terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Explicação de Sóstenes não fica de pé, aponta editorial do Estadão

Jornal questiona versão do líder do PL para R$ 430 mil em espécie encontrados pela PF e cobra esclarecimentos

      Sóstenes Cavalcante (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados | Divulgação/PF)

O editorial do jornal Estado de S. Paulo desta terça-feira afirma que a explicação apresentada pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) para justificar a origem de R$ 430 mil em dinheiro vivo encontrados em seu apartamento, em Brasília, “não fica de pé”. O texto analisa a investigação em curso da Polícia Federal que apura suspeitas de desvio de recursos da cota parlamentar envolvendo Sóstenes e o também deputado Carlos Jordy (PL-RJ).

Segundo o editorial, a operação da Polícia Federal, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino e deflagrada na sexta-feira passada, cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos parlamentares em Brasília e no Rio de Janeiro. No imóvel de Sóstenes, os agentes encontraram R$ 430 mil em espécie. As investigações apontam para um esquema de desvio da cota parlamentar — criada para financiar atividades inerentes ao mandato — por meio de fraudes com uma locadora de veículos suspeita de funcionar como empresa de fachada para lavagem de dinheiro.

O texto do Estado de S. Paulo destaca que relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) reforçam a gravidade das suspeitas. Assessores dos dois deputados teriam movimentado valores considerados absolutamente incompatíveis com seus rendimentos. No gabinete de Sóstenes, um assessor, Adailton Oliveira dos Santos, registrou R$ 11,5 milhões em créditos e o mesmo valor em débitos. No gabinete de Carlos Jordy, um assessor movimentou R$ 5,9 milhões, seguindo a mesma dinâmica. Para o jornal, os recursos teriam apenas transitado pelas contas dos assessores, o que exige explicações diretas dos parlamentares.

O editorial é especialmente duro ao avaliar a reação de Sóstenes Cavalcante após a operação. Em entrevista coletiva, o deputado afirmou que o dinheiro encontrado em sua residência teria origem na venda de um imóvel, pago integralmente em dinheiro vivo pelo comprador. Segundo ele, por um “lapso”, o valor não teria sido depositado no banco. Para o jornal, trata-se de uma versão inverossímil diante das práticas financeiras atuais.

◈ Dinheiro sem origem

O Estado de S. Paulo questiona como alguém poderia comprar um imóvel pagando centenas de milhares de reais em espécie e como seria possível “esquecer” de depositar R$ 430 mil. O editorial associa esse tipo de explicação a práticas já conhecidas da família Bolsonaro, mencionando transações imobiliárias em dinheiro vivo, fora dos controles do sistema bancário, do Coaf e da Receita Federal.

O texto ressalta que, do ponto de vista legal, as investigações ainda estão em andamento e que Sóstenes e Jordy não podem ser considerados culpados neste momento. No entanto, enfatiza que a presunção de inocência não elimina o dever de prestar explicações consistentes e respeitosas à sociedade brasileira, especialmente porque ambos construíram suas trajetórias políticas como representantes de uma suposta “nova política” e críticos da corrupção associada aos governos petistas.

Para o editorial, se o dinheiro tivesse origem lícita, bastaria a apresentação de documentos básicos: qual imóvel foi vendido, quem foi o comprador e o que consta no contrato. Até agora, segundo o jornal, nada disso foi apresentado, o que autoriza suspeitas sobre a real origem dos recursos. O texto ressalta que não se pode afirmar, neste momento, que houve crime, mas aponta que a fragilidade da explicação sustenta o ceticismo público.

◈ Sem argumentos

Na ausência de respostas convincentes, o editorial observa que Sóstenes e Jordy recorreram ao argumento de “perseguição política”, atribuindo a operação a um suposto ânimo hostil do ministro Flávio Dino. O jornal reconhece que o Supremo Tribunal Federal tem sido mais rigoroso com representantes da direita, especialmente do bolsonarismo, mas afirma que rigor institucional não se confunde com perseguição e que a orientação política não pode servir de salvo-conduto para práticas ilícitas.

Por fim, o Estado de S. Paulo sustenta que a investigação transcende o destino judicial dos dois parlamentares e atinge diretamente a credibilidade do Congresso Nacional. Enquanto explicações sólidas não forem apresentadas, conclui o editorial, o país continuará a formular perguntas incômodas sobre o uso de recursos públicos e a conduta de seus representantes.

Fonte: Brasil 247

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