"Queremos apenas diminuir os privilégios de alguns para dar um pouco de direitos para os outros", afirmou o presidente
Brasília (DF), 01/07/2025 - Luiz Inácio Lula da Silva participa do lançamento do Plano Safra 2025/26, no Palácio do Planalto (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Em discurso contundente nesta terça-feira (1), durante o lançamento do Plano Safra 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à resistência de setores da elite econômica à cobrança de impostos mais justos e saiu em defesa dos programas sociais do governo. Visivelmente emocionado, Lula rejeitou as acusações de populismo e reafirmou o compromisso de sua gestão com a responsabilidade fiscal aliada à justiça social. As falas foram registradas pela imprensa presente ao evento em Brasília.
O presidente reagiu à oposição de grupos que têm se mobilizado contra a proposta de tributação de grandes fortunas e rendas elevadas. "Quando a gente coloca que as pessoas que ganham mais de R$ 1 milhão têm que pagar um pouquinho mais, há uma rebelião", afirmou. E complementou: "Estamos querendo que 140 mil pessoas paguem uma parcelinha a mais para beneficiar 10 milhões de pessoas. É tão pouco…".
☆ "A desgraça da doença da acumulação de riqueza" - Lula destacou o contraste entre a fortuna de poucos e a necessidade de muitos, classificando a resistência a uma política fiscal mais equitativa como uma questão de ganância. "Todo mundo é muito bem informado, letrado. Só pode ser ganância, a desgraça da doença da acumulação de riqueza", declarou, ao denunciar a lógica concentradora que, segundo ele, ainda predomina nas decisões econômicas do país.
O presidente fez questão de frisar que sua proposta de reforma tributária, que começa a vigorar apenas em 2027, não trará dividendos eleitorais imediatos. "Vocês acham que eu ia fazer reforma tributária que não vai trazer nenhum benefício para nenhum eleitor até 2026?", questionou. "Os benefícios serão todos para 2027. [...] O que estamos tentando fazer é dar a esse país a cara que ele precisa para chegar a fazer parte do mundo desenvolvido."
☆ Defesa apaixonada dos programas sociais - Ao abordar os ataques aos programas sociais, Lula elevou o tom e demonstrou indignação. Citou nominalmente o BPC, o Bolsa Família e o Pé-de-Meia — este último voltado a evitar a evasão escolar — como iniciativas fundamentais para promover cidadania. "Fico triste quando vejo as pessoas jogarem a culpa em cima dos doentes, do BPC, do Bolsa Família, do Pé-de-Meia, para garantir que 500 mil moleques que desistiam da escola para trabalhar não desistam", afirmou. Em seguida, fez um apelo direto: "Pelo amor de Deus, não desistam. Voltem a estudar, porra. Esse dinheiro que estão recebendo será devolvido em dobro para o Estado quando vocês estiverem formados como cidadãos de primeira classe nesse país."
☆ "Queremos apenas diminuir privilégios" - Encerrando sua fala, Lula defendeu uma reconfiguração do pacto fiscal brasileiro com foco na equidade. "Esse país será o que a gente quiser que ele seja. [...] Para isso é preciso diminuir os privilégios", disse. E concluiu com uma frase que resumiu o espírito de seu discurso: "Ninguém está querendo tirar nada de ninguém. Queremos apenas diminuir os privilégios de alguns para dar um pouco de direitos para os outros."
O presidente também lembrou que, entre 2003 e 2010, seu governo foi o único entre os países do G20 a registrar superávit primário anual, rebatendo críticas sobre responsabilidade fiscal. E destacou que, atualmente, a própria estrutura do novo arcabouço limita o crescimento das despesas públicas a 2,5% ao ano. "Se eu estivesse pensando pequeno, eu ia fazer isso?", provocou.
O pronunciamento de Lula ecoa o embate em curso entre o governo e setores conservadores da economia que resistem à revisão de privilégios fiscais. Em meio ao cenário polarizado, o presidente aposta na transparência, no discurso direto e na defesa dos mais vulneráveis como pilares de sua política econômica.
Fonte: Brasil 247