sexta-feira, 2 de maio de 2025

Superfederação em descompasso: PP e União divergem sobre alianças em sete estados

Em federação recém-formalizada, partidos enfrentam dificuldades para unificar posições diante dos governos locais em meio às articulações para 2026

         ACM Neto (Foto: Instagram/ACM Neto/Reprodução)

Recém-oficializada como federação partidária, a união entre o PP e o União Brasil já enfrenta suas primeiras turbulências. Reportagem publicada pelo jornal O Globo revela que as duas siglas, agora sob um mesmo guarda-chuva político, divergem sobre o apoio a governos estaduais em pelo menos sete unidades da Federação. Os descompassos locais se manifestam no Acre, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Roraima e Amapá, onde uma legenda compõe a base do Executivo estadual, enquanto a outra adota postura de oposição.

Na maioria dessas situações — seis dos sete estados — é o PP quem se alinha com os respectivos governadores, ampliando sua influência nas administrações regionais. A Bahia concentra o exemplo mais emblemático de tensão federativa. O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, uma das principais figuras nacionais do União, atua como o principal líder da oposição ao governador petista Jerônimo Rodrigues. Neto já articula sua pré-candidatura ao governo estadual em 2026. Ao mesmo tempo, o PP baiano vem se aproximando do Palácio de Ondina e tem se integrado à base de apoio ao governador na Assembleia Legislativa.

O próprio Jerônimo minimizou a contradição e manifestou otimismo quanto à integração definitiva do partido: “a nossa expectativa era de que o PP se aproximasse. Vou trabalhar para que seja da base. Temos que aguardar”, declarou.

Cenários conflitantes em outros estados - Em Pernambuco, o cenário é igualmente instável. O PP ocupa cargos de destaque na administração da governadora Raquel Lyra (PSD), enquanto o União Brasil apresenta divisões internas. A cúpula estadual da sigla tem demonstrado simpatia pela governadora, mas setores municipais do partido seguem ligados ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), adversário político de Lyra e provável nome na disputa ao governo estadual em 2026.

Minas Gerais oferece um exemplo de alinhamento semelhante. O PP integra a base do governador Romeu Zema (Novo), e seu principal nome local, Marcelo Aro, secretário de Governo, é cotado para concorrer ao Senado com o respaldo do Palácio Tiradentes. Já o União Brasil orbita o grupo político do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que inclusive foi sondado para migrar ao partido visando disputar o governo estadual.

Mesmo com a rivalidade entre os grupos, há sinais de diálogo. Marcelo Aro tem mantido contato com lideranças do União, como o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, que recentemente nomeou dois secretários indicados por Aro, sugerindo uma aproximação em curso.

O Amapá é a única exceção nesse padrão. Lá, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), mantém relação estreita com o governador Clécio Luís (PSB), enquanto o PP atua como oposição.

Federação pensada para Brasília, não para os estados - De acordo com interlocutores ouvidos pela reportagem, essas desarmonias se explicam por um desenho de federação concebido com ênfase na articulação nacional, deixando as costuras estaduais em segundo plano. Agora, as direções das duas legendas tentam evitar fissuras e saídas regionais, buscando preservar lideranças e quadros políticos locais.

Apesar dos conflitos, a federação já garante presença na base de apoio aos governadores em 14 estados.

Convergência na oposição: o caso do Nordeste e de Alagoas - Em seis estados, PP e União Brasil caminham juntos na oposição. Destacam-se Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, todos administrados por governadores do PT. Nesses casos, a postura oposicionista das siglas expressa mais claramente um posicionamento ideológico diante da hegemonia petista na região.

Outro exemplo relevante é Alagoas, governado por Paulo Dantas (MDB). Ali, a aliança entre PP e União na oposição está enraizada em rivalidades históricas. De um lado, o grupo do senador Renan Calheiros (MDB); de outro, o do deputado Arthur Lira, expoente do PP. O conflito remonta à eleição de 2010, quando Benedito de Lira — pai de Arthur — recusou integrar a chapa de Renan e preferiu aliar-se ao então governador Teotônio Vilela (PSDB). As duas famílias devem mais uma vez protagonizar disputas diretas nas urnas em 2026.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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