domingo, 18 de maio de 2025

Haddad propõe fundo global para florestas e vê na China aliada estratégica pelo clima

Ministro da Fazenda aposta na liderança brasileira na COP30 e destaca papel chinês na transição energética

      Fernando Haddad e Amazônia (Foto: Agência Brasil )

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que a China pode se tornar um “grande parceiro global em busca de equilíbrio climático”, mesmo sendo o maior emissor de gases de efeito estufa da atualidade. A declaração foi dada em entrevista ao jornalista André Trigueiro, da GloboNews, realizada em 12 de maio e repercutida pelo Valor Econômico neste sábado (17).

“A China é o maior produtor de painéis solares, está fazendo sua transição automotiva na maior velocidade possível e já produz os carros elétricos mais baratos. É um grande emissor. Mas uma coisa é a pessoa emitir, outra é não fazer nada. A China pode ser um grande parceiro global em busca de um equilíbrio climático para o planeta. E eles têm tecnologia. Não é só dinheiro”, afirmou Haddad.

◎ Fundo para preservação das florestas tropicais - Entre as propostas que o Brasil levará à COP30, marcada para novembro em Belém (PA), está a criação do Tropical Forests Forever Fund (TFFF), um fundo internacional voltado à preservação de florestas tropicais. Segundo Haddad, o desenho da proposta já está adiantado e tem gerado entusiasmo em diversos países europeus. No entanto, tanto Estados Unidos quanto China ainda não manifestaram adesão.

“As duas grandes potências ainda não deram sinal verde, mas tem um conjunto de países europeus querendo aportar recursos”, explicou. “Não consigo entender um bom argumento para não salvar as nossas florestas, que respondem hoje por uma parte da limpeza que se faz do carbono na atmosfera”.

O fundo funcionaria como instrumento de crédito, oferecendo remuneração mínima aos investidores e financiando projetos de transformação ecológica. O lucro gerado pelo diferencial das taxas (spread) seria revertido proporcionalmente aos países que preservarem suas florestas em pé. “Como não é doação e o investidor vai estar sendo remunerado, todos os interlocutores do Brasil até aqui dizem que pode se tornar viável”, declarou.

Para Haddad, mesmo sem o endosso inicial das grandes potências, a proposta pode avançar com base em princípios éticos e institucionais. “A política funciona também por constrangimento moral: se você criar um ambiente institucional, uma segurança jurídica de que o dinheiro será bem aplicado, uma regra de distribuição do lucro bem feita, você vai criando na comunidade global um constrangimento”.

◎ Conflitos e oportunidades na geopolítica climática - O ministro reconheceu que a COP30 deverá repetir o principal impasse das conferências climáticas anteriores: o financiamento climático, especialmente para países pobres e em desenvolvimento. Além disso, destacou que há uma dificuldade adicional relacionada a governos “mais extremistas” e negacionistas.

“Os países governados por forças mais negacionistas são mais refratários a políticas ambientais, mas o papel da política é criar interlocução, sociabilidade, diálogo para constranger a fazer o certo”, afirmou, ressaltando o papel de liderança do Brasil desde o G20.

Entre as iniciativas que serão apresentadas durante a COP30, Haddad mencionou o estímulo aos biocombustíveis e uma nova linha de crédito para recuperação de pastagens degradadas. A medida, que começou com um projeto piloto para 1 milhão de hectares, poderá alcançar até 40 milhões de hectares já mapeados pelo governo. “Acredito que vamos esgotar rapidamente a linha de crédito”, previu.

◎ Transição energética e Margem Equatorial - Haddad também comentou sobre a necessidade de conciliar desenvolvimento com responsabilidade ambiental ao tratar da exploração de petróleo na Margem Equatorial. Ele defendeu a realização de pesquisas, mas enfatizou a urgência da transição energética. “Temos que, o quanto antes, prescindir do petróleo. A humanidade. Saber o que há na Margem Equatorial é importante e sou a favor da pesquisa. Mas o petróleo que eventualmente possa estar lá não pode ser pretexto para atrasarmos nossa transição”.

O ministro reiterou o compromisso ambiental do governo Lula, destacando a confiança do presidente na ministra Marina Silva desde os primeiros mandatos. “Está na agenda do Lula. Não tem nada na nossa agenda sem respaldo do presidente Lula”.

Por fim, Haddad reforçou que a pauta climática deve ganhar centralidade nas discussões econômicas globais. “Os ministros de finanças vão estar atentos a esse problema em virtude inclusive dos custos que a crise climática acaba acarretando. Não vejo no futuro próximo uma pessoa alheia ao tema estar em um cargo importante”.

Fonte: Brasil 247

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