Petrobras estimava redução de R$ 0,12 por litro, mas pesquisas da ANP e ValeCard mostram que queda real nos postos foi bem inferior na primeira semana
Apesar do corte anunciado pela Petrobras no início da semana, o preço da gasolina ainda não apresentou a redução esperada nas bombas. Segundo levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), divulgado nesta sexta-feira (7), o preço médio do litro caiu apenas R$ 0,02, chegando a R$ 6,25 — bem abaixo dos R$ 0,12 por litro estimados pela estatal como impacto do reajuste. O dado é corroborado por pesquisa da ValeCard, empresa especializada em gestão de frotas, que identificou queda nos preços apenas em dez estados, sendo superior a R$ 0,05 em apenas três deles.
A informação foi publicada pela Folha de S.Paulo e expõe um impasse antigo entre os diferentes elos da cadeia de combustíveis: a Petrobras alega que a redução nos preços demora a chegar ao consumidor, enquanto sindicatos de postos afirmam que o problema está nas distribuidoras. “Em reduções recentes do diesel, as principais distribuidoras não repassaram a baixa na íntegra”, declarou o Paranapetro, sindicato dos postos do Paraná, em nota divulgada após o anúncio da Petrobras. A entidade afirma que a velocidade do repasse depende dessas empresas intermediárias.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, também tem pressionado o setor. Nesta semana, ela incentivou os consumidores a cobrarem diretamente os postos por reduções mais rápidas no preço da gasolina. As críticas da executiva se somam a outras feitas anteriormente, quando houve demora semelhante na queda do preço do diesel após cortes promovidos pela empresa.
De acordo com a ANP, desde o pico de R$ 5,72 por litro registrado no início de fevereiro, o preço médio do diesel vendido pelas distribuidoras caiu R$ 0,37. No entanto, nos postos, a queda acumulada desde o fim daquele mês é de apenas R$ 0,39, mostrando que boa parte da redução de preço só chega ao consumidor final de forma parcial e com atraso.
Na última semana, o ritmo de redução foi ainda mais tímido. O diesel S-10, por exemplo, teve queda de apenas R$ 0,01, sendo vendido a R$ 6,05 por litro. O etanol hidratado também teve leve recuo de R$ 0,03, fechando a semana a R$ 4,24 por litro. O preço do biocombustível tem sido influenciado pela entrada da safra de cana-de-açúcar no mercado.
A lentidão no repasse tem implicações macroeconômicas. Como a gasolina tem grande peso no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), sua redução afeta diretamente o índice oficial de inflação. O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que, se a queda de R$ 0,12 estimada pela Petrobras for de fato sentida nos postos, o impacto pode ser de -0,10 ponto percentual no IPCA.
O cenário, porém, continua incerto. Diante da cadeia complexa e descentralizada de distribuição de combustíveis no Brasil, o repasse dos cortes anunciados pela Petrobras pode demorar mais do que o desejado — ou nem acontecer integralmente. Enquanto isso, consumidores seguem pagando quase os mesmos valores de antes do reajuste, e o potencial de alívio nos preços permanece travado entre distribuidoras e revendedores.
Fonte: Brasil 247
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