Bolsonaristas intensificam campanha nos Estados Unidos contra ministros do Supremo e celebram possíveis sanções com apoio do presidente Donald Trump
Luís Roberto Barroso (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Bolsonaristas ampliaram seus ataques ao Supremo Tribunal Federal, colocando o presidente da corte, Luís Roberto Barroso, como novo alvo prioritário. A movimentação foi revelada em reportagem da Folha de S.Paulo e ocorre após o governo dos Estados Unidos, sob comando do presidente Donald Trump, revogar vistos de ministros do STF e seus familiares. A investida ganhou força após novas operações da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro e decisões judiciais que atingiram diretamente o ex-presidente.
A ofensiva é liderada nos Estados Unidos pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo comentarista Paulo Figueiredo, neto do último presidente da ditadura militar, João Figueiredo. Em suas redes sociais, Eduardo comemorou abertamente as sanções aplicadas, além de prometer mais ações vindas do governo Trump. “Glória a Deus pela arrogância de meus adversários, ela liberou o caminho para que nós pudéssemos trabalhar sem obstáculos”, escreveu na sexta-feira (18), completando: “E anotem: ESTE É SÓ O COMEÇO!”.
★ Eduardo Bolsonaro celebra retaliações contra ministros do Supremo
As manifestações de Eduardo Bolsonaro surgiram após uma semana marcada pela intensificação da ofensiva contra o STF. Na sexta-feira, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca na casa de Jair Bolsonaro, e o ministro Alexandre de Moraes determinou o uso de tornozeleira eletrônica contra o ex-presidente. Coincidentemente, no mesmo dia, o governo dos Estados Unidos anunciou a revogação de vistos de ministros da Suprema Corte, o que foi tratado como vitória pessoal por Eduardo Bolsonaro. “Quem diria que o fritador de hambúrguer seria recebido [no Departamento de Estado dos EUA] e a embaixadora do Brasil não?”, provocou em publicação no sábado (19), fazendo referência à tentativa frustrada de ser indicado embaixador em Washington.
Eduardo ainda insinuou que novas medidas podem ser aplicadas: “Ainda há muito por vir”, afirmou. Em outra publicação, ironizou a decisão judicial contra Bolsonaro, dizendo: “Sem sinal de GPS funcionariam as tornozeleiras eletrônicas?”, referindo-se à possibilidade de sanções tecnológicas que possam impactar o funcionamento de satélites.
Em entrevista à CNN Brasil, o deputado licenciado foi mais direto: “Espero que Deus ilumine a cabeça das autoridades brasileiras, principalmente da elite econômica, que tem muito poder, para que façam pressão nas pessoas corretas, notoriamente Alexandre de Moraes, e a gente consiga mudar esse cenário atual”, declarou. E finalizou: “Dos Estados Unidos, não falo em nome de ninguém, mas posso garantir: não haverá recuo. Se tudo der errado, pelo menos, nós estaremos vingados”.
★ STF desmente fake news sobre filha de Barroso
Barroso tornou-se também alvo de fake news, com a circulação de informações falsas sobre sua filha. Postagens nas redes afirmavam que Luna van Brussel Barroso moraria nos Estados Unidos e poderia ser deportada. O Supremo Tribunal Federal emitiu nota oficial desmentindo: “É falsa a informação publicada em blogs e redes sociais sobre a filha do ministro presidente do STF, Luís Roberto Barroso, estudar e advogar nos Estados Unidos. Também é mentira que ela será deportada. A única filha de Barroso mora no Brasil”.
Durante o mês, Barroso esteve em Miami em viagem particular, cuja entrada foi monitorada pelas autoridades americanas, segundo fontes ouvidas pela reportagem. Nem o ministro nem o STF comentaram oficialmente as revogações de visto determinadas pelo governo norte-americano.
★ Paulo Figueiredo cita Lei Magnitsky e prevê mais retaliações
Paulo Figueiredo, que apareceu ao lado de Eduardo em frente ao Departamento de Estado, também indicou que novas sanções podem ser anunciadas. “É bastante seguro afirmar que esse é só o começo. As coisas que eu tenho ouvido são assustadoras”, disse em vídeo nas redes. Ele ainda mencionou a possibilidade de uso da Lei Magnitsky, legislação que permite punições unilaterais a estrangeiros acusados de corrupção ou de violar direitos humanos, como base jurídica para futuras ações contra ministros brasileiros.
Apesar da retórica agressiva, Figueiredo se distanciou dos ataques a familiares. “Quero deixar claro aqui que reprovo a postagem de fotos dos filhos do Barroso”, afirmou. Mas reconheceu que “infelizmente, terão sim seus vistos cassados, mas não por culpa deles”.
★ Críticas à direita e ameaça de novas punições
A mobilização nos Estados Unidos não se limitou ao STF. Eduardo e Figueiredo também atacaram lideranças da direita brasileira, criticando a falta de apoio explícito a Bolsonaro. Foram alvos o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o senador Hamilton Mourão, o deputado Nikolas Ferreira e outros governadores conservadores. Paulo Figueiredo ainda sugeriu que os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, poderiam ser sancionados em breve, segundo ele, poupados momentaneamente por intervenção direta de Eduardo Bolsonaro. “Todos terão a oportunidade de fazer a coisa certa e uma última chance de escolher o lado do Brasil ou o lado do Alexandre. Com a escolha, virão as consequências”, afirmou.
★ Departamento de Estado não confirma detalhes das sanções
O governo americano, por meio do Departamento de Estado, não se manifestou sobre o alcance das sanções. Não há confirmação sobre deportações de familiares, nem lista oficial dos atingidos. Relatos provenientes de aliados bolsonaristas indicam que apenas três ministros do Supremo teriam sido poupados: Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Luiz Fux. Esses nomes constariam em relatórios entregues por bolsonaristas às autoridades dos Estados Unidos.
Até mesmo o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi citado em documentos como aliado de Alexandre de Moraes e possível alvo de futuras sanções.
A escalada promovida pelo bolsonarismo indica uma estratégia coordenada para internacionalizar a pressão contra o Supremo Tribunal Federal, tendo como aliado o governo do presidente Donald Trump.
Fonte: Brasil 247 com reportagem da Folha de S. Paulo