadores ouvidos pela reportagem afirmam que os 60 votos alegados por Alcolumbre podem ser exagero —uma forma de elevar o custo de uma eventual negociação—, mas reconhecem que há maioria contrária ao nome de Messias.
☉ Estratégia de sessão relâmpago e disputa por quórum
Alcolumbre afirmou a dois aliados que o governo terá de “apostar uma corrida” para garantir que 41 senadores registrem o voto antes que ele encerre a sessão. O comportamento difere do adotado na votação de autoridades ocorrida na semana anterior, quando o presidente do Senado esperou mais de 70 parlamentares votarem antes de proclamar o resultado.
Para assumir uma cadeira no STF, o indicado precisa de pelo menos 41 votos favoráveis entre os 81 senadores. Qualquer número inferior representa rejeição —algo que não acontece desde o fim do século 19, período em que cinco indicações de Floriano Peixoto foram derrotadas.
A estratégia de acelerar o processo é vista por congressistas como um recado claro do desgaste entre Alcolumbre e o governo federal.
☉ Ambiente político tenso após votações recentes
A votação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, levou apenas 16 minutos e terminou com placar apertado: 45 votos a favor e 26 contra. A margem mínima sugeriu dificuldades extras para Messias, embora o Palácio do Planalto atribua o resultado à ausência de quatro governistas.
Na mesma sessão, Alcolumbre insistiu repetidas vezes para que os senadores permanecessem em plenário: “Tem que todo mundo ficar. Se alguém quiser viajar, mude para amanhã”, afirmou na ocasião.
Para a sabatina de Messias, porém, o presidente do Senado adota postura oposta. Ele tem evitado encontrar o indicado e marcou a análise na Comissão de Constituição e Justiça para 10 de dezembro, com votação no mesmo dia —prazo considerado curto pelos governistas.
☉ Conflito político e tentativas de negociação
Segundo a Folha, Alcolumbre tem dito a colegas que, apesar de ser prerrogativa do presidente da República indicar ministros do STF, cabe ao Senado confirmar ou não a escolha —e que este seria o momento para reafirmar o poder do Legislativo.
Aliados do governo avaliam que Lula deve conversar diretamente com Alcolumbre. Há, no Senado, espaços potenciais de negociação envolvendo cargos estratégicos, como a presidência do Cade, da ANA e posições abertas na CVM. O Ministério da Fazenda, contudo, tenta blindar essas indicações, defendendo que sejam técnicas e não parte de acordos políticos.
A vaga no STF, por sua vez, é tratada pelo governo como inegociável, já que abrir mão da indicação significaria perder uma prerrogativa presidencial essencial.
☉ Messias busca apoio e tenta se reaproximar de Alcolumbre
Jorge Messias tem procurado senadores por telefone e presencialmente. Ele ouviu de vários parlamentares que sua situação é “delicada” devido ao conflito entre o presidente do Senado e o governo.
Para tentar reduzir resistências, Messias afirma que não deveria ser punido por uma crise que não protagoniza e lembra que mantinha boa relação com Alcolumbre quando atuou como assessor do Senado, no gabinete de Jaques Wagner (PT-BA). A ruptura entre Wagner e Alcolumbre contribuiu para o distanciamento atual.
Em movimento de conciliação, Messias divulgou na segunda-feira (24) uma nota pública elogiando Alcolumbre. A reação foi negativa. O presidente do Senado respondeu com um texto seco, sem citar o indicado de Lula pelo nome, o que aumentou a percepção de desgaste.
☉ Governo tenta ganhar tempo diante de resistência sólida
Governistas discutem recorrer a mecanismos regimentais para adiar a sabatina e contam com o presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), para ampliar o prazo. O Palácio do Planalto, que teve no Senado sua principal base de sustentação ao longo do mandato atual, reconhece que a indicação de Messias abriu uma crise institucional.
A disputa agora gira em torno de dois movimentos simultâneos: o governo tenta consolidar votos antes da sessão, enquanto Alcolumbre trabalha para manter a maioria contrária e acelerar o processo. O desfecho dependerá do quórum e da velocidade com que os senadores registrarem seus votos no dia da decisão.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo