Ministro critica relator do PL Antifacção e alerta para retrocessos no combate ao crime organizado
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fala durante reunião em Brasília-DF - 03/06/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez duras críticas ao deputado Guilherme Derrite (PP-SP), relator do PL Antifacção, ao afirmar que o parlamentar não compreende os mecanismos de inteligência e investigação necessários para enfrentar o crime organizado. As declarações foram dadas em entrevista publicada pelo jornal Valor Econômico, que revelou a insatisfação do governo com as alterações propostas por Derrite no projeto.
Segundo Haddad, o relator não reúne a experiência necessária para conduzir uma proposta dessa complexidade. “Nada contra, o deputado não precisa ser especialista em tudo, mas quanto menos você sabe, mais você busca apoio de quem sabe”, afirmou. Para o ministro, a condução apressada da matéria representa ameaça direta aos avanços recentes no enfrentamento às facções criminosas.
● “Não é uma pessoa versada em investigação e inteligência”, diz ministro
O ministro reforçou que o texto de Derrite desconsidera o modelo de integração entre órgãos federais e polícias estaduais que, nos últimos meses, tem permitido o avanço das ações de asfixia financeira contra o crime organizado. Haddad foi contundente ao questionar a capacidade técnica do relator:
“Você vai colocar isso a perder em função do açodamento de um relator que, com todo respeito, não é propriamente uma pessoa que entenda de inteligência, de investigação, não é uma pessoa versada em investigação e inteligência contra o crime organizado.”
O parlamentar é secretário de Segurança Pública de São Paulo na gestão de Tarcísio de Freitas, mas está licenciado do cargo para relatar o projeto. Integrante da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Derrite é pré-candidato ao Senado em 2026.
● Governo vê risco à soberania e ameaça à autonomia de órgãos de Estado
O projeto original foi elaborado pelo governo federal, mas as mudanças propostas por Derrite geraram forte reação do Executivo e de diversos setores técnicos. Entre os pontos mais criticados está a iniciativa de equiparar organização criminosa a terrorismo, algo que, segundo autoridades e especialistas, poderia colocar em risco a soberania nacional e abrir brechas jurídicas indesejadas.
A primeira versão do relatório provocou reações negativas dentro da própria Polícia Federal, de especialistas em segurança pública, do Ministério Público e da Receita Federal — órgão que também temia perda de autonomia em operações de combate a crimes fiscais.
Na terça-feira, Haddad já havia alertado que o texto defendido por Derrite “abriria as portas para o crime organizado” no país. Nesta quarta, ele voltou a criticar a pressa na tramitação:
“O açodamento para votar a lei sem uma discussão com o governo é algo que não faz o menor sentido.”
● Haddad diz que relatório enfraquece PF e Receita Federal
Para o ministro, as alterações propostas pelo deputado representariam um retrocesso institucional, na medida em que fragilizam órgãos de Estado, como a Polícia Federal e a Receita Federal — fundamentais nas operações de inteligência e repressão financeira contra facções criminosas.
“A Polícia Federal é do país. A Receita Federal, tampouco é de governo. São órgãos de Estado. É você enfraquecer esses órgãos de Estado, e quem vai acabar se aproveitando é o crime organizado. Isso não faz o menor sentido”, concluiu Haddad.
A disputa em torno do PL Antifacção deve seguir no centro do debate político, em meio à pressão do governo para preservar a autonomia dos órgãos de investigação e garantir uma legislação capaz de fortalecer, e não comprometer, o enfrentamento ao crime organizado.
Fonte: Brasil 247
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