terça-feira, 28 de outubro de 2025

Sinais de desinflação impulsionam queda dos juros futuros no Brasil

Expectativas de inflação menores e política conservadora do Banco Central reforçam apostas em cortes da Selic a partir de janeiro

Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante coletiva de imprensa, em Brasília - 27/03/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

O mercado financeiro brasileiro vive um momento de alívio. As taxas de juros futuros recuaram de forma expressiva, atingindo o menor patamar em um ano, em meio a sinais consistentes de desinflação e à melhora das expectativas inflacionárias. Segundo reportagem do Valor Econômico, investidores voltaram a demonstrar otimismo com a possibilidade de cortes na taxa Selic a partir do início de 2026, movimento sustentado por revisões mais brandas no Boletim Focus e pela estabilidade cambial.

Na última semana, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2029 caiu de 13,46% para 13,045%, chegando a tocar 12,97% em determinado momento — o menor nível desde novembro de 2024. O avanço da desinflação, aliado à redução nos preços da gasolina anunciada pela Petrobras, vem contribuindo para um ambiente mais favorável no mercado de juros.

☉ Expectativas mais baixas e credibilidade do BC

As projeções de inflação de longo prazo também recuaram. O Boletim Focus mostra que a mediana das estimativas para o IPCA de 2026 caiu de 4,29% para 4,20%, enquanto as de 2028 recuaram de 3,70% para 3,54%. Para analistas, o movimento sinaliza um ganho de confiança na atuação do Banco Central. “Isso pode ser um sinal de que o trabalho do Banco Central está ganhando mais credibilidade”, afirmou um trader de renda fixa ouvido pelo jornal.

Marcelo Bacelar, gestor da Azimut Brasil Wealth Management, destacou que a surpresa positiva nos índices recentes reforçou a tendência de queda das taxas. “Dada a surpresa para baixo no IPCA de setembro, no IPCA-15 de outubro e as revisões do Focus para baixo nos horizontes mais longos, isso tem ajudado a curva de juros”, avaliou.

☉ Política monetária firme sustenta cenário otimista

Segundo Bacelar, a postura mais “hawkish” — ou seja, conservadora — do Banco Central tem ajudado a reduzir a inclinação da curva de juros. “Quanto mais o BC fica parado, mais a curva perde inclinação. E esse deveria, de fato, ser o correto, embora tenhamos incertezas pela frente”, comentou, ao lembrar que 2026 será um ano eleitoral, o que traz riscos à política fiscal.

Grandes instituições financeiras também estão se posicionando para aproveitar o momento. O J.P. Morgan, por exemplo, mantém uma aposta de queda na taxa do DI para janeiro de 2030, mirando o nível de 12,25%, enquanto a cotação atual está em 13,18%.

☉ Cortes na Selic ganham força no horizonte

O estrategista e economista-chefe da AZ Quest, André Muller, avalia que a redução nas expectativas de inflação e nas medidas “implícitas” do mercado dará mais segurança para o Banco Central iniciar um ciclo de cortes em janeiro. “A continuidade do que temos visto nos últimos meses deveria dar condições para o BC cortar de maneira crível, sem colocar em risco a ancoragem das expectativas”, afirmou.

Para Muller, a autoridade monetária tem sido “muito competente” ao manter o controle das expectativas inflacionárias de longo prazo. A AZ Quest projeta que a taxa Selic pode cair para 10,50% até o fim de 2026, abaixo do consenso do mercado, que prevê algo entre 12% e 12,5%.

☉ Cautela com o cenário eleitoral e inflação implícita

Guilherme Baran, gestor da SulAmérica Investimentos, pondera que será necessário um desaquecimento mais acentuado da economia para ampliar as apostas em cortes mais profundos na Selic. Ele também chama atenção para a diferença entre o que o Focus projeta e o que o mercado precifica como inflação “implícita”.

Com base na NTN-B com vencimento em agosto de 2026, Baran calcula que o mercado espera uma inflação de 3,75% para o próximo ano, contra 4,20% no Focus. “Geralmente, o prêmio de inflação se opera para cima no Brasil, mas em anos eleitorais esse risco vai para o outro lado”, afirmou, ao lembrar que o governo pode adotar medidas artificiais para conter preços.

Apesar da melhora, a SulAmérica reduziu sua exposição ao risco nos mercados de juros após a forte queda das taxas. Já a AZ Quest segue apostando em posições aplicadas nas taxas prefixadas de curto prazo e nos juros reais de médio prazo, reforçando a visão de que o ciclo de desinflação e a postura firme do Banco Central podem sustentar um ambiente mais previsível nos próximos meses.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal Valor Econômico

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