Deputado aponta que governador atuou para liberar Bolsonaro e viabilizar encontro com Trump nos EUA
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou como crime de obstrução de Justiça a tentativa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de interceder junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para liberar o passaporte de Jair Bolsonaro. “Para mim, o que o governador de São Paulo cometeu foi um crime de obstrução de Justiça. Ele nem poderia ligar para ministro do Supremo com uma proposta como essa”, declarou Lindbergh em entrevista à TV 247.
A fala do parlamentar ocorre em meio à revelação, feita pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, de que Tarcísio teria mantido contato com ministros do STF com o objetivo de obter autorização para que Bolsonaro viajasse aos Estados Unidos. Segundo Lindbergh, o governador agiu como elo institucional de uma tentativa de chantagem internacional, articulada com o presidente Donald Trump, que exerce seu segundo mandato desde 2025. “Eles acham que os ministros do Supremo são idiotas, para liberar o passaporte de alguém que está prestes a ser condenado por tentativa de golpe, para negociar em nome do Brasil”, criticou.
A denúncia ganhou contornos mais sérios nesta sexta-feira (11), quando o Partido dos Trabalhadores protocolou uma petição no STF pedindo que o ministro Alexandre de Moraes apure a conduta de Tarcísio por suspeitas de obstrução de Justiça, abuso de autoridade e colaboração com organização criminosa transnacional. A legenda afirma que o objetivo da viagem de Bolsonaro seria se encontrar com Trump para negociar a reversão do tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil — em troca de apoio político para a anistia de Bolsonaro.
“O gesto é grave: um chefe de Executivo estadual tentando liberar a saída de um réu investigado por tentativa de golpe, para que este se encontre com o líder da pressão internacional contra o Brasil”, argumenta o partido na petição. Segundo o documento, mesmo sem ter formalizado um pedido oficial à Corte, o simples contato de Tarcísio com ministros do STF já configuraria ingerência indevida e tentativa de enfraquecer o processo penal em curso.
Lindbergh também destacou declarações recentes de Eduardo e Flávio Bolsonaro como parte da mesma ofensiva política. Ele lembrou que Eduardo Bolsonaro publicou nota após a mensagem de Trump a Lula, revelando que, inicialmente, o objetivo era impor sanções contra Alexandre de Moraes. Diante da resistência institucional, a retaliação se deu por meio das tarifas. “Ao final da carta, eles dizem: ‘Só tem uma saída: vota a anistia’”, afirmou o deputado.
O parlamentar também criticou uma fala de Flávio Bolsonaro, que fez alusão aos bombardeios norte-americanos em Hiroshima e Nagasaki para ilustrar que o Brasil, segundo ele, deveria “se render”. “Isso é uma chantagem internacional escandalosa”, concluiu Lindbergh.
Na petição ao STF, o PT reforça que a conduta de Tarcísio “visa, na prática, subtrair o réu da aplicação de medida cautelar já imposta de retenção de passaporte” e solicita que o Ministério Público seja formalmente informado dos indícios de crime. O partido também requer que, mesmo com o foro privilegiado de Tarcísio no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a competência para eventual investigação permaneça no STF, dada a conexão direta com os fatos investigados na Ação Penal 2668.
O governador de São Paulo negou que tenha feito qualquer contato com ministros do Supremo nesse sentido. Ainda assim, o PT argumenta que “tal ato, ainda que informal, configura ingerência indevida no exercício da jurisdição penal desta Corte e deve ser compreendido como tentativa de obstrução da Justiça”.
Fonte: Brasil 247
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