Diplomata critica cerco militar dos EUA e descarta pressionar o líder venezuelano
O assessor especial para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim, afirmou ao jornal The Guardian que o Brasil não atuará para pressionar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a renunciar, mesmo diante do aumento das ofensivas políticas e militares dos Estados Unidos na região do Caribe.
“Se Maduro chegar à conclusão de que deixar o poder é o melhor para ele e para a Venezuela, será uma conclusão dele… O Brasil jamais imporá isso; jamais dirá que isso é uma exigência… Não vamos pressionar Maduro para que renuncie ou abdique”, disse o diplomata.
◉ Asilo político é tradição latino-americana
Durante a entrevista, Amorim afirmou que não deseja alimentar especulações sobre a possibilidade de o Brasil oferecer asilo ao presidente venezuelano, embora reconheça que essa hipótese não possa ser totalmente descartada. Para ele, a prioridade é evitar qualquer sinalização que incentive interpretações equivocadas.
Questionado sobre eventual pedido de asilo de Maduro, Amorim afirmou que não deseja estimular qualquer interpretação, mas reconheceu que a tradição latino-americana contempla esse tipo de acolhimento. “No entanto, o asilo é uma instituição latino-americana [para] pessoas tanto de direita quanto de esquerda”, disse. As especulações sobre possíveis locais de refúgio incluem Cuba, Turquia, Catar e Rússia.
◉ Amorim rejeita pressão e alerta para risco de escalada militar
Ao comentar rumores sobre uma eventual invasão norte-americana na Venezuela, o assessor afirmou que, se cada eleição contestada resultasse em intervenção externa, “o mundo estaria em chamas”. Segundo ele, uma operação militar conduzida pelos Estados Unidos — sob o comando do presidente Donald Trump — teria consequências graves para todo o continente.
“A última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra – e uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas uma guerra entre os EUA e a Venezuela. Acabaria por ter envolvimento global, e isso seria realmente lamentável”, declarou.
◉ Comparação com o Vietnã e resistência histórica da região
Amorim destacou que uma intervenção dos EUA geraria forte reação na América Latina.
“Eu conheço a América do Sul… todo o nosso continente existe graças à resistência contra invasores estrangeiros”, afirmou. Segundo o ex-chanceler, uma ofensiva desse tipo reacenderia um sentimento antiamericano, ampliando tensões e instabilidades.
Cerco militar dos EUA aumenta suspeitas na América Latina
Desde agosto, os Estados Unidos intensificaram operações militares no Caribe e na América Latina sob o argumento de combater o tráfico internacional de drogas. A mobilização inclui navios de guerra, caças F-35, fuzileiros navais e o porta-aviões USS Gerald R. Ford, dentro da operação Lança do Sul. Relatórios do Pentágono informam que 23 embarcações foram atacadas na região, embora não haja provas públicas de vínculo direto com o narcotráfico.
A escalada coincide com as ameaças recentes do presidente Donald Trump, que acusa Maduro de liderar o cartel de Los Soles, agora classificado como organização terrorista internacional. A medida abre margem legal para operações norte-americanas em outros países sob o pretexto de combater o terrorismo. Trump também afirmou que ações por mar podem evoluir para operações diretas contra países que “produzam e vendam” drogas aos EUA, atingindo inclusive o presidente da Colômbia, Gustavo Petro.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal The Guardian


