sábado, 23 de agosto de 2025

As noras de Bolsonaro: o papel nada discreto de Heloísa, Fernanda e Martha no golpe


      Fernada, Martha e Heloísa: elas sabem o que fazem

A trajetória da família Bolsonaro apresenta paralelos inquietantes com o funcionamento das máfias italianas. Mais do que uma família com múltiplos cargos eletivos, trata-se de um clã que, à semelhança das organizações criminosas do sul da Itália, construiu uma estrutura de poder baseada em lealdade, silêncio e intimidação.

Jair Bolsonaro ocupa o papel de capo di tutti capi. Como patriarca, centralizou decisões, distribuiu funções entre os filhos e ergueu uma rede de proteção em torno da família. Em quase 30 anos como deputado e nos quatro anos de presidência, cultivou a lógica do omertà – o código do silêncio –, blindando aliados, atacando instituições e intimidando adversários.

Seus filhos assumiram funções de caporegimes. Flávio é apontado como gestor das finanças. Carlos atua como responsável pelo bunker digital de desinformação. Eduardo é considerado o “caporegime” mais ousado, transitando entre política e negócios como se fossem territórios da máfia. Já Jair Renan ocupa o papel de soldato, jovem e ambicioso, ainda em busca de provar seu valor. Michelle, por sua vez, desempenha o papel de consigliere discreta: não comanda abertamente, mas sua influência molda decisões, suaviza crises e mantém a fachada pública.

Além do núcleo central, outros parentes chamam atenção. Renato Bolsonaro, irmão de Jair, teria aumentado em mais de R$ 2,3 milhões seu patrimônio entre 2004 e 2016, período em que atuou em negociações imobiliárias ligadas ao ex-presidente. No contexto mafioso, seria classificado como um “associato”.

As ex-esposas de Jair Bolsonaro também compõem um capítulo à parte. O divórcio com Rogéria Nantes Braga foi marcado por tensões, a ponto de Jair escalar o filho Carlos, então com 17 anos, para um “matricídio político”: minar as chances da própria mãe nas eleições para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Já Ana Cristina Siqueira Valle deixou o país após um término conturbado e disputas judiciais, refugiando-se na Noruega, onde adquiriu cidadania e se afastou completamente do clã.

Mas, entre esposas, filhos e irmão, um ponto pouco explorado até agora é o papel das noras no entorno da família Bolsonaro.

Heloísa Wolf

HELOÍSA WOLF


Psicóloga e coach, Heloísa casou-se com Eduardo Bolsonaro em 2019. Conhecida pelo perfil midiático, exibia nas redes sociais uma rotina de luxo: bolsas de grife, viagens à Disney, eventos country e vídeos mostrando a casa da família nos Estados Unidos.

Após críticas ao exibicionismo, apagou grande parte das publicações, mantendo poucas imagens com o marido e a filha, mas curiosamente, fez questão de manter fotos do sogro — incluindo fotos de apoio, um retrato pintado, registros com a neta e até uma imagem destacando a cicatriz abdominal de Jair.

A dedicação de Heloísa, no entanto, vai além da esfera pessoal. Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), solicitado pela Polícia Federal, apontou que Eduardo Bolsonaro utilizou a conta da esposa para ocultar recursos transferidos por Jair Bolsonaro.

Segundo o documento, em 13 de maio deste ano, Jair realizou sete transferências ao filho — seis de R$ 111 mil e uma de R$ 2 milhões — em operação considerada suspeita. Menos de um mês depois, Eduardo fez uma operação de câmbio de R$ 1,66 milhão e repassou R$ 200 mil para uma conta em nome da esposa, de forma fracionada.

A estratégia, segundo o Coaf, teria o objetivo de camuflar a origem dos valores. No fim de julho, Eduardo relatou que as contas da esposa foram bloqueadas por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Flávio Bolsonaro e Fernanda Antunes

FERNANDA ANTUNES

Dentista especializada em ortodontia e ortopedia facial, Fernanda é casada com Flávio Bolsonaro desde 2010. Ao longo dos 15 anos no núcleo familiar, acumulou suspeitas de participação em esquemas criminais que vão das rachadinhas à elaboração de um pedido de asilo político de Jair Bolsonaro ao presidente argentino Javier Milei, apreendido pela Polícia Federal e tornado público nos últimos dias.

Relatório da PF apontou Fernanda como autora e última editora do documento encontrado no celular de Jair Bolsonaro, dois dias após ele ter entregue o passaporte à Justiça.


O Ministério Público do Rio de Janeiro também denunciou Fernanda, o marido e outros envolvidos por organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita no esquema das rachadinhas da Alerj. Segundo o MP, ela omitiu R$ 350 mil em gastos para compra de uma loja da rede Kopenhagen.

Depósitos em sua conta feitos por Fabrício Queiroz, considerado operador do esquema, também levantaram suspeitas. Além disso, Fernanda foi associada a transações imobiliárias suspeitas, incluindo compras em Copacabana e uma mansão de R$ 6 milhões com prestações incompatíveis com a renda declarada.

Em 2019, o MP-RJ apontou ainda que um policial militar teria quitado boletos em nome da dentista. A Vigilância Sanitária também autuou seu consultório por uso de materiais vencidos.

Jair Bolsonaro e Matha Seillier

MARTHA SEILLIER

A relação entre Carlos Bolsonaro e a economista Martha Seillier sempre foi envolta em sigilo, a ponto de não se saber se o casal ainda está junto. Os dois têm uma filha chamada Julia, nascida nos EUA em 2023.

Mesmo discreta, Martha tem histórico de alinhamento ao bolsonarismo. Participou dos atos de 7 de setembro de 2021 em Brasília e chegou a postar vídeos com a hashtag “Supremo é o Povo”, usada por apoiadores que pediam o fechamento do STF.

No início de 2020, esteve no centro de uma polêmica ao viajar em jato da Força Aérea Brasileira de Davos, na Suíça, para Nova Délhi, na Índia, episódio que custou o cargo ao então secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini.

Em 2022, foi indicada por Paulo Guedes para diretoria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, deixando o cargo em 2023, já no governo Lula.

Ainda naquele ano, o governador Tarcísio de Freitas a indicou para chefiar o escritório da InvestSP nos EUA, em nomeação que teria contado com apoio de Jair Bolsonaro. A remuneração desse cargo gira em torno de US$ 9.000 (aproximadamente R$ 43 mil) mensais

Atualmente, Martha atua como especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental no Senado, cedida pelo governo federal para a liderança da minoria.

Fonte: DCM

Nenhum comentário:

Postar um comentário