Elogio de Donald Trump ao presidente na ONU gera apreensão entre aliados de Bolsonaro
A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Assembleia Geral da ONU, repercutiu fortemente no meio político brasileiro. A informação foi publicada pelo jornal O Globo, que ouviu lideranças bolsonaristas preocupadas com a possibilidade de que esse movimento resulte no enfraquecimento das sanções impostas a autoridades brasileiras ligadas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Trump afirmou ter sentido “afinidade recíproca” com Lula e adiantou que pretende conversar com o presidente nos próximos dias. Para a ala bolsonarista no Congresso, esse aceno pode representar um processo de reaproximação entre os dois governos, capaz de alterar o cenário de punições aplicadas por Washington a figuras centrais da política brasileira.
☉ O temor bolsonarista e o cálculo político
Atualmente, além da sobretaxa de 50% sobre parte das exportações brasileiras, os Estados Unidos mantêm sanções individuais contra autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes, atingidos pela Lei Magnitsky. Essa medida, usada para casos de corrupção e violações de direitos humanos, impede o acesso a serviços financeiros nos EUA e restringe a concessão de vistos.
Apesar disso, o discurso oficial de bolsonaristas tem sido de cautela. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), principal articulador das sanções contra o Brasil, minimizou os elogios de Trump a Lula, afirmando que a postura do republicano segue uma lógica estratégica. Segundo ele, Trump “aumentou a tensão, aplicou sanções e depois se recolocou à mesa em posição de força”.
Para Eduardo, a conversa anunciada não representa uma vitória para Lula:
“O que se vê é a marca registrada de Trump: ele entra na mesa quando quer, da forma que quer e na posição que quer”.
O parlamentar reforçou ainda que cabe ao presidente brasileiro tentar extrair algum benefício diante da dependência econômica do Brasil em relação aos Estados Unidos:
“Ao final, Trump ainda disse que sem os EUA o Brasil vai mal. Não há para onde correr: o Brasil precisa dos EUA, reconheça isto ou não”.
☉ Reações no Congresso e entre partidos
A aproximação entre Trump e Lula dividiu opiniões no Congresso. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), elogiou o discurso de Lula na ONU e defendeu o diálogo como solução para superar as barreiras comerciais:
“Sempre defendo que o governo brasileiro possa, em diálogo com o governo americano, deixar para trás essa questão das tarifas e sanções. O Brasil precisa de instituições sólidas, democracia forte e soberania preservada”.
Lindbergh Farias (PT-RJ) destacou que Lula adota postura altiva diante dos EUA, comparando-a à relação construída no passado com George W. Bush:
"Fico vendo como essa turma bolsonarista deve estar desesperada. Lula é genial. Maior orgulho de seguir esse cara”.
A deputada Erika Hilton (Psol-SP) avaliou que Trump “recalculou a rota” após falhas em medidas anteriores contra o Brasil, enquanto a bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC) afirmou que “a narrativa de Lula de que Trump não queria negociar cai por terra”.
Já o deputado Filipe Barros (PL-PR) ironizou:
“Trump quer falar com o Lula. O problema é que, do outro lado, há o Lula”.
☉ Um novo capítulo nas relações bilaterais
O gesto de Donald Trump sinaliza a possibilidade de mudança no clima entre os governos de Washington e Brasília. Para aliados de Lula, abre-se espaço para uma recomposição diplomática; para bolsonaristas, instala-se a incerteza sobre a manutenção das sanções.
Com Lula defendendo soberania e diálogo em seu discurso na ONU e Trump acenando positivamente, o cenário entre Brasil e Estados Unidos entra em uma fase de expectativa, que pode redefinir os rumos da política externa brasileira e suas relações comerciais com uma das maiores potências do planeta.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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