Representação diplomática estadunidense sai em defesa de um delinquente que tentou destruir a própria tornozeleira eletrônica
Um tweet publicado pela embaixada dos Estados Unidos neste fim de semana desencadeou forte reação política no Brasil. Na mensagem, a representação diplomática atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, afirmando que ele seria um “violador de direitos humanos sancionado” e acusando o Supremo Tribunal Federal de “vergonha e descrédito internacional”. O episódio ocorre após a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, executada pela Polícia Federal no sábado (22). As informações sobre a tentativa de Bolsonaro de violar sua tornozeleira eletrônica constam de relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seap) divulgado após decisão de Moraes que retirou o sigilo do material.
De acordo com a embaixada, os Estados Unidos estariam “profundamente preocupados” com a decisão judicial que levou à prisão de Bolsonaro, que já cumpria prisão domiciliar “sob rígidas restrições de comunicação”. A mensagem ainda afirma que “não há nada mais perigoso para a democracia do que um juiz que não reconhece limites para seu poder”, em clara afronta ao Supremo Tribunal Federal.
☉ Bolsonaro tentou abrir a tornozeleira com ferro de solda
O relatório da Seap, agora público por decisão de Moraes, é explícito: Bolsonaro utilizou um ferro de solda para tentar abrir a tornozeleira eletrônica. O próprio ex-presidente admitiu a avaria em um vídeo enviado ao STF.
“[Foi] curiosidade”, disse Bolsonaro, explicando que tentou abrir o equipamento na tarde de sexta-feira (21). A violação foi registrada às 00h07 de sábado (22) pelo Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (CIME). Horas depois, já pela manhã, Bolsonaro foi preso preventivamente.
Segundo o documento técnico, a equipe identificou “marcas de queimadura em toda a circunferência” da tornozeleira. Ao ser questionado, Bolsonaro confirmou que havia usado um ferro de solda para tentar abrir o dispositivo. O equipamento foi imediatamente substituído.
☉ Riscos de fuga e convocação de mobilização por Flávio Bolsonaro
Na decisão que decretou a prisão preventiva, Moraes apontou dois elementos principais: a violação da tornozeleira e o risco de tumulto — ou mesmo de tentativa de fuga — provocado pela convocação feita por Flávio Bolsonaro. O senador chamou nas redes sociais uma “vigília de orações” para a porta da casa onde o pai cumpria prisão domiciliar desde 4 de agosto.
O ministro avaliou que a movimentação poderia criar ambiente propício para obstrução da Justiça ou para uma eventual fuga do réu, condenado por participar da trama golpista que culminou na invasão de prédios dos Três Poderes.
☉ Condenação na trama golpista e fase final de recursos
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão pela Primeira Turma do STF por sua participação no golpe que tentou impedir a posse do presidente Lula. A Corte rejeitou na semana passada os embargos de declaração apresentados por Bolsonaro e outros seis réus, mantendo as penas e abrindo caminho para a execução em regime fechado.
Termina neste domingo (23) o prazo para a apresentação dos últimos recursos. Se forem rejeitados, as prisões serão imediatamente executadas.
A defesa do ex-presidente pediu na sexta-feira (21) a concessão de prisão domiciliar humanitária alegando que Bolsonaro teria “doenças permanentes” que exigiriam acompanhamento médico intenso. O pedido foi negado por Moraes.
☉ Investigações envolvendo Eduardo Bolsonaro e lobby com governo Trump
Bolsonaro já estava em prisão domiciliar por descumprir medidas cautelares impostas no inquérito que apura a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro junto ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para promover retaliações contra o governo brasileiro e contra ministros do STF.
Esse inquérito, que apura tentativa de interferência estrangeira para pressionar e desestabilizar instituições brasileiras, já havia motivado as restrições impostas ao ex-presidente.
☉ Um ataque diplomático à Justiça brasileira
A manifestação da embaixada dos EUA em defesa de Bolsonaro e contra o ministro Alexandre de Moraes representa um movimento inédito e de forte gravidade diplomática. Ao ignorar o fato documentado de que o ex-presidente tentou destruir um equipamento de monitoração judicial com um ferro de solda, a representação estadunidense optou por respaldar um condenado por tentativa de golpe de Estado — e agora por tentativa de violação da tornozeleira eletrônica.
A reação do Itamaraty e do Supremo Tribunal Federal ao ataque público dos Estados Unidos deve dominar o debate político nos próximos dias.
Fonte: Brasil 247
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