sexta-feira, 20 de junho de 2025

Membro da ‘Abin paralela’ promoveu reunião para ‘virar eleição’ de 2022, diz PF

Segundo investigações, Alan Oleskovicz reuniu subordinados para discutir ações com potencial de impacto político para beneficiar campanha de Bolsonaro

       (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Trocas de mensagens entre servidores e um depoimento colhido pela Polícia Federal (PF) indicam que Alan Oleskovicz, coordenador-geral de Operações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em 2022, sugeriu uma operação que poderia “virar a eleição” a favor do então presidente Jair Bolsonaro (PL). A denúncia faz parte do inquérito da chamada “Abin paralela” e consta no relatório da PF, tornado público pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo reportagem da Folha de S.Paulo.

As mensagens obtidas pelos investigadores mostram que, em 3 de agosto de 2022 — dois meses antes do primeiro turno das eleições —, Oleskovicz reuniu três servidores da área de contrainteligência para discutir ações com potencial de impacto político. Um dos agentes relatou o encontro a um colega por meio de aplicativo de mensagens: “[Oleskovicz] chamou 3 da equipe de CI [contrainteligência] do Doint [Departamento de Operações de Inteligência] (do último concurso) e ficou elucubrando uma operação 'que poderia virar a eleição'”.

Na ocasião, Bolsonaro aparecia atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas. A última sondagem do Datafolha antes da reunião, divulgada em 28 de julho de 2022, mostrava Lula com 47% das intenções de voto, contra 29% do então presidente.

Ainda segundo o agente, os três servidores chamados por Oleskovicz procuraram-no após a reunião para relatar o episódio, considerado grave. Em resposta à denúncia do colega, o interlocutor afirmou: “Cara, é isso. Não é à toa que [ele] é coordenador-geral. Não tenho nada contra bolsonaristas, mas ele talvez seja tipo aqueles da seita. É evangélico, conservador... Aí afunda a agência inteira com ele”.

As suspeitas ganharam corpo com um depoimento prestado por outro servidor à PF em dezembro de 2023. O agente afirmou ter ouvido o relato do caso e disse que a equipe de análise ficou “horrorizada” com a proposta. De acordo com o depoimento, Oleskovicz teria defendido, em reunião com outros departamentos, que “o trabalho de operações seria importante para ajudar na campanha do governo”.

Alan Oleskovicz foi indiciado por peculato e prevaricação. Também foram indiciados o ex-diretor da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o sucessor de Ramagem no comando da agência, Victor Carneiro. Procurado pela Folha, Oleskovicz não respondeu até a publicação da matéria.

Ligado politicamente ao ex-diretor Ramagem, Oleskovicz foi diretor substituto do Departamento de Operações e detinha posição estratégica na estrutura da agência. Ramagem, por sua vez, tem criticado a investigação da PF e atribui as conclusões a uma “rixa política”.

O episódio reacende suspeitas em torno de uma declaração do general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), feita em julho de 2022. Em reunião ministerial, Heleno mencionou a ideia de “montar um esquema para acompanhar o que os dois lados” estavam fazendo na campanha, sugerindo uma possível infiltração de agentes da Abin. Bolsonaro, ao ouvir a proposta, interrompeu o general e sugeriu tratar o tema em conversa reservada.

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal no último dia 10, Heleno negou a viabilidade da proposta. Disse que “não é tecnicamente possível fazer a infiltração de agentes a curto prazo” e que sua intenção era apenas evitar “ações violentas contra os candidatos”.

Após a saída de Ramagem da Abin, em abril de 2022, para disputar as eleições, a chefia da agência foi assumida por Victor Carneiro, então superintendente da Abin no Rio de Janeiro e também ligado ao grupo político de Bolsonaro.

Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo

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