Deputado usa empresa Destra para angariar fiéis, lucrar com cursos e disseminar ideologia de extrema direita entre cristãos

Dep. Nikolas Ferreira (PL - MG) (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o mais votado da Câmara dos Deputados nas eleições de 2022, não declara profissão em sua ficha oficial na Casa. No entanto, fora do Congresso, ele é sócio de uma empresa lucrativa: a Destra Cursos LTDA, que atua como plataforma de ensino com forte apelo religioso e ideológico. Conforme apuração do jornalista Paulo Motoryn, do Intercept Brasil, a empresa já desembolsou R$ 745,3 mil em publicidade nas plataformas da Meta (Facebook e Instagram) apenas entre abril de 2024 e abril de 2025.
O montante foi utilizado em uma estratégia de tráfego pago que visa atrair cristãos conservadores com conteúdos que se apresentam como evangelização, mas se revelam, na prática, uma máquina de radicalização política. A Destra, fundada em 2020 e da qual Nikolas se tornou sócio após as eleições municipais daquele ano, oferece cursos online com mensalidades de até R$ 685, voltados à formação de “cristãos que se posicionam”. A plataforma já teria formado mais de 60 mil alunos — o que, a valores atuais, representa uma receita superior a R$ 30 milhões.
☆ Destra: do marketing político ao negócio milionário - A Destra surgiu durante a campanha municipal de 2020, quando prestou serviço ao então candidato a prefeito de Belo Horizonte, Bruno Engler, aliado de Nikolas. Apenas um mês após sua fundação, a empresa assinou um contrato de R$ 68 mil com a candidatura. Em novembro daquele ano, Nikolas passou a integrar formalmente a sociedade da Destra, ao lado de Ivens Henrique Grahl Ribeiro e Arthur Torres de Assis, jovens empresários do Paraná e Goiás, respectivamente.
Desde então, a empresa evoluiu para se tornar uma plataforma de cursos por assinatura, na qual Nikolas atua como garoto-propaganda e “professor”. O deputado usa seus canais oficiais — inclusive o perfil no Instagram voltado à atividade parlamentar — para divulgar a Destra, que, segundo suas próprias campanhas, seria “uma resposta para essa geração”.
☆ Cursos, ideologia e lucro - Ao assinar o "Plano Legado", por R$ 497, o repórter do Intercept teve acesso a quatro núcleos de conteúdo: Formação Destra, Destra Originais, Le Circle e For The Nations, além do Destra Front, onde o próprio Nikolas Ferreira conduz os cursos. A estética da plataforma imita serviços de streaming e oferece desde aulas de filosofia e inteligência emocional até conteúdos sobre “como fazer amigos” e “corrida de rua”.
O discurso, porém, é unificado por uma doutrina: a ideia de que a fé deve orientar cada aspecto da vida — e, sobretudo, a política. Em vídeos como o curso “O Cristão e a Política”, Nikolas apresenta a disputa ideológica como uma batalha entre o bem e o mal, na qual os cristãos teriam o dever de combater “as forças destrutivas da família, da fé e da moral”.
“Você precisa ser um cristão que se posiciona”, repete-se como mantra. A pregação religiosa, apesar de embutida em cursos supostamente práticos, permeia toda a estrutura da Destra — e aponta para o endurecimento político dos participantes.
☆ O “Le Circle” e a estética da radicalização - Um dos módulos da plataforma, ainda não lançado, chama-se “Le Circle”, apresentado como uma “comunidade viva e intencional”. O nome chama atenção por sua semelhança com “Le Cercle”, grupo ultraconservador fundado no pós-guerra na Europa, ligado ao financiamento de regimes como o apartheid. Ainda que não haja evidências de que Nikolas conheça esse histórico, a coincidência levanta questionamentos sobre as referências da Destra.
Além disso, o módulo “For The Nations” ensina inglês com vocabulário cristão e promove a ideia de uma comunidade global de cristãos militantes. Já o Destra Front, onde Nikolas atua diretamente, representa a etapa final de um “funil de radicalização”, com produção audiovisual profissional e discurso político mais explícito.
☆ Evangelização ou radicalização? - Embora o conteúdo da Destra se apresente como “formação cristã”, seu objetivo parece ser menos a conversão e mais o enrijecimento ideológico. Segundo o relato do repórter, todas as aulas seguem o formato de pregação, com tom pastoral, versículos bíblicos e apelos morais — frequentemente alinhados à pauta da extrema direita.
O caso revela uma engrenagem bem azeitada: Nikolas Ferreira transforma sua visibilidade política em propaganda para a Destra, que, por sua vez, financia campanhas e conteúdos que alimentam sua base radicalizada. Trata-se de uma operação que mistura fé, política e lucro, num modelo de negócios que se apresenta como salvação espiritual, mas opera como uma eficiente máquina de dinheiro e radicalização.
Fonte: Brasil 247 com Intercept Brasil
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