Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS", é apontado como operador de um esquema bilionário de fraudes contra aposentados
Wolney Queiroz em reunião com ex-dirigentes do INSS suspeitos de corrupção, em janeiro de 2023 (Foto: Reprodução)
O atual ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT), participou, no início do governo Lula (PT), de uma reunião com Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS", apontado pela Polícia Federal como operador de um esquema bilionário de fraudes contra aposentados. O encontro ocorreu em 12 de janeiro de 2023, no próprio Ministério da Previdência, e contou ainda com a presença de ex-dirigentes do INSS hoje investigados por suspeita de recebimento de propina, informa o Metrópoles.
Na época, Wolney ainda era deputado federal e havia sido convidado para assumir a secretaria-executiva da pasta, cargo que ocuparia oficialmente apenas no mês seguinte. Ele viria a se tornar o titular do ministério após a saída de Carlos Lupi (PDT), que pediu demissão em maio de 2025, em meio aos desdobramentos da Operação Sem Desconto da PF. A operação expôs um esquema que teria movimentado R$ 6,3 bilhões desde 2019, por meio de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas.
A reunião não aparece na agenda oficial dos participantes, tampouco no sistema de transparência pública. Além do lobista, estiveram presentes os então diretores do INSS André Fidelis (Benefícios), Alexandre Guimarães (Governança) e o procurador-geral do instituto, Virgílio Oliveira Filho — este último afastado por decisão judicial em abril. Todos são alvos da PF por suspeita de integrarem o núcleo favorecido por repasses ilegais.
Em nota, Wolney afirmou que a reunião foi organizada por Virgílio Oliveira Filho, que teria montado o grupo de participantes “sem anuência prévia” do então deputado. “A agenda foi organizada e conduzida pelo então consultor jurídico do ministério, Dr. Virgílio Oliveira Filho, com o intuito de apresentar ao futuro secretário-executivo um panorama técnico da pasta no âmbito do processo de transição”, afirmou. O ministro alegou ainda que o encontro foi divulgado em suas redes sociais, “o que reforça a boa-fé no encontro e no que diz respeito a todos os presentes”.
As investigações apontam que os participantes do encontro teriam recebido valores expressivos de empresas ligadas ao lobista. O “Careca do INSS” repassou, entre 2023 e 2024, um total de R$ 9,3 milhões. Já Virgílio Oliveira Filho teria recebido R$ 11,9 milhões, sendo R$ 7,5 milhões diretamente do lobista. André Fidelis foi destinatário de R$ 5,1 milhões, dos quais R$ 1,46 milhão foram pagos por Antunes. Alexandre Guimarães, por sua vez, teria embolsado R$ 313,2 mil. Uma das evidências que chamou atenção da PF foi a doação de um Porsche, avaliado em R$ 500 mil, para a esposa do ex-procurador Virgílio.
A fotografia do encontro, publicada por Wolney à época, mostra também a presença de outros dois nomes ligados à estrutura do INSS: Rogério Soares de Sousa, que viria a ser nomeado superintendente no Nordeste em março de 2023, e Marcos de Brito Campos Júnior, que assumiu em outubro daquele ano a Diretoria de Administração e Finanças do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Ainda segundo apuração da coluna de Tácio Lorran, também no Metrópoles, o lobista teve outra reunião fora da agenda oficial com o hoje secretário-executivo Adroaldo da Cunha Portal, sucessor de Wolney, em março de 2023. Na ocasião, o "Careca do INSS" estava acompanhado de representantes de correspondentes bancários que atuam com crédito consignado.
Em 15 de maio de 2025, em audiência no Senado, Wolney foi confrontado sobre suas relações com o lobista e outros empresários investigados. Em resposta, o ministro declarou: “olha, eu posso ter, eventualmente, me encontrado com alguns deles, não me lembro de tê-los recebido, mas eventualmente posso ter recebido. O nosso ministério recebe dezenas de pessoas, e eu não tenho nenhuma lembrança de conhecê-los, nem tenho nenhuma relação com eles. Relação com eles, de certeza, eu posso garantir que não tenho qualquer relação”.
Leia, na íntegra, a nota de Wolney Queiroz: “a reunião mencionada ocorreu em 12 de janeiro de 2023. Wolney Queiroz ainda era deputado federal – ele havia sido convidado a assumir a Secretaria-Executiva do Ministério da Previdência Social, mas só tomou posse em fevereiro, motivo pelo qual o compromisso não consta no E-Agendas.
A agenda foi organizada e conduzida pelo então consultor jurídico do ministério, Dr. Virgílio Oliveira Filho, com o intuito de apresentar ao futuro secretário-executivo um panorama técnico da pasta no âmbito do processo de transição. O grupo foi montado por Oliveira Filho, sem anuência prévia de Wolney sobre os participantes. A atividade foi registrada, à ocasião, nas redes sociais do próprio Wolney, o que reforça a boa-fé no encontro e no que diz respeito a todos os presentes.
O ministro não tem qualquer relação com investigados pela Polícia Federal. Sua longa trajetória na vida pública sempre foi pautada por transparência, integridade e compromisso com o interesse público".
Fonte: Brasil 247 com informações do Metrópoles