quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Lula e Trump discutiram ação conjunta contra o crime organizado, diz Haddad

Ministro da Fazenda diz que Lula discutiu com o presidente dos EUA temas como lavagem de dinheiro, armas ilegais e recuperação de ativos no exterior

        Lula e Donald Trump - 23 de setembro de 2025 (Foto: Reuters)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para tratar de uma cooperação direta voltada ao combate do crime organizado que atua entre os dois países. De acordo com o G1, Haddad disse que o diálogo entre os dois chefes de Estado abordou três temas centrais: lavagem de dinheiro, recuperação de ativos mantidos no exterior e reforço no controle sobre armas enviadas dos EUA para o Brasil.

● Conexões financeiras mapeadas pela Receita

Haddad relatou que órgãos brasileiros identificaram vínculos relevantes entre organizações criminosas e estruturas financeiras instaladas nos Estados Unidos. Segundo ele, a Receita Federal descobriu mecanismos explorados por criminosos brasileiros para movimentar recursos ilícitos aproveitando brechas na legislação estadunidense.

“Nós descobrimos, por meio de um trabalho da Receita Federal, as conexões do crime organizado com o território americano, com pessoas que atuam lá se valendo de uma legislação mais permissiva para lavar dinheiro do crime do Brasil”, afirmou. O ministro acrescentou que parte desse dinheiro retorna ao Brasil mascarada como investimentos legais para aquisição de propriedades e empresas. “O crime organizado está usando um país que tem relação diplomática conosco há mais de 200 anos para lavagem de dinheiro”, disse.

● Fundos ilegais em Delaware e provas já enviadas ao MP

A Receita identificou 15 fundos no estado de Delaware utilizados para movimentações ilegais. “Esses fundos, pela legislação local, não são obrigados a identificar seus titulares, mas a Receita conseguiu identificar justamente pela origem ilícita do dinheiro”, explicou Haddad.

Ele afirmou que todas as estruturas criminosas, incluindo laranjas e representantes em ambos os países, já foram mapeadas. “Temos provas muito robustas, um conjunto probatório alentado que já foi encaminhado ao Ministério Público Federal e aos MPs estaduais”, disse.

● Patrimônio irregular nos EUA e vínculo com a máfia dos combustíveis

Segundo Haddad, parte do dinheiro desviado permanece nos Estados Unidos na forma de mansões, iates e participações empresariais. “Podemos, com ajuda do governo americano, recuperar esses ativos para ressarcir estados e a União”, declarou.

O ministro também apontou conexão direta entre o esquema e a chamada máfia dos combustíveis. “A máfia do combustível está completamente associada a essas atividades”, afirmou, destacando que operações como Carbono Oculto e Poço de Lobato já demonstraram isso.

Em um período de 12 meses, a Receita identificou R$ 70 bilhões movimentados pelo grupo econômico investigado, incluindo uma única operação de envio de R$ 1,2 bilhão ao exterior. “Podemos estar falando de alguns bilhões de reais” passíveis de recuperação, disse.

● Armas enviadas dos EUA ao Brasil sem controle

Outro ponto tratado entre os presidentes diz respeito ao envio de fuzis inteiros ou desmontados escondidos em contêineres que deixam portos americanos sem escaneamento. “Nosso pedido é que o mesmo rigor cobrado do Brasil para escanear contêineres buscando drogas seja aplicado às mercadorias que vêm dos EUA”, afirmou Haddad, destacando que armas norte-americanas continuam abastecendo o crime “nas comunidades”.

Balanço positivo da conversa

O ministro avaliou a conversa como produtiva. “Segundo relatos, o telefonema foi o melhor possível, e a reação dele foi bastante sintonizada com o que era esperado pelo presidente Lula”, disse. Haddad afirmou que Trump orientou o Departamento de Justiça dos EUA a receber o material enviado pelo governo brasileiro, que está sendo traduzido. “Podemos inaugurar uma relação inédita, simétrica e equilibrada, com compromissos mútuos de cooperação”, afirmou.

Em uma rede social, Trump disse ter tido “uma conversa muito boa” com Lula. Ao ser questionado por jornalistas, declarou: “Falamos sobre comércio. Falamos sobre sanções porque, como você sabe, eu impus sanções relacionadas a certas coisas que aconteceram”. Em seguida, acrescentou: “Tivemos algumas boas reuniões, como você sabe, mas hoje tivemos uma conversa muito boa”.

● Tarifaço também entrou na pauta

Haddad afirmou que Lula aproveitou a ligação para discutir o chamado tarifaço, que envolve barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. “Nós não vamos descansar até que a última empresa brasileira esteja isenta de algo completamente injusto”, disse o ministro, relatando ter percebido “boa receptividade” do governo estadunidense.

Fonte: Brasil 247

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