quinta-feira, 29 de maio de 2025

Governo Lula adota cautela após ameaça dos EUA de restringir vistos a autoridades estrangeiras

Declarações de Marco Rubio, que podem atingir Alexandre de Moraes, geram mal-estar; diplomacia brasileira evita confronto direto

      Marco Rubio e Alexandre de Moraes

Diante da ameaça do secretário de Estado dos Estados Unidos, o senador republicano Marco Rubio, de impor sanções a autoridades estrangeiras acusadas de violar a liberdade de expressão, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por uma reação discreta. Segundo reportagem publicada por O Globo, o Planalto avalia que não há razões para “vestir a carapuça” e se expor, já que Rubio não mencionou nomes diretamente, embora aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acreditem que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, seja um dos principais alvos da medida. Rubio afirmou, em publicação na rede social X (antigo Twitter), que cidadãos americanos estão sendo "multados, assediados e acusados por autoridades estrangeiras por exercerem seus direitos de liberdade de expressão" e, por isso, os responsáveis "não deveriam ter o privilégio de viajar" para os EUA. A declaração provocou reações reservadas no Itamaraty e preocupação no Palácio do Planalto.

Embora a fala tenha sido genérica, interlocutores do governo brasileiro reconhecem que ela pode abrir margem para medidas concretas, como a restrição de entrada de autoridades brasileiras nos Estados Unidos. Fontes diplomáticas alertam que, caso a medida se concretize, a crise pode extrapolar o campo retórico e afetar seriamente a relação bilateral entre os dois países.

Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado na última quarta-feira (28), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reforçou a postura pragmática do governo. Ao ser questionado sobre o caso envolvendo Moraes, o chanceler reiterou que o Brasil atua com base em seus próprios interesses:— “Queria relembrar as palavras que disse, em que fiz referência ao Barão do Rio Branco, dizendo que o Brasil não tem alianças, não tem parcerias incondicionais. O principal é o interesse nacional, que está sempre em primeiro lugar” — afirmou Vieira.

Ele também comentou, de forma genérica, sobre políticas de concessão de vistos por outros países, enfatizando que se trata de uma prerrogativa soberana de cada Estado:— “A política de visto é de cada Estado, cada um toma as decisões de conceder ou não conceder. É uma decisão soberana de cada país” — disse.Apesar da tensão gerada, diplomatas brasileiros têm trabalhado nos bastidores para preservar o diálogo com Washington. O Itamaraty considera que não há elementos objetivos para uma reação mais contundente por parte do Brasil, uma vez que os nomes dos supostos alvos não foram revelados oficialmente.

A declaração de Rubio, que integra a ala mais conservadora do Partido Republicano e tem forte influência sobre temas ligados à política externa, também é vista com cautela por parte do governo brasileiro por estar inserida no contexto da pré-campanha eleitoral nos EUA. Caso Donald Trump retorne ao poder, avalia-se que sanções desse tipo possam ser efetivamente aplicadas, não apenas a autoridades brasileiras, mas também a figuras de outros países e até da União Europeia. O episódio acendeu um alerta no governo Lula sobre os rumos da política externa americana e os riscos de contaminação da agenda bilateral por disputas ideológicas. Por ora, o Brasil prefere manter o foco na preservação dos canais diplomáticos e evitar que especulações interfiram em uma relação estratégica para ambas as nações.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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