O Sport Club Corinthians Paulista vive mais um capítulo conturbado de sua política interna. Na segunda-feira (26), o Conselho Deliberativo aprovou, por ampla maioria, o impeachment do presidente Augusto Melo, afastando-o do cargo. A decisão ainda precisa ser referendada em assembleia-geral com os associados do clube, mas, até lá, quem assume interinamente a presidência é o empresário Osmar Stábile, conselheiro vitalício e velho conhecido dos bastidores do Parque São Jorge.
Stábile chega ao cargo mais alto do clube em meio a uma das maiores crises recentes da gestão corintiana. A votação no Conselho teve 236 participantes: 176 votos a favor do impeachment, 57 contra, dois conselheiros se abstiveram e houve um voto em branco. O presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., tem agora até cinco dias para marcar a assembleia-geral que poderá tornar definitiva a saída de Augusto Melo. A expectativa é que a votação entre os sócios aconteça entre 30 e 60 dias.
Mas quem é Osmar Stábile, o homem que, ao menos temporariamente, comandará um dos clubes mais populares do Brasil?
Stábile tem longa trajetória no clube: é conselheiro vitalício desde 2006 e foi vice-presidente de esportes terrestres na gestão de Alberto Dualib — que, assim como Augusto Melo, acabou afastado por escândalos — durante o fatídico ano de 2007, quando o Corinthians foi rebaixado à Série B.
Ele também tentou chegar à presidência do clube em 2007 e 2009, sendo derrotado por Andrés Sanchez. Em 2012 e 2018, integrou como vice a chapa de Roque Citadini, também sem sucesso.
Foi apenas em 2023 que Stábile chegou ao poder, compondo a chapa vitoriosa de Augusto Melo, que pôs fim ao domínio de 16 anos do grupo Renovação e Transparência. A união, no entanto, não durou. Com as denúncias envolvendo a ex-patrocinadora Vai de Bet — incluindo a suspeita de que o acordo foi intermediado por uma empresa fantasma ligada ao crime organizado —, parte da base de apoio de Melo se voltou contra ele.
Nos bastidores, Stábile foi apontado como um dos articuladores do movimento pelo impeachment, embora nunca tenha se posicionado oficialmente.
Mas o nome de Osmar Stábile carrega controvérsias que vão além dos muros do Parque São Jorge. Fora do clube, ele é sócio da Bendsteel, empresa do setor de estamparia de metais. Em 2019, tornou-se figura nacionalmente conhecida ao ser revelado como o financiador de um vídeo em comemoração ao golpe militar de 1964, compartilhado nas redes sociais da família Bolsonaro.
O conteúdo exaltava o regime militar e foi alvo de críticas por minimizar violações de direitos humanos. À época, Stábile não apenas confirmou o financiamento, como divulgou uma nota reafirmando seu posicionamento. “Sou um patriota e entusiasta do contragolpe preventivo (pois é assim que boa parte dos historiadores sem ideologias pré-concebidas enxergam 1964)”, escreveu.
Ele também criticou o que considera uma “narrativa única” sobre o período e afirmou que “os esforços das Forças Armadas evitaram males políticos maiores para a nação”.
A posição de Stábile gerou polêmica por relativizar os abusos da Ditadura Militar, incluindo torturas, censura, assassinatos e desaparecimentos forçados. Suas declarações reforçaram a percepção de alinhamento com a extrema-direita e com a visão revisionista do regime.
Agora no comando do Corinthians, ainda que interinamente, Stábile terá a missão de conduzir o clube em meio ao caos administrativo e político. Mas a sua chegada ao cargo reacende um debate que ultrapassa as quatro linhas: qual é o papel político das figuras que comandam instituições tão simbólicas como o Corinthians, clube que já foi sinônimo de resistência e democracia nos tempos da ditadura – e que, agora, é liderado por um entusiasta declarado daquele regime?
Fonte: DCM