Documentos do COAF e da Receita mostram transferências de investigados a igrejas e líderes religiosos, segundo a CPMI
CPMI do INSS - 16/10/2025 (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)
As investigações da CPMI do INSS avançam sobre possíveis repasses de recursos desviados de aposentadorias para instituições religiosas. As informações constam de documentação oficial enviada à comissão, reunindo relatórios do COAF e da Receita Federal.
No material disponibilizado à CPMI, os órgãos de controle apontam movimentações financeiras atípicas envolvendo empresários ligados a entidades como Amar Brasil, CONAFER e CBPA. Segundo os documentos, esses responsáveis teriam transferido valores altos e recorrentes para igrejas e pastores, levantando suspeitas sobre a finalidade das operações.
☉ Requerimentos ampliam o escopo da apuração
Novos requerimentos apresentados pelos parlamentares miram o rastreamento de valores supostamente desviados por meio de filiações fraudulentas, mensalidades indevidas e serviços não contratados. A CPMI busca esclarecer se esses recursos foram direcionados a instituições religiosas associadas à Igreja Batista da Lagoinha, a redes ligadas ao pastor André Valadão e à Sete Church, vinculada ao pastor César Beluci.
Outro pedido trata de supostas estruturas financeiras paralelas, como o chamado Clava Forte Bank, mencionado pelo COAF como possível mecanismo para mascarar a origem de dinheiro irregular.
A comissão pretende verificar se os repasses foram destinados a atividades legítimas, como doações e manutenção de templos, ou se serviram para ocultar lavagem de dinheiro, hipótese registrada nos relatórios analisados.
☉ Movimentações identificadas pela CPMI
Documentos da CPMI mostram que o grupo conhecido como Golden Boys transferiu 694 mil reais para a Sete Church, sediada em Alphaville, na cidade de Barueri (SP).
Outro núcleo investigado teria enviado 200 mil reais ao pastor Péricles Albino Gonçalves, da Igreja Evangélica Campo de Anatote, também em Barueri.
A CBPA repassou 1,9 milhão de reais à empresa Network. Desse montante:
11 mil reais chegaram à Fundação Boas Novas, presidida por Jônatas Câmara, irmão do deputado Silas Câmara;
37 mil reais foram destinados a Heber Tavares Câmara, filho do parlamentar;
146 mil reais foram para Milena Câmara, filha de Silas e advogada da CBPA;
9 mil reais foram enviados ao próprio deputado Silas Câmara, presidente da Frente Parlamentar Evangélica.
A empresa Conektah, também abastecida pela CBPA, repassou outros 37 mil reais a Heber Tavares Câmara.
☉ Associação dos Aposentados do Brasil e vínculos religiosos no DF
Outra frente da investigação envolve a Associação dos Aposentados do Brasil (AAB), entidade que opera no mesmo circuito das organizações sob suspeita. A AAB tem entre seus dirigentes fundadores de igrejas evangélicas em Brasília.
Entre eles estão Dogival José dos Santos, presidente da entidade e fundador da Primeira Igreja Pentecostal Cristo a Esperança / Cruzada Nacional de Evangelismo, em Ceilândia, e Lucineide dos Santos Oliveira, dirigente da Igreja Evangélica Pentecostal Ministério Visão de Deus, no Recanto das Emas.
A CPMI avalia se a atuação dessas lideranças em entidades e igrejas pode ter contribuído para o fluxo de recursos provenientes de descontos ilegais em aposentadorias.
☉ Próximos passos
A comissão aguarda a votação dos pedidos de quebra de sigilos bancários e fiscais das entidades e empresas investigadas, além do envio de novos Relatórios de Inteligência Financeira sobre repasses para igrejas. Também estão previstas oitivas de líderes religiosos mencionados nos documentos e a análise aprofundada sobre a possível atuação do Clava Forte.
Fonte: Brasil 247