"Alguns casos estão chamando a atenção", disse o ministro
Fernando Haddad (Foto: Diogo Zacarias/MF)
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou neste sábado que há um "abuso" no Brasil quanto ao uso por alguns setores do instrumento da recuperação judicial, acrescentando que o tema está sendo estudado pelo ministério.
Questionado sobre o grande número de empresas em recuperação judicial no país, Haddad citou dois fatores para isso: o alto nível da taxa de juros, que prejudica a rolagem das dívidas pelas empresas, e o próprio uso do instrumento de recuperação.
"Tem um abuso em usar a recuperação judicial", disse Haddad durante entrevista ao podcast 3 Irmãos. "Estamos estudando isso. Alguns casos estão chamando a atenção. Tem um ou dois setores da economia que estão inspirando um cuidado maior", acrescentou Haddad, sem detalhar a questão.
Pela legislação em vigor, empresas que entram em recuperação judicial ganham tempo para se reestruturar, com a suspensão de ações de cobrança por um período.
Ao abordar os juros, Haddad reconheceu que a taxa básica Selic, hoje em 15% ao ano, está "exagerada", mas acrescentou que é o Banco Central que trata da questão.
"Tem gente no Brasil hoje, inclusive no mercado financeiro, que (diz que) chegou a hora de cortar. Tem gente que acha que não", ponderou Haddad. "O debate é normal."
Em outras declarações neste mês de setembro, Haddad havia dito que o Brasil tem observado uma reancoragem das expectativas do mercado para a inflação, o que vai abrir espaço para cortes de juros pelo BC nos próximos meses.
Em outros momentos da entrevista deste sábado, Haddad voltou a afirmar que o Brasil enfrenta um déficit "crônico" nas contas públicas. Ao mesmo tempo, classificou como "superficial" a ideia defendida por setores da esquerda de que basta tirar as travas dos gastos públicos para o país se desenvolver.
O ministro também disse ser favorável que o governo faça parcerias públicos-privadas (PPPs) e concessões -- um tema que também costuma ser alvo de críticas de setores da esquerda.
"Ideologicamente falando, eu não sou contra PPP e concessão. Dependendo da circunstância, ela se justifica", afirmou.
Marilena Chauí deu entrevista à Folha, na qual falou sobre os mais diversos temas de política e atualidades:
☆ Sobre Trump
A visão que eu tenho do Trump é de que ele está desinstitucionalizando os Estados Unidos. Ele faz intervenções pontuais em lugares de conflito: Gaza, Ucrânia, Venezuela… E a resposta que deu a perguntas do motivo disso foi: “Porque eu posso”.
Então, a imagem que eu tenho é a do fim do império americano. Trump se apresenta como o portador do antigo imperialismo, mas esse imperialismo está quebrado por dentro.
Do mesmo modo que, no fim do Império Romano, você teve figuras como Calígula e Caracala, nos EUA você tem Trump, ou seja, um desmando no nível da sua própria personalidade, do tipo eu quero, eu posso, eu faço. E isso desinstitui um país e põe em risco todas as relações planetárias estabelecidas.
Por enquanto, ele tem sustentação ideológica por causa do crescimento da extrema direita no mundo. Mas não sei até quando vai esse suporte político.
☆ Sobre a classe média
Ah, sim, [odeio] com todas as minhas forças. Eu odeio a classe média até o fim dos meus dias.
Por que é que eu odeio a classe média? A sociedade capitalista tem duas classes fundamentais: a classe trabalhadora, que produz a mais-valia, e a burguesia. O trabalho da burguesia é explorar o trabalhador, porque uma parte do trabalho dele não é paga e vira capital.
O lugar, o papel, o significado, a relação dessas duas classes são claríssimos. Entre elas, tem uma terceira, que não tem lugar econômico porque não está nem na classe trabalhadora nem na classe burguesa. E a função da classe média é ideológica: espalhar as ideias da burguesia, da classe dominante.
Como a classe média não sabe muito bem onde está, ela fica insegura. Ela tem um sonho e um pesadelo. O sonho é se tornar burguesa. Pensa que se tiver um apartamento com dez suítes, churrasqueira na varanda, não sei o que mais, está já próxima disso. Mas ela não está.
Enquanto não receber a mais-valia, ela não entra na burguesia. Ela pode ficar rica, mas burguesa ela não é. E por isso ela tem um pesadelo, que é cair na classe dominada, na classe trabalhadora.
