Ex-presidente e sete aliados respondem por crimes da trama golpista e podem pegar até 43 anos de prisão; sessão desta terça foi encerrada antes do previsto
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus acusados de participação na trama golpista de 8 de janeiro teve início nesta terça-feira (2), no Supremo Tribunal Federal (STF), e será retomado na manhã desta quarta-feira (3). Os acusados respondem a cinco crimes e podem ser condenados a até 43 anos de prisão caso recebam a pena máxima.
O presidente da Primeira Turma, ministro Cristiano Zanin, encerrou os trabalhos às 17h55, mais de uma hora antes do previsto, por conta de compromissos da ministra Cármen Lúcia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesta quarta, os advogados do general Augusto Heleno, de Bolsonaro e dos ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto terão até uma hora cada para apresentar suas sustentações orais. Após as defesas, começará a leitura dos votos pelos ministros. O segundo dia terá transmissão ao vivo pela TV 247:
◈ A defesa de Anderson Torres
A fala do advogado Eumar Novacki, que representa o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, ganhou destaque. Ele adotou a tática de afastar responsabilidades de seu cliente, enfatizando que a viagem de Torres aos Estados Unidos ocorreu antes da cogitação dos atos golpistas e que o ex-ministro teria atuado para desmontar acampamentos bolsonaristas.
Sobre a chamada “minuta do golpe”, localizada em sua casa, Novacki afirmou: “Esse documento já circulava na internet semanas antes. Meu cliente não participou da sua elaboração”. Ele também negou que Torres tenha utilizado a Polícia Rodoviária Federal para atrapalhar a votação em áreas favoráveis a Lula.
A sessão foi marcada por um embate quando Novacki tentou exibir um áudio diretamente de seu celular, após alegar falha técnica nos slides. O ministro Alexandre de Moraes interrompeu a tentativa, alegando que o material não havia sido submetido previamente à secretaria judicial, autorizando apenas a leitura do conteúdo.
◈ Delação de Mauro Cid em debate
O ex-senador Demóstenes Torres, advogado do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, questionou a validade da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. “A proposta da PGR de homologar o acordo, ao mesmo tempo em que critica Cid, é antijurídica”, declarou. A Procuradoria havia considerado o delator contraditório em suas falas.
Paralelamente ao julgamento, parlamentares aliados de Bolsonaro promoveram uma audiência no Senado com Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no TSE, atualmente na Itália. O perito repetiu acusações contra Moraes, aproveitadas politicamente por senadores bolsonaristas. Flávio Bolsonaro afirmou: “Está claro que Alexandre de Moraes não respeita o devido processo legal” e prometeu retomar o pedido de impeachment do ministro.
◈ Pressão política por anistia
No Congresso, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) alertou para o avanço de negociações em torno de uma anistia aos envolvidos nos atos golpistas. “O projeto de anistia ganhou força”, disse, atribuindo o movimento a articulações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Vamos lutar para que o Parlamento não entre numa aventura. É um desrespeito esse movimento no primeiro dia do julgamento”, criticou.
A expectativa é de que a sessão desta quarta-feira seja inteiramente ocupada pelas sustentações das defesas, cabendo aos ministros iniciarem a leitura dos votos na sequência. O julgamento deve se estender por vários dias e é acompanhado com grande atenção política e social.
Fonte: Brasil 247