Almir Garnier negou que a movimentação militar tenha buscado intimidar o Congresso na votação da PEC do voto impresso
Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos afirmou que o polêmico desfile de blindados em Brasília, no dia 10 de agosto de 2021, não teve como objetivo pressionar a Câmara dos Deputados. Na ocasião, os parlamentares analisavam a proposta de emenda à Constituição (PEC) que instituía o voto impresso. Segundo Garnier, o evento foi resultado de um planejamento logístico prévio e coincidiu com a votação, informa o g1.
Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre o motivo da operação acontecer justamente naquela data, Garnier respondeu que a movimentação fazia parte de um exercício anual da Marinha em Formosa (GO), e que os blindados haviam sido deslocados do Rio de Janeiro com antecedência. “Ao assumir o comando em abril, eu falei: ‘olha, vamos fazer uma visitação pública com esses veículos aqui na Esplanada. Todo mundo pode ver’. Contudo, isso não foi programado para o dia da votação no Congresso”, disse.
Ainda segundo o militar, a data da votação teria sido alterada pela Câmara apenas cinco dias antes, coincidindo com o desfile previamente agendado. “O que eu tenho impressão é de que essa votação seria feita em uma comissão especial. O presidente da Câmara decidiu levar ao plenário e marcou para a data em que já estava marcado todo esse deslocamento”, afirmou Garnier.
O episódio, que reuniu tanques, blindados, caminhões e jipes, causou constrangimento entre parlamentares e gerou críticas públicas por lembrar demonstrações de força típicas de regimes autoritários. Na manhã daquele dia, o comboio saiu do Grupamento de Fuzileiros Navais e seguiu até a Esplanada dos Ministérios, percorrendo cerca de 4,5 km. O então presidente Jair Bolsonaro (PL) observava a movimentação da rampa do Palácio do Planalto.
Instrução processual chega à fase final - Almir Garnier é o terceiro dos oito réus do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado a prestar depoimento ao STF.
O julgamento avança para a etapa final da instrução processual, fase em que são reunidas provas para embasar as decisões dos ministros. Após os depoimentos, o processo poderá seguir para diligências solicitadas por defesa ou acusação. Em seguida, será aberto prazo de 15 dias para entrega das alegações finais, e o caso será submetido à Primeira Turma do Supremo.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo responde por participar de um esquema criminoso que buscava romper a ordem democrática e impedir a posse de autoridades eleitas em 2022.
O que disseram os outros depoentes - Na segunda-feira (9), o primeiro a depor foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e colaborador da Polícia Federal. Cid reafirmou os principais pontos da denúncia e declarou: “presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”. Ele disse não ter sido coagido em seu acordo de delação e manteve as versões anteriores prestadas à PF.
Entre as revelações, Cid confirmou que Bolsonaro teve acesso ao texto da chamada “minuta do golpe” e pediu alterações. “Ele retirou o item que previa a prisão de autoridades, mas manteve o que previa a detenção do ministro Alexandre de Moraes”, contou. Ainda segundo o militar, o então presidente pressionou o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para produzir um relatório com críticas ao sistema eletrônico de votação. Questionado por Moraes, Cid confirmou que Bolsonaro queria um texto “duro” contra as urnas.
Outro a prestar esclarecimentos foi o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele negou ter utilizado a estrutura da Abin para monitorar autoridades e disse que um documento em que questionava o resultado das eleições de 2022 era apenas um “rascunho pessoal”. “Decerto que não fiz monitoramento de autoridades”, declarou.
Fonte: Brasil 247 com informações do G1
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