Então, a classe média funciona oprimindo os dominados e festejando e bajulando os dominantes. Por isso ela é odiosa. Ela é o cimento ideológico que garante que essa sociedade fique como está. É isso que acho odioso nela: não perceber que essa sociedade como está não pode ser.
☆ Sobre a tecnologia
Uso o celular como telefone e para fazer Pix. Só. Essa coisa chamada WhatsApp, eu nem sei o que é. E nenhuma rede social. Nada, nada. Quando faço essas conferências online, eu peço para as pessoas: “Mande o tal do link 20 minutos antes e tenha uma santa paciência lá do seu lado que eu vou acertar”.
E aí, você não imagina, tomo um calmante, porque sei que vou errar no link. Mas não erro. Eu sempre acerto.
O mesmo acontece com relação ao computador. Eu sempre acho que vou apertar um botão errado e vou perder tudo. Meu filho disse: “Não, mãe, você não perde porque está na nuvem”. Eu falei: “Bom, então agora estou destruída, porque, se chover, acaba tudo, né?”. [risos]
Ao mesmo tempo, tenho problemas filosóficos com o mundo digital e especialmente com esse objeto [faz gesto com a palma da mão como se fosse a tela de um celular]. Eu venho de uma formação pela fenomenologia e, em particular, pelo [filósofo francês Maurice] Merleau-Ponty, que é o universo da percepção. E portanto é o mundo da relação com o espaço vivido, com o tempo vivido, com os símbolos e com a linguagem.
A redução que o digital fez foi tornar o espaço isso aqui [o celular], o tempo isso aqui [o celular]. O mundo da percepção está destruído.
☆ Sobre Boaventura de Sousa Santos e assédio sexual
Em 1972, fui dar aula em Stanford, nos EUA, e, num dado instante, eu estava saindo da sala da diretoria com duas professoras. Aí um professor abriu a porta para nós. A professora fez um escândalo. Disse que aquilo era assédio sexual, que ele estava propondo o coito…
Eu caí das minhas tamancas. Então, eu me pergunto: o que é que se determinou como comportamento inapropriado? Para aquele grupo de Stanford, um homem abrir a porta para uma mulher era assédio sexual. Então, acho que as fronteiras da vida cotidiana e dos hábitos milenares precisam ser discutidos. Não há uma discussão a esse respeito. O que há é uma acusação.
E a minha dificuldade em lidar com as acusações é esta: você não tem um esclarecimento do proibido e do permitido, do aceitável e do inaceitável. A punição vem antes que você saiba qual é o crime. Então isso me deixa muito aflita.
Tive uma relação sempre de amizade profunda com Boaventura em muitas ocasiões e jamais poderia ter qualquer dúvida a respeito do comportamento dele comigo. Eu vi dois amigos meus serem destruídos e um colega meu de Córdoba, na Argentina, quase se matar porque alunas fizeram acusações contra eles.
Eu sempre acho que é preciso proteger os movimentos, mas é preciso ter cautela no momento da acusação. Você pode destruir uma pessoa que talvez tenha tido um gesto que não podia ter tido. Mas a acusação é de um grau de violência que eu ainda não concordo. É o tal do cancelamento. Eu acho que é um assassinato.
O ministro da saúde Alexandre Padilha em postagem após o voo. Foto: Reprodução/ @padilhando
Vídeos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha,atendendo uma passageira em um aviãorepercutiram nas redes sociais neste fim de semana. O registro foi compartilhado pelo deputado Alencar Santana (PT-SP). A cantora Mari Jasca, que também estava no avião, publicou uma foto ao lado do ministro e elogiou a atitude dele, destacando o cuidado prestado no atendimento.
Padilha comentou o episódio em suas redes sociais e escreveu: “Deu tudo certo. Médico é médico 24 horas por dia”. O caso ocorreu em Brasília, pouco antes da decolagem de um voo com destino ao Rio de Janeiro. Padilha, que é médico, prestou atendimento a uma mulher que havia desmaiado dentro da aeronave, após o pedido de socorro feito pelo marido dela.
Durante a avaliação, o ministro identificou que o mal-estar foi causado por hipoglicemia. Ele pediu ajuda de outra passageira para conseguir uma bala e, com a melhora da paciente, o voo prosseguiu normalmente. O próprio ministro acompanhou a mulher durante a viagem, monitorando sua condição.
