
Mensagens encontradas pela Polícia Federal (PF) no celular de Maurício Camisotti, preso por suposto envolvimento no esquema bilionário de descontos indevidos contra aposentados do INSS, revelam tentativas do empresário de influenciar os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as fraudes. Com informações do Metrópoles.
Camisotti é apontado como beneficiário final do dinheiro arrecadado por três entidades envolvidas nas fraudes contra aposentados. O empresário está preso desde 12 de setembro, por determinação judicial, e permanece detido na sede da PF em São Paulo.
De acordo com a PF, Camisotti trocou mensagens com o advogado Nelson Wilians e um interlocutor identificado apenas pelo codinome “GS-USA”, nas quais menciona três parlamentares que poderiam ser procurados para tentar blindá-lo na CPMI.
As conversas ocorreram entre 22 de agosto e 11 de setembro, dois dias após a instalação da CPMI e um dia antes da prisão do empresário. Camisotti demonstrava preocupação com as convocações de sua esposa e de integrantes de suas empresas, insistindo em contatos com o senador Izalci Lucas (PL-DF), autor de requerimentos contra ele e outros envolvidos.
O interlocutor “GS-USA” sugeria ainda articulações com Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, e com o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

☉ PF aponta estratégia de blindagem política
Segundo a Polícia Federal, os dados do celular de Camisotti demonstram que ele atuava para proteger sua imagem e influenciar investigações.
“Os registros revelam a capacidade de o investigado aproximar-se de estruturas de poder a ponto de potencialmente influenciar o andamento de trabalhos investigativos conduzidos seja no âmbito policial ou na Comissão Parlamentar de Inquérito”, afirmou a PF ao pedir a manutenção da prisão preventiva.
Apesar das tentativas, as manobras não evitaram sua convocação. O empresário foi chamado a depor no primeiro dia da CPMI, teve o sigilo quebrado em 11 de setembro e foi preso no dia seguinte, em um desdobramento da Operação Sem Desconto.
☉ Contatos com advogado e lobistas
A PF também identificou que, antes da instalação da CPMI, o advogado Nelson Wilians trocou mensagens e realizou uma chamada de vídeo com Camisotti. Ele teria enviado uma lista com nomes de deputados e senadores que participariam da comissão e notícias sobre requerimentos de convocação e quebra de sigilo.
Na conversa, Camisotti sugeriu que Wilians entrasse em contato com o senador Izalci, mas o advogado preferiu tratar do tema depois. Izalci, no entanto, lembrou que um de seus 400 requerimentos foi justamente o que convocou Wilians para depor.
A PF observou ainda que parte das mensagens trocadas entre Camisotti e Wilians foi apagada automaticamente, em razão do uso do recurso de mensagens temporárias do WhatsApp, configurado para excluir conteúdos em 24 horas.
☉ Interlocutor “GS-USA” e reuniões suspeitas
Três dias antes do início efetivo da CPMI, Camisotti trocou mensagens com o contato “GS-USA”, registrado com um número do Texas (EUA). Segundo os investigadores, há indícios de que o interlocutor atua entre São Paulo, Brasília e o Sul do país.
Em um trecho, “GS-USA” menciona uma reunião sobre um “deputado aqui do Sul”, em referência a Zucco. Em outra conversa, relata um encontro na Churrascaria Rodeio, no Shopping Iguatemi (São Paulo), dizendo ter participado de uma reunião com seis pessoas, entre elas Rodrigo Califoni, executivo do grupo de Camisotti.
A PF destacou que o interlocutor mentiu ao afirmar que Zucco seria membro da CPMI, o que não é verdade.
“Nesse diálogo, o interlocutor menciona o nome do deputado Zucco como pauta de uma reunião ocorrida às 13h na Churrascaria Rodeio, localizada no Shopping Iguatemi, em São Paulo/SP. Segundo o conteúdo da mensagem, o interlocutor teria participado do encontro juntamente com outras seis pessoas, sendo o investigado representado por Rodrigo Califoni”, diz a PF sobre a mensagem.
☉ Reações dos parlamentares citados
Os três negaram qualquer envolvimento. Izalci repudiou “qualquer tentativa de associar seu nome a pessoas ou fatos investigados pela CPMI do INSS”. Zucco afirmou que não faz parte da comissão e chamou os envolvidos nas conversas de “lobistas” e “vagabundos”.
Já Pimenta disse nunca ter conversado com Camisotti ou com “qualquer pessoa por ele indicada” e destacou que foi ele quem convocou o empresário e sua esposa para depor.
Fonte: DCM com informações do Metrópoles







