terça-feira, 15 de julho de 2025

Mauro Cid reafirma que Filipe Martins apresentou minuta golpista a Bolsonaro

Ex-ajudante de ordens confirma ao STF que ex-assessor levou documento golpista ao ex-presidente

       (Foto: Filipe Martins/ Reprodução X )

O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, reforçou em novo depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que foi o ex-assessor especial da Presidência, Filipe Martins, quem apresentou a minuta do golpe diretamente a Bolsonaro. A informação foi revelada em reportagem publicada nesta segunda-feira (15) pelo jornal Valor Econômico, que detalha o novo depoimento prestado no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.

Cid depôs como informante durante audiência conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, que ouviu testemunhas dos chamados núcleos dois, três e quatro da ação penal. Ele afirmou que Martins esteve com Bolsonaro, acompanhado de um jurista não identificado, para entregar o documento que previa medidas golpistas para anular o resultado das eleições de 2022.

☆ Bolsonaro teria editado a minuta para focar em Alexandre de Moraes

Segundo Mauro Cid, Bolsonaro não apenas recebeu a minuta, como também a modificou. “Ali mesmo, Bolsonaro fez alterações no documento, deixando-o mais enxuto”, relatou o militar. O delator afirmou que uma das principais alterações promovidas pelo ex-presidente foi restringir o foco do plano para a prisão do ministro Alexandre de Moraes. Na versão original, a minuta previa também a detenção de outros ministros do STF, do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e de outras autoridades civis.

Cid declarou que chegou a ver a versão impressa do documento com anotações de Bolsonaro, além de tê-lo visualizado no computador de Filipe Martins enquanto ele fazia as alterações ordenadas pelo então chefe do Executivo. Posteriormente, houve uma segunda reunião, onde a minuta alterada foi apresentada aos comandantes das Forças Armadas.

A defesa de Filipe Martins nega qualquer participação do ex-assessor na articulação golpista.

☆ Minuta não atribuía ordens diretas, diz delator

Durante o depoimento, Mauro Cid também esclareceu que o texto da minuta não apontava especificamente quem deveria executar as ordens. “A minuta não dava ordem para ninguém, nem para o exército ou instituição nenhuma”, pontuou. Cid explicou ainda que a percepção dos envolvidos era de que o risco jurídico era elevado para quem assinasse o documento. “A conclusão geral é que a carta só complicaria quem assinou.”

Apesar dos encontros e discussões, ele negou que tenham sido realizados atos concretos para viabilizar a tentativa de golpe.

☆ Defesa desmonta acusação contra Filipe Martins sobre voo para os EUA

Questionado pela defesa de Filipe Martins, Mauro Cid esclareceu outra polêmica envolvendo o ex-assessor. Segundo o militar, Martins não embarcou no avião presidencial para Orlando, nos Estados Unidos, no final de 2022. “Confirmo que ele não viajou”, disse Cid.

Anteriormente, Filipe Martins havia sido incluído por Cid em uma lista provisória entregue à Polícia Federal como um dos passageiros no voo presidencial. A contradição foi um dos motivos que justificaram a prisão preventiva do ex-assessor, que ficou preso por seis meses no início de 2024. Após a defesa comprovar que Martins permaneceu no Brasil, Moraes revogou a prisão.

☆ General da reserva era o mais radical, afirma Cid

Cid também falou sobre o papel desempenhado pelo general da reserva Mario Fernandes durante as articulações antidemocráticas. “Ele estava ostensivo e acintoso em relação às ideias golpistas. A insatisfação dele era bem latente. Ele procurava o presidente e estava sempre com uma visão mais radical das ações”, afirmou o delator.

☆ Encontros com Carla Zambelli e Delgatti são confirmados

O ex-ajudante de ordens confirmou ao STF que Bolsonaro se reuniu com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto para discutir supostas fraudes nas urnas eletrônicas. “Sim, senhor. Confirmo que Bolsonaro recebeu Zambelli e Delgatti”, disse Cid ao ministro Alexandre de Moraes. O militar detalhou que, por ordem de Bolsonaro, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, também se encontrou com a dupla posteriormente.

☆ Braga Netto teria entregue dinheiro em sacola de vinhos

Encerrando seu depoimento, Mauro Cid revelou ter recebido uma sacola com dinheiro entregue pelo general Walter Braga Netto. O dinheiro foi repassado ao militar conhecido como “kid-preto”, identificado como Rafael Martins de Oliveira. “Eu sabia que era dinheiro porque eu mesmo pedi a Braga Netto, mas não sei o valor, pois a sacola estava lacrada”, relatou.

As revelações de Cid adicionam novos elementos ao caso sobre tentativa de golpe e seguem alimentando investigações sobre a participação de civis e militares no planejamento de medidas para reverter o resultado eleitoral de 2022.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal Valor Econômico

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