Em encontro com bolsonaristas, decano do STF ainda deixou claro que não há possibilidade de a Corte recuar nos processos sobre o 8 de janeiro
Dias antes de o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o também ministro Gilmar Mendes participou de uma reunião tensa com lideranças bolsonaristas em Brasília, relata Malu Gaspar, do jornal O Globo.
O encontro ocorreu no início da semana na casa do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras. O café da manhã reuniu, além de Gilmar Mendes e Maia, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), o senador Rogério Marinho (PL-RN) e o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.
Confronto sobre sanções e defesa institucional - O principal tema da reunião foi a iminente aplicação da Lei Magnitsky contra membros do Judiciário brasileiro — sanção internacional que, nos Estados Unidos, é considerada uma espécie de “pena de morte financeira”. Dois dias depois, o governo Trump incluiu Alexandre de Moraes na lista de alvos da medida.
Os parlamentares bolsonaristas informaram Gilmar que apenas Moraes seria atingido inicialmente, mas não descartaram a possibilidade de outros ministros serem sancionados no futuro. Diante disso, Gilmar teria reagido com firmeza: afirmou que, se isso ocorresse, o STF poderia proibir os bancos nacionais de cumprirem ordens para bloqueio de contas de ministros.
Os aliados de Bolsonaro também pressionaram pela revisão das decisões da Suprema Corte, sugerindo que os processos dos réus envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 fossem transferidos para instâncias inferiores. A proposta foi prontamente rechaçada por Gilmar Mendes, que reiterou a posição institucional da Corte. Ele deixou claro que não há nenhuma possibilidade de o Supremo recuar.
Gilmar Mendes foi direto ao apontar os responsáveis pela crise e afirmou que, para a crise acabar, é preciso que os bolsonaristas "desfaçam a grande confusão" que promoveram ao acionar o governo Trump contra o governo brasileiro e o STF. Os bolsonaristas, por sua vez, alegaram não ter controle sobre as decisões do presidente Trump.
Apesar da tensão e da falta de consenso em todos os pontos discutidos, as lideranças do PL e Gilmar Mendes acordaram em manter um canal de diálogo. No dia seguinte, o advogado de Jair Bolsonaro, Fábio Wajngarten, chegou a ligar para o ministro oferecendo-se como ponte para “reduzir as tensões”. Não houve avanço.
A reunião, que deveria ter permanecido confidencial, acabou expondo publicamente a crescente ofensiva internacional articulada por setores do bolsonarismo com apoio do trumpismo contra o sistema de Justiça brasileiro. A resposta de Gilmar Mendes indica que o STF não pretende ceder às pressões externas nem rever sua atuação nos casos ligados à tentativa de golpe de Estado e aos ataques antidemocráticos.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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