Veja os vídeos:
A cantora Mari Jasca posta posto ao lado do ministro. Foto: Reprodução/@marijasca
Wanderlei Silva e Popó durante a luta no ringue. Foto: Reprodução/TV Globo
Acelino “Popó” Freitas e Wanderlei “Cachorro Louco” Silva se enfrentaram nesta quinta-feira (28) durante o Spaten Fight Night, em São Paulo. O combate, que prometia ser um duelo de boxe tradicional, terminou de forma polêmica e inesperada.
Durante a luta, o juiz advertiu Wanderlei Silva por golpes ilegais e chegou a descontar pontos. Após novas infrações, o ex-lutador de MMA foi desclassificado, garantindo a vitória a Popó Freitas.
A decisão gerou revolta na equipe de Wanderlei, provocando uma briga generalizada entre treinadores no ringue. Em meio ao tumulto, Silva sofreu um nocaute e precisou de atendimento médico, transmitido ao vivo pela TV Globo.
Nas redes sociais, o confronto virou assunto e motivou uma série de memes. Nas redes sociais, internautas reagiram com humor à desclassificação, ao nocaute e à confusão entre as equipes.
Popó em vídeo nas redes sociais e Fabrício Werdum em luta no UFC. Fotomontagem: Redes sociais/ UFC
O lutador Popó Freitas criticou Fabrício Werdum após a confusão que encerrou a luta principal do Spaten Fight Night, em São Paulo, na noite deste sábado (27). O boxeador acusou o ex-campeão peso-pesado do UFC de invadir o ringue e provocar a briga generalizada.
O confronto entre Popó e Wanderlei Silva, bolsonarista e ex-lutador de MMA que fazia parte da equipe de Wanderlei Silva, terminou com vitória de Popó por desclassificação. Werdum teria acertado socos em membros da equipe de Popó e tentado atingir o próprio boxeador, intensificando a confusão. “Esse cara só faz merda nos eventos dos outros”, disse Popó.
Ainda afirmou em vídeo nas redes sociais que Werdum foi o responsável por agravar o conflito. “Infelizmente o Werdum, covardemente, invadiu o ringue junto com o filho de Wanderlei, foi pra cima de todo mundo”, comentou, destacando que a briga deveria ter sido apenas entre os lutadores.
Após a confusão, Wanderlei recebeu atendimento ainda na arena e foi levado de maca ao Hospital São Luiz, na Zona Sul de São Paulo. Segundo seu empresário, a internação foi preventiva e o lutador já estava consciente ao deixar o ginásio.
Diplomacia brasileira avalia formatos para diálogo entre Lula e Trump, mas decisão sobre local e data ainda não foi tomada
Donald Trump e Lula (Foto: Reuters)
O governo brasileiro discute a possibilidade de um contato direto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A reunião presencial ainda não está descartada, mas enfrenta obstáculos por conta das agendas oficiais, que exigem meses de negociação, conforme relatado pelog1. Uma alternativa seria um encontro em um terceiro país.
Durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Trump afirmou ter combinado uma conversa com Lula para a semana seguinte, embora, até o momento, nenhum dos dois governos tenha confirmado a informação. Na ocasião, os presidentes se cumprimentaram e sinalizaram disposição para dialogar.
Segundo o g1, ainda não há definição sobre data, formato ou local para a conversa. No Planalto e no Itamaraty, a avaliação é de que um diálogo inicial por telefone ou videoconferência seria a alternativa mais prática e segura antes de avançar para um encontro presencial entre os presidentes, a fim de discutir a sobretaxa de 50% imposta aos produtos brasileiros.
Cerimônia terá assinatura de posse, execução do hino nacional e pronunciamentos de autoridades
Edson Fachin (Foto: Gustavo Moreno/STF)
O ministro Edson Fachin tomará posse nesta segunda-feira (29) como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em solenidade marcada por ritos e discursos. Conforme relatado pela CNN, o evento contará com a presença de autoridades e terá momentos simbólicos, como a troca de cadeiras entre magistrados. Durante a cerimônia, o ministro Alexandre de Moraes também assumirá como vice-presidente do STF.
Além de comandar a Corte, Fachin passará a presidir o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no biênio 2025-2027, sucedendo o ministro Luís Roberto Barroso.
