“É normal que as pessoas pensem que foi no governo Lula, porque fomos nós que descobrimos”, avaliou o presidente, responsabilizando Bolsonaro
As denúncias de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) provocaram desgaste na imagem do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao podcast “Mano a Mano”, conduzido por Mano Brown e Semayat Oliveira, Lula reconheceu que os escândalos contribuíram para a queda de sua popularidade, apontada por pesquisas recentes. A conversa foi gravada no último domingo (15) no Palácio da Alvorada e publicada na madrugada desta quinta-feira (19), informa o Valor Econômico.
“Eu sempre acho que pesquisa é uma fotografia do momento”, afirmou Lula, ao comentar os números desfavoráveis. “Até o segundo semestre deste ano, eu dizia para as pessoas: não há por que ainda terem a afirmação de que o governo está indo muito bem, porque a gente não está entregando as coisas que nós temos que entregar. Este é o ano da colheita. Nós vamos entregar".
Nos últimos dias, os institutos Datafolha e Ipsos-Ipec divulgaram levantamentos apontando a insatisfação crescente com a gestão federal. Segundo o Datafolha, 40% consideram o governo ruim ou péssimo, enquanto 28% o avaliam como ótimo ou bom. A pesquisa Ipsos-Ipec mostra cenário semelhante: 43% de avaliação negativa e apenas 25% positiva.
Lula associou diretamente as denúncias no INSS ao impacto nos índices de aprovação. Ele enfatizou que as irregularidades vieram à tona graças à atuação da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal, que detectaram um esquema envolvendo entidades criadas durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
“Quando sai uma denúncia de corrupção no meu governo, é normal que, no momento, as pessoas pensem que foi no governo Lula, porque fomos nós que descobrimos. Então, cabe a nós dizer em alto e bom som por que aconteceu aquela corrupção, quem foi que fez aquilo, quem é a quadrilha que estava por trás daquilo”, afirmou o presidente. “Eles sempre vão dizer que fomos nós, e nós sempre vamos dizer a verdade".
Lula detalhou o funcionamento do esquema, revelando que os aposentados tinham seus nomes utilizados como sócios fraudulentos e eram lesados com descontos indevidos. “Eles facilitaram para que os caras pudessem cobrar dos aposentados, colocar seus nomes como se fossem os sócios, mandaram o nome do aposentado como se fosse para o INSS, o INSS mandava para o Serpro e o Serpro autorizava o pagamento de um desconto". Segundo ele, as investigações continuam e “certamente” os responsáveis serão presos.
Escolha de Alckmin e defesa da governabilidade - Questionado sobre a escolha de Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente, Lula avaliou a decisão como estratégica, tanto para o equilíbrio político quanto para a estabilidade institucional. “Eu, sinceramente, acho que fiz um acerto em trazer o Alckmin para ser vice, porque senão, poderia trazer outra pessoa que, como o [Michel] Temer, desse um golpe na Dilma [Rousseff]. Ele não é esse tipo de gente”, disse o petista.
Ele também elogiou o desempenho do atual ministro da Indústria, destacando a atuação de Alckmin na reativação do setor produtivo. “Ele tem feito um trabalho extraordinário para reaquecer a indústria brasileira".
Comparação com Gaza e crítica ao governo Bolsonaro - Durante a entrevista, Lula voltou a criticar a herança deixada por Jair Bolsonaro, comparando a situação do país ao cenário de devastação na Faixa de Gaza. “De vez em quando, olho para a destruição na Faixa de Gaza e fico imaginando o Brasil que encontramos”, disse o presidente. Ele afirmou que encontrou uma estrutura estatal desmantelada: “aqui a gente não tinha mais Ministério do Trabalho, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos, da Cultura. Tinha sido uma destruição proposital".
O presidente reforçou que Bolsonaro atuava contra instituições fundamentais para a democracia: “o presidente não gostava de nenhum ministério que pudesse ser uma alavanca de organização da sociedade".
2026 no horizonte - Indagado sobre uma possível candidatura à reeleição, Lula disse que ainda é cedo para bater o martelo, mas deixou claro que, caso decida concorrer, será para vencer. “Eu não sou um candidato meu, se eu estiver no momento eleitoral com a saúde que estou hoje, com a vontade que estou hoje, e com a disposição que eu tenho, eu serei candidato a ganhar as eleições".
Por fim, mandou um recado direto aos adversários: “a extrema direita está procurando candidato, eu vejo todo dia nomes, não tem problema, pode procurar quanto quiser: se eu for candidato é para ganhar as eleições. Se depender de meu esforço, a extrema direita não volta a governar este país".
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal Valor Econômico
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