Primeira-dama afirma ser “inadmissível” que mulheres ainda precisem pedir para não serem mortas e defende ação conjunta da sociedade
A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, voltou a condenar publicamente o aumento dos casos de violência contra mulheres no país e pediu engajamento dos homens no enfrentamento ao feminicídio. As declarações foram dadas à CNN Brasil nesta terça-feira (2), após uma sequência de crimes de grande repercussão ocorridos nos últimos dias.
Segundo a reportagem da emissora, Janja classificou como inaceitável que, em pleno 2025, mulheres ainda precisem reivindicar direitos básicos relacionados à própria sobrevivência. “É inadmissível que tenhamos que, em 2025, falar coisas óbvias como ‘por favor, não nos matem’. Mas coisas óbvias também precisam ser ditas, infelizmente”, afirmou.
Durante a entrevista, a primeira-dama reforçou que o combate à violência de gênero não pode ser responsabilidade exclusiva das mulheres. “Enquanto os homens não se unirem a nós para combater o feminicídio, para criar realmente uma consciência de que as mulheres precisam viver plenamente, infelizmente não vamos evoluir como humanidade”, declarou.
Janja também destacou a importância de uma mudança de mentalidade coletiva para que mulheres possam exercer sua liberdade e viver com dignidade. “Os homens precisam entender que nós estamos aqui para andar lado a lado e construir, junto com eles, um presente e futuro onde todas nós possamos viver. E viver com dignidade. Precisam entender que a nossa liberdade deve coexistir com a liberdade deles”, afirmou. Em seguida, completou: “Repito que a luta contra o feminicídio deve ser de todas e todos nós. Das mulheres, porque somos nós quem sofremos, nos nossos corpos, a violência que os homens praticam, mas também dos homens, porque são eles quem tiram nossas vidas”.
As falas da primeira-dama ocorreram horas após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mencionar, durante discurso em Ipojuca (PE), que foi ela quem solicitou uma abordagem mais firme por parte do governo diante da escalada da violência. Lula disse que Janja lhe pediu uma "luta mais dura" contra agressões praticadas por homens. O presidente, em tom crítico, apelou para que homens assumam responsabilidade e reflitam sobre suas atitudes: “Se você não está bem com sua companheira, por favor, seja grande, não bata nela, se separe dela. Se ela não gosta de você, ela não é obrigada a ficar com você, deixa ela cuidar da vida dela. Não aprisione essa pessoa, não seja malvado, não seja ignorante”.
Lula também lamentou a impunidade percebida em muitos casos e foi enfático sobre a necessidade de reação da sociedade masculina: “Porque, pensando bem, não existe pena para punir um cara desse, porque até a morte é suave. É preciso que haja um movimento nacional dos homens, contra os animais que batem, que judiam, que maltratam as mulheres”.
Casos recentes que intensificaram o debate
As manifestações de Janja e Lula ocorrem em meio à repercussão de crimes brutais registrados em diferentes regiões do país.Na segunda-feira (1º), em São Paulo, Bruno Lopes Fernandes Barreto atirou ao menos seis vezes contra a ex-companheira, Evelin de Souza Saraiva, dentro da pastelaria onde ela trabalhava, na zona norte da capital. A vítima segue internada em estado grave.
No sábado (29), outro caso chocou o país: Taynara Souza Santos, de 31 anos, foi atropelada e arrastada por mais de 1 quilômetro por um veículo conduzido por Douglas Alves da Silva na Marginal Tietê, também na capital paulista. Ela teve as duas pernas amputadas e permanece sem previsão de alta.Dados oficiais mostram que São Paulo registrou, entre janeiro e outubro, o maior número de feminicídios desde o início da série histórica, em 2015. Foram 53 casos — ante 42 no mesmo período do ano anterior.No mesmo fim de semana, em Antônio João (MS), um homem foi preso por agredir a companheira e incendiar uma aldeia indígena. Já no Recife (PE), um homem matou a esposa e os quatro filhos, de um a sete anos, após incendiar a casa da família.
Há dez dias, o caso de Catarina Kasten, de 31 anos, também ganhou ampla repercussão. Ela foi estuprada e assassinada na trilha da Praia do Matadeiro, em Florianópolis (SC). O acusado, Giovane Correa Mayer, de 21 anos, foi denunciado pelo Ministério Público.Com a sequência de crimes e a crescente pressão social, governo federal, organizações de defesa dos direitos das mulheres e entidades civis reforçam o apelo por políticas mais eficazes, ações educativas e mobilização permanente para enfrentamento da violência de gênero.
Fonte: Brasil 247 com informações da CNN Brasil
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