Como será a cerimônia
A sessão está marcada para começar às 16h, com abertura conduzida pelo atual presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e execução do Hino Nacional. Em seguida, serão lidos o termo de compromisso e o termo de posse. Após a assinatura, Fachin será declarado empossado no cargo.
Um dos pontos de destaque do evento será a troca de lugares das cadeiras: Barroso deixará o assento central, tradicionalmente reservado ao presidente da Corte, para que Fachin assuma a condução dos trabalhos.
Na sequência, caberá a Fachin empossar o novo vice-presidente, Alexandre de Moraes, com a repetição dos procedimentos de leitura, assinatura e cumprimento.
A parte final da solenidade prevê discursos de autoridades, entre elas Luís Roberto Barroso, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e o representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A corrida presidencial de 2026 segue agitada nos bastidores da direita. Segundo a coluna de Lauro Jardim, em O Globo, o senador Flávio Bolsonaro teve uma conversa considerada duríssima com o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, nos últimos dias. Aliados classificaram o diálogo como um verdadeiro “chega pra lá” retórico.
O filho de Jair Bolsonaro alertou que o clã acompanha cada movimento de Ciro, que articula para se viabilizar como possível vice na chapa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao Palácio do Planalto, com o suposto apoio do ex-presidente. Flávio, porém, tratou de cortar o embalo: “não haverá chapa de direita sem um Bolsonaro”.
Em sua publicação, que chamou a atenção inclusive do campo progressista pelo tom duro, Ciro também afirmou que "ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez”.
"Já está passando de todos os limites a falta de bom senso na Direita, digo aqui a centro direita, a própria direita e seu extremo. Ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez. Por mais que tenhamos divergências, não podemos ser cabo eleitoral de Lula, do PT e do PSOL. Não podemos fazer isso com o Brasil", escreveu o senador.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
Jornalista avalia que presidente é favorito absoluto e só não terá novo mandato se cometer grandes erros
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia, em Brasília-DF - 25/08/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
O jornalista Ricardo Noblat publicou no portal Metrópoles uma análise em que prevê a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. No artigo intitulado “Goste-se disso ou não, Lula deverá se reeleger em 2026. A não ser...”, Noblat sustenta que, se Lula mantiver a saúde e não cometer falhas graves, será “favoritíssimo para bater qualquer um dos nomes cogitados, hoje, pela direita, de Tarcísio de Freitas para baixo” (Metrópoles).
⊛ Sorte, esforço e estratégia
Noblat ressalta que os adversários costumam dizer que Lula é apenas um homem de sorte, mas ignoram sua trajetória de luta, inteligência e capacidade de decisão.
“Não discordo que Lula seja um homem de sorte, mas pelas razões expostas acima: ralou muito, soube onde estar na maioria das vezes e na hora certa, e acertou nas suas escolhas.”
Para o jornalista, a presença de Lula moldou todas as eleições presidenciais desde a redemocratização. Ele relembra as derrotas de 1989, 1994 e 1998, mas também destaca as vitórias de 2002 e 2006, além da eleição e reeleição de Dilma Rousseff em 2010 e 2014, apoiadas diretamente pelo petista.
⊛ Prisão em 2018 e retorno em 2022
Em 2018, Lula não pôde disputar as eleições por estar preso, indicando Fernando Haddad, que foi derrotado por Jair Bolsonaro. Mesmo assim, a influência de Lula foi determinante no processo.
Após 580 dias de prisão, o presidente voltou à cena política e venceu Bolsonaro em 2022 por uma margem estreita (50,90% a 49,10%), reforçando sua centralidade no cenário político brasileiro.
⊛ O caminho até 2026
Noblat lembra que nunca um presidente no exercício do cargo deixou de se reeleger. Por isso, avalia que Lula deve disputar sua sétima eleição em 2026 como franco favorito, salvo em caso de problemas de saúde ou erros graves de condução política.
“Se a Lula não faltar saúde, porque disposição parece ter de sobra, e se não cometer graves erros daqui para frente, ele disputará a Presidência pela sétima vez e na condição de candidato favorito.”
Ministro Barroso em entrevista à Folha. Foto: reprodução
Às vésperas de deixar a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso disse, em uma emocionada entrevista à Folha de S.Paulo, que votou “com dor no coração” no processo que culminou na prisão do presidente Lula (PT), ressaltando que até aquele momento não se havia conhecimento das irregularidades cometidas pelo então juiz Sergio Moro e toda a Operação Lava Jato:
Por que o senhor anda chorando tanto?
