terça-feira, 9 de setembro de 2025

Alexandre de Moraes: "Toda vez que as Forças Armadas 'acolheram o chamamento do povo', tivemos uma ditadura"

Em julgamento, ministro lembra falas de Jair Bolsonaro ao lado de Heleno em live, que já sinalizava para tentativa de golpe com apoio militar

       Jair Bolsonaro e General Augusto Heleno (Foto: Carolina Antunes/PR)

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou duramente as declarações feitas por Jair Bolsonaro (PL) durante uma live realizada em julho de 2021. Segundo Moraes, a transmissão se insere em uma estratégia golpista que envolvia a utilização de milícias digitais, financiamento irregular e a participação de figuras centrais do governo para deslegitimar a Justiça Eleitoral e preparar o terreno para uma ruptura institucional.

A manifestação de Moraes foi registrada no julgamento que analisa a conduta de Bolsonaro no processo sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022. O ministro destacou que a live não foi um ato isolado, mas sim parte de uma engrenagem coordenada para espalhar desinformação em massa e questionar a lisura das urnas eletrônicas. “A partir desta live já se verifica a utilização do mecanismo que ficou muito conhecido, um mecanismo utilizado por esta organização criminosa a partir do gabinete do ódio, as denominadas milícias digitais”, afirmou.

★ Presença de ministros na live

Moraes ressaltou a participação direta de integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro no episódio, entre eles o então ministro da Justiça, Anderson Torres, e o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Ambos estavam ao lado de Bolsonaro durante a transmissão, o que, segundo o ministro do STF, serviu para conferir credibilidade às falas do ex-presidente.

“O réu Jair Bolsonaro se apoia na figura do ministro da Justiça e, do outro lado, pede apoio das Forças Armadas, citando nominalmente o réu Augusto Heleno. Óbvio que aqui já se mostrava a unidade de desígnios para ao mesmo tempo descredibilizar a Justiça Eleitoral e o Judiciário e, de outro lado, capitaneando as Forças Armadas”, apontou Moraes.

★ Ataques às urnas e ameaças ao Judiciário

Na transmissão, Bolsonaro voltou a colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas e fez ataques a ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele afirmou ter vídeos que supostamente comprovariam fraudes eleitorais, mas nunca apresentou qualquer prova. “Vamos deixar isso continuar acontecendo? Acabando as eleições a gente vai judicializá-la? Quem vai julgar? Os mesmos que tiraram o Lula da cadeia e o tornaram elegível?”, disse Bolsonaro na ocasião.

O ministro Alexandre de Moraes destacou que tais falas buscavam não apenas desacreditar a Justiça Eleitoral, mas também sinalizar à sociedade que havia respaldo militar para a tentativa de desestabilização institucional. “Na live, o réu Jair Bolsonaro, se dirigindo a Augusto Heleno, disse: ‘nas andanças por aí vejo brilhar os olhos do ministro Augusto Heleno. Dá para ver sua pátria tomada pelas cores verde e amarela. O povo não vai permitir isso. Onde as Forças Armadas não acolherem o chamamento do povo, o povo perdeu sua liberdade’”, recordou.

★ Risco de ruptura democrática

Foi a partir desse trecho que Moraes fez uma das afirmações mais incisivas contra o discurso de Bolsonaro, ao associar o apelo às Forças Armadas ao histórico de rupturas democráticas no Brasil. “Toda vez que as Forças Armadas acolheram o chamamento de um grupo político que se disse representante do povo, tivemos um golpe, um Estado de Exceção, uma ditadura”, declarou o ministro.

Para Moraes, a live representou um passo concreto no avanço dos “atos executórios do golpe de Estado”, evidenciando o alinhamento de Bolsonaro com aliados civis e militares para tentar manter seu grupo político no poder, independentemente do resultado das urnas.

Fonte: Brasil 247

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