
Deputados do PL que elogiaram a “firmeza” da polícia na megaoperação que deixou mais de 120 mortos no Rio de Janeiro, na terça-feira (28), mostraram outro padrão de rigor quando o assunto foi o combate aos criminosos do colarinho branco. Na Câmara, os mesmos parlamentares votaram contra o pedido de urgência para um projeto que aperta o cerco aos grandes sonegadores — empresários que devem bilhões aos cofres públicos e corroem a arrecadação dos estados.
Dos 50 deputados que rejeitaram a urgência, 35 pertencem ao PL, partido do governador fluminense Cláudio Castro. Entre eles está o general Eduardo Pazuello (PL-RJ), conhecido pelo discurso implacável contra o crime. O discurso, no entanto, desaparece quando os infratores são empresários influentes. O projeto atingiria devedores contumazes de tributos, incluindo grandes grupos que há anos acumulam dívidas bilionárias sem punição efetiva.
A Refit, antiga Refinaria de Manguinhos, é um dos principais exemplos. A empresa deve cerca de R$ 13 bilhões ao estado de São Paulo e outros R$ 9 bilhões ao Rio de Janeiro. O tema interessa diretamente aos governadores Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas (Republicanos). Enquanto Tarcísio foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) contestar decisões do Tribunal de Justiça do Rio que favoreciam a refinaria, Castro seguiu na direção oposta: entrou na Justiça pedindo a reabertura da empresa, em ação assinada pelo procurador-geral do Estado, Renan Miguel Saad.
A contradição é evidente. Parte da bancada bolsonarista defende operações policiais com saldo recorde de mortos nas favelas, sob o argumento de que “bandido bom é bandido morto”, mas poupa os que saqueiam o Estado por meio da sonegação. O resultado é um rigor seletivo que atinge pobres e pretos das comunidades, enquanto empresários endividados e aliados políticos seguem protegidos pela condescendência de quem confunde justiça com vingança.
Fonte: DCM
 
 

