“É como se fosse um polvo com muitos tentáculos tentando tomar conta de tudo”, afirmou o presidente
Durante visita à sede da Interpol em Lyon, na França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um duro diagnóstico sobre o avanço das organizações criminosas no mundo contemporâneo. Segundo ele, o crime organizado “está nas empresas, na política, no Judiciário, no futebol e na cultura”. A fala foi feita nesta segunda-feira (9) como parte da cerimônia oficial da qual participou o delegado Valdecy Urquiza, atual secretário-geral da Interpol — primeiro brasileiro a ocupar o posto mais alto da organização.
Para Lula, o enfrentamento ao crime exige uma resposta coordenada em escala global. “É como se fosse um polvo com muitos tentáculos tentando tomar conta de tudo que é errado no mundo”, alertou. Ele ainda enfatizou a complexidade crescente das atividades criminosas e o papel das novas tecnologias como catalisador dessa expansão transnacional.
✱ Reconhecimento ao delegado brasileiro e à Polícia Federal - O presidente fez questão de saudar a trajetória de Urquiza e o protagonismo da Polícia Federal brasileira no cenário internacional. “É honroso para o Brasil, para mim, para a nossa Polícia Federal, que é um modelo que serve para muitos países do mundo, é honroso ter um delegado brasileiro dirigindo possivelmente a mais antiga organização policial do mundo”, disse. “Faça disso uma profissão de fé. Faça com que a Interpol saia mais forte quando você sair do que quando você entrou”, completou Lula, dirigindo-se diretamente ao secretário-geral.
Lula também lembrou que essa é a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro visita a sede da Interpol, cuja atuação global envolve o combate ao terrorismo, resgate de vítimas de tráfico e exploração sexual, além da proteção ambiental.
✱ Cooperação internacional e combate ao crime - O presidente assinou uma declaração de intenções que aprofunda a parceria entre o Brasil e a Interpol, com foco em cinco eixos: ampliar a cooperação internacional contra o crime organizado, desarticular redes criminosas transnacionais, modernizar os órgãos de segurança pública do Brasil e da América Latina, proteger grupos vulneráveis e reforçar os direitos humanos na atuação policial.
Lula apresentou diversas iniciativas já em andamento, como a ampliação da rede de adidâncias da PF para 34 postos em cinco continentes, a criação do Centro de Cooperação Internacional da Amazônia, com os nove países que compartilham o bioma, e a plataforma permanente de colaboração instalada na Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), voltada ao combate ao tráfico de drogas, armas, pessoas e crimes financeiros.
✱ Segurança ambiental e combate ao garimpo ilegal - O discurso também destacou o vínculo entre segurança pública e proteção ambiental. Lula reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e mencionou que, em 2024, a PF brasileira apreendeu mais de US$ 250 milhões em bens ligados a crimes ambientais. Também foram inutilizados US$ 60 milhões em equipamentos de garimpos ilegais. O programa Ouro Vivo, uma cooperação entre Brasil e França, tem sido peça-chave no combate à exploração ilegal e ao tráfico de ouro e mercúrio, em especial em territórios indígenas.
✱ Cibercrime e financiamento ilícito - Lula chamou atenção ainda para os desafios da criminalidade digital e defendeu a repressão às fontes de financiamento do crime, com destaque para os mecanismos de lavagem de dinheiro. “Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional”, afirmou. Nesse sentido, ressaltou a criação da Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos em seu governo, voltada ao enfrentamento de fraudes bancárias, crimes de alta tecnologia e, especialmente, o abuso sexual infantil na internet.
Para o presidente, o papel das forças policiais hoje “talvez seja mais complicado do que em qualquer outro momento da história”. Ao colocar o crime organizado como um sistema tentacular com múltiplas conexões globais, Lula defendeu a atuação multilateral como única alternativa eficaz. “Assim como outros desafios da atualidade que exigem ação coletiva, como a mudança do clima e a governança do espaço digital, a cooperação policial permanecerá como prioridade na política externa brasileira”, concluiu.
Fonte: Brasil 247
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