Reunião do G7 se estende até terça-feira. Presidente Lula participará do encontro como convidado
Placa da cúpula do G7 no Canadá (Foto: Reuters/Amber Bracken) Reuters - Líderes do Grupo dos Sete se reúnem a partir deste domingo nas Montanhas Rochosas canadenses em meio a crescentes divergências com os Estados Unidos sobre política externa e comércio, enquanto o anfitrião, o Canadá, tenta evitar confrontos com o presidente Donald Trump.
Embora o primeiro-ministro Mark Carney afirme que suas prioridades são o fortalecimento da paz e da segurança, a construção de cadeias de suprimento de minerais críticos e a criação de empregos, questões como tarifas norte-americanas e os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia devem dominar os debates.
Aliado dos EUA, Israel lançou uma série de ataques contra o Irã na quinta-feira, o que representou um revés para os esforços diplomáticos de Trump para evitar esse tipo de ação.
A cúpula será realizada no resort montanhoso de Kananaskis, a cerca de 90 km a oeste de Calgary. Na última vez em que o Canadá sediou o encontro, em 2018, Trump deixou o evento antes do encerramento e, posteriormente, chamou o então primeiro-ministro canadense Justin Trudeau de “muito desonesto e fraco”, ordenando que a delegação dos EUA retirasse o apoio ao comunicado final.
“Esta será uma reunião bem-sucedida se Donald Trump não tiver uma explosão que desestabilize todo o encontro. Qualquer coisa além disso é lucro”, avaliou Roland Paris, professor de relações internacionais da Universidade de Ottawa e ex-assessor de política externa de Trudeau.
Trump já chegou a sugerir a anexação do Canadá e desembarca no país em meio a ameaças de Carney de retaliações caso Washington não suspenda as tarifas sobre o aço e o alumínio.
“O melhor cenário... é que não haja grandes explosões ao final do encontro”, comentou Josh Lipsky, presidente de economia internacional do think tank Atlantic Council e ex-funcionário da Casa Branca e do Departamento de Estado.
O gabinete de Carney não quis comentar sobre o impacto dos ataques israelenses sobre a cúpula.
Sem comunicado conjunto - Diplomatas revelaram que o Canadá abandonou a ideia de um comunicado conjunto tradicional e optará por resumos do presidente, numa tentativa de evitar desastres e manter o diálogo com os EUA.
Um alto funcionário canadense informou que Ottawa deseja focar em ações que os sete membros — Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos — possam executar em conjunto.
O senador canadense Peter Boehm, experiente diplomata e representante pessoal de Trudeau na cúpula de 2018, afirmou que foi informado de que a reunião deste ano durará mais que o habitual, permitindo tempo para encontros bilaterais com o presidente dos EUA.
Líderes da Ucrânia, México, Índia, Austrália, África do Sul, Coreia do Sul e Brasil são esperados para partes do evento, que vai de domingo a terça-feira — todos com motivos para conversar com Trump.
“Muitos desejarão conversar com o presidente Trump sobre seus próprios interesses e preocupações”, declarou Boehm por telefone.
Um alto funcionário norte-americano disse na sexta-feira que as discussões de trabalho abordarão comércio e economia global, minerais críticos, tráfico de migrantes e drogas, incêndios florestais, segurança internacional, inteligência artificial e segurança energética.
“O presidente está ansioso para buscar seus objetivos em todas essas áreas, incluindo tornar as relações comerciais dos EUA mais justas e recíprocas”, disse o funcionário.
A visita do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky à Casa Branca em fevereiro terminou em desentendimentos e serviu de alerta para outros líderes sobre os desafios de negociar com Trump.
Mas, segundo diplomatas, a frustração com o governo Trump também levou alguns a quererem afirmar-se com mais veemência.
O Canadá é há muito um dos principais defensores da Ucrânia. Trump assumiu o cargo prometendo acabar com a guerra contra a Rússia em 24 horas, mas os esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito estagnaram.
Um funcionário ucraniano envolvido na preparação da cúpula disse que as esperanças por uma declaração forte em apoio a Kiev diminuíram. O sucesso seria, no máximo, um encontro cordial entre Trump e Zelensky.
Um representante europeu afirmou que a cúpula do G7 e a da Otan, que ocorrerá em Haia ainda neste mês, são oportunidades para pressionar Trump a apoiar um pacote de sanções elaborado por senadores norte-americanos junto a medidas europeias que buscam forçar um cessar-fogo e abrir espaço para negociações mais amplas com a Rússia.
Teste inicial - Segundo Max Bergmann, diretor do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, esta primeira cúpula internacional será um indicativo inicial sobre o grau de disposição de Trump em cooperar com aliados na resolução de problemas comuns.
“A grande questão é se os Estados Unidos ainda estão comprometidos com formatos como o G7. Esse será o grande teste”, afirmou Bergmann.
O presidente francês Emmanuel Macron declarou ter uma boa, porém franca, relação com Trump, apesar de divergências sobre temas como Ucrânia e mudanças climáticas.
Macron afirmou na sexta-feira que uma conferência das Nações Unidas, coorganizada por França e Arábia Saudita e prevista para ocorrer após o G7 com o objetivo de avançar em uma solução de dois Estados para Israel e Palestina, foi adiada.
Fonte: Brasil 247 com Reuters