sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Otoni de Paula admite erro ao tratar Bolsonaro como “mito” e tenta se reposicionar na política

Deputado rompe com bolsonarismo, critica posturas extremistas do passado e se aproxima do governo do presidente Lula

       Otoni de Paula (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), pastor da Assembleia de Deus Missão e integrante da Frente Parlamentar Evangélica, fez um pronunciamento contundente em que reconheceu ter errado ao tratar Jair Bolsonaro como “mito”.

No discurso, reportado pelo Globo, Otoni afirmou que tem buscado se afastar do bolsonarismo e que hoje prefere “andar sozinho do que mal acompanhado”. O parlamentar, que foi vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, tenta agora reconstruir sua imagem pública e seu alinhamento político, aproximando-se do governo do presidente Lula.

◈ “Me arrependo”: deputado critica idolatria e admite que “parecia um louco”

Otoni de Paula abriu sua fala com um reconhecimento que marca uma inflexão em sua trajetória política. “Me arrependo quando gritei mito num lugar onde só deveria cultuar o Senhor. A culpa nunca foi de Bolsonaro. A culpa foi minha mesmo. Por isso, resolvi alertar meus irmãos que estão no mesmo lugar que ainda estive”, declarou.

O parlamentar também afirmou que não deseja mais ser identificado como extremista.
“Estou envergonhado, porque não parecia um pastor. Parecia um louco, que acha que tudo se resolve na bala e no tiro”, disse, numa referência direta às posições radicalizadas que defendeu durante o governo de extrema direita.

As palavras foram proferidas um dia após o trânsito em julgado da condenação de Bolsonaro e de outros sete réus do núcleo central da trama golpista.

◈ Distanciamento do bolsonarismo e aproximação de Lula

A ruptura de Otoni com o bolsonarismo não começou agora. Nos últimos meses, ele deu vários sinais de mudança.

Em 2024, o deputado elogiou publicamente o presidente Lula pela criação do Dia Nacional da Música Gospel, gesto que provocou reações negativas de lideranças protestantes mais alinhadas à extrema direita.

Mais recentemente, voltou a contrariar o antigo grupo político ao apoiar a indicação de Jorge Messias — então advogado-geral da União — para o Supremo Tribunal Federal, após o anúncio da aposentadoria de Luís Roberto Barroso.

Otoni também criticou a megaoperação policial realizada pelo governador Cláudio Castro (PL-RJ), que resultou na morte de 122 pessoas em comunidades do Rio de Janeiro.

◈ Arrependimento de antigas posições: racismo, violência policial e meritocracia

O deputado reconheceu no plenário da Câmara uma série de erros em falas e posturas que adotou durante o governo Bolsonaro. “Ao invés de ficar ao lado da Justiça, eu preguei que bandido tem que morrer. Em vez de denunciar o pecado do racismo, preferi dizer que racismo não existe na minha nação. Em vez de ser a favor da equidade, resolvi ser a favor da tal meritocracia. Como se filho de pobre pudesse concorrer com o rico”, afirmou.

As declarações expõem um reposicionamento político e pessoal, com críticas a discursos que reforçaram violência policial, negaram desigualdades estruturais e rejeitaram políticas de igualdade racial.

◈ Repercussão e impactos na cena política

O afastamento crescente de Otoni de Paula do bolsonarismo ocorre num momento de enfraquecimento do grupo político que apoiou o golpe de Estado contra Dilma e sustentou o discurso radical do ex-presidente. Ao mesmo tempo, sua aproximação com o governo Lula abre uma frente de diálogo com setores evangélicos historicamente associados à direita.

A mudança de postura pode alterar correlações dentro da Frente Parlamentar Evangélica, onde o deputado tem influência, e mexer com o equilíbrio entre diferentes correntes religiosas no Congresso.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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