Eu fiquei emotivo três vezes pelo mesmo episódio, quando relatei que fui a Roraima, neste mês, visitar a Operação Acolhida [de imigrantes venezuelanos]. Lá, um senhor de 80 anos, que já deveria estar repousando na vida, me disse “eu queria agradecer a vocês” [por ser bem recebido no Brasil].
Me emocionou ver as pessoas naquela condição, e ver esse país bonito que a gente tem, que faz essas coisas, que acolhe as pessoas [se emociona novamente]. […]
Do ponto de vista da nossa democracia, nós melhoramos?
Os sistemas de representação política se desgastaram em todo o mundo. A economia do conhecimento, decorrente da revolução tecnológica, criou grandes fortunas e alguns achatamentos sociais. As pessoas, em algumas camadas, estão estagnadas.
Houve, ao mesmo tempo, um avanço importante dos direitos das mulheres, das pessoas negras, da comunidade LGBTQIA+, das pessoas com deficiência, das populações indígenas. E a parcela da sociedade que estava no topo, branca, heterossexual e masculina, digamos assim, perdeu a hegemonia.
O senhor ainda não decidiu se sairá? Ou já decidiu, mas não fará isso agora?
Sair do Supremo é uma possibilidade, mas não é uma certeza. Eu verdadeiramente ainda não tomei essa decisão.
Quando minha mulher [Tereza] estava viva, eu tinha esse compromisso com ela [de sair do STF depois que deixasse a presidência]. Ela já estava doente, mas a gente tinha a pretensão de passear um pouco, de ter uma vida mais leve.
Essa motivação eu já não tenho mais [Tereza morreu em 2023]. Então estou ainda verdadeiramente pensando no que fazer. Às vezes tenho a sensação de já ter cumprido o meu ciclo [no STF]. Às vezes penso que ainda poderia fazer mais coisas. Estou falando da forma mais franca possível, do fundo do meu coração. […]
O STF dá uma forte proteção institucional aos seus integrantes. A indecisão do senhor em sair ou não da Corte tem relação com a possibilidade de ser sancionado pela Lei Magnitsky já fora do tribunal? O senhor inclusive já teve o visto de entrada no país suspenso.
Se eu disser que ter ou não visto para ir aos EUA é indiferente, não estaria dizendo a verdade. Tenho relações acadêmicas e amigos queridos no país. Então é uma chateação para mim. Agora, eu vivo a vida como ela vem, entende? Tenho convites para ir à França, à Alemanha, à Itália, e a minha vida continua.
Sair ou não do STF, hoje, tem mais a ver com a exposição pública pessoal, sobretudo dos meus filhos e das pessoas com quem me relaciono. Minha mulher sofria imensamente.
Mas o senhor não tem medo de ser sancionado?
Eu tenho preocupação. Mas isso não tem nada a ver com ficar ou sair [do STF]. Eu não acho que, se ficar, estarei mais protegido. O que eu tinha que fazer [em relação ao julgamento de Bolsonaro] eu já fiz. Eu fui lá [na sessão de julgamento] e sentei do lado deles [ministros que estavam julgando] porque achei que era o meu dever fazer.
Eu tenho preocupações, que considero legítimas, mas não deixo de fazer nada do que devo fazer. […]
Em 2018, o senhor deu um voto no STF que levou o presidente Lula à prisão. O senhor se arrepende?
Absolutamente. O meu voto não teve nada a ver com o presidente Lula. Eu vou explicar, talvez pela primeira vez, o meu voto. E o de outros, porque não foi só o meu voto [que levou Lula à prisão].
É verdade. O ministro Alexandre de Moraes, por exemplo, votou da mesma forma.
Em um momento muito anterior [à prisão de Lula], em que a Lava Jato desfrutava de muito prestígio como um enfrentamento legítimo e importante à corrupção, vigorava o entendimento de que só era possível executar decisões [de prisão] depois do trânsito em julgado do processo. Demorava tanto que frequentemente elas prescreviam. […]
Quando o processo do presidente Lula chegou ao Supremo, ele já havia sido condenado em segundo grau e o STJ [Superior Tribunal de Justiça] tinha confirmado a condenação.
Vamos supor que eu tivesse votado no presidente Lula, que eu gostasse do presidente Lula. Eu sou um juiz. Eu deveria mudar a jurisprudência por querer bem ao réu? A vida de um juiz que procura exercer seu ofício com integridade e sem partidarismo exige decisões que são pessoalmente difíceis.
Note-se que, naquele momento, não havia sobre a Lava Jato as suspeições que depois vieram a ser levantadas. Portanto, eu apliquei ao presidente Lula, com dor no coração, a jurisprudência que eu tinha ajudado a criar.
O senhor hoje vê a Lava Jato com outros olhos?
Olhando a operação hoje, com seus acertos e desacertos, eu identifico que havia uma certa obsessão pelo ex-presidente Lula que se manifestou em erros muito claros. Ela revelou um país feio e desonesto. Mas, em algum momento, se perdeu nos excessos e terminou se politizando.
Viver é andar numa corda bamba. Mas às vezes as coisas vão tão bem para o equilibrista que a plateia começa a achar que ele está voando. A vida é feita dessas ilusões.
Se o equilibrista também acreditar que está voando, ele vai cair.
A partir de um determinado momento de grande sucesso da operação, eles [procuradores e Moro] acharam que estavam voando.
O senhor e Lula nunca conversaram sobre o seu voto?
Nunca conversamos sobre esse assunto. Eu acho que o presidente é um homem que já esteve tempo suficiente no sereno para entender qual é o papel de um juiz que cumpriu o seu dever de aplicar também a ele o que havia aplicado a outras pessoas. […]
E com o ex-presidente Jair Bolsonaro, como eram as conversas quando ele estava no governo?
Eu estive poucas vezes com o ex-presidente. Conversamos brevemente na diplomação dele para o cargo. A uma certa altura, num canto, eu disse para ele: “O cargo mais importante da República é o de ministro da Educação”. Ele respondeu: “Quem você sugere [para o posto]?”
Fiz várias consultas e mandei uma lista. O presidente Bolsonaro chegou a anunciar um deles, Mozart Neves, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco. Mas houve uma imensa reação de seus apoiadores. Ele voltou atrás. E fez o oposto do que eu havia sugerido. Nomeou pessoas totalmente irrelevantes.
Lula, presidente do Brasil, em corrida do MEC. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou na manhã deste domingo (28) de uma caminhada em Brasília em homenagem aos 95 anos do Ministério da Educação. Ao final do percurso, o petista fez uma provocação direta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que “nossa atividade não tem motociata, tem caminhada com educadores”, em referência aos passeios de moto que marcaram o governo anterior. O evento reuniu ministros, servidores e autoridades no trajeto de 3km pela Esplanada dos Ministérios.
Vestindo camiseta comemorativa vermelha do MEC, shorts, tênis e o boné com o slogan “O Brasil é dos brasileiros”, Lula completou o percurso em 34 minutos, tendo largado às 7h18 e cruzado a linha de chegada às 7h52. Durante a caminhada, que passou em frente ao Congresso Nacional e à Praça dos Três Poderes, o presidente de 79 anos chegou a acelerar o ritmo em pelo menos quatro pequenas corridas ao longo do trajeto. O evento também oferecia opções de corrida de 5km e 10km para os participantes.
O presidente estava acompanhado da primeira-dama, Janja Lula da Silva, e de uma comitiva de ministros que incluía Camilo Santana (Educação), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Alexandre Padilha (Saúde), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Fernando Haddad (Fazenda). Também participaram o presidente do PT, Edinho Silva, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, que se juntaram ao grupo ao final da prova.
Em seu discurso após completar o percurso, Lula reforçou o tom da crítica ao governo anterior sem citar nominalmente Bolsonaro, que atualmente cumpre prisão domiciliar.
“Gente, isso aqui [mostra] a nossa civilidade. Não tem motociata, não tem pornochanchada, tem caminhada. Caminhada de educadores”, disse o presidente, arrancando aplausos dos presentes. A fala faz referência às polêmicas motociatas que caracterizaram o governo Bolsonaro e aos episódios envolvendo o chamado “gabinete do ódio”.
A participação em eventos esportivos reforça o discurso que Lula vem sustentando desde a campanha eleitoral de 2022 sobre a importância de manter hábitos saudáveis. O petista, que completará 80 anos em outubro, frequentemente menciona que está fisicamente bem e que toma os devidos cuidados com a saúde.