Documento usado por ONG para justificar gastos de emenda de R$ 4,8 milhões traz assinatura de homem que morreu três meses antes
Um homem que morreu em 30 de novembro de 2023 aparece como signatário de um documento datado de 23 de fevereiro de 2024, usado na justificativa de gastos com locação de carros e combustível pelo projeto Mais Rio em Movimento, financiado por uma emenda parlamentar de R$ 4,8 milhões do deputado Carlos Jordy (PL-RJ). A informação foi revelada em reportagem publicada pelo portal UOL.
O Instituto Realizando o Futuro apresentou à empresa Transtar uma proposta assinada por Edson Diniz Ângelo — que havia falecido três meses antes — como parte do processo de pesquisa de preços para serviços do projeto. O episódio levanta suspeitas sobre o uso de “cartas marcadas” por ONGs contratadas por meio de emendas parlamentares, possivelmente para direcionar recursos a empresas previamente escolhidas.
Desde 2021, a Transtar participou de ao menos 40 processos de pesquisa de preço em projetos com verbas públicas, mas nunca venceu uma licitação, o que reforça indícios de simulação de concorrência. Situação semelhante foi identificada com outras ONGs beneficiadas por emendas, como Carioca de Atividades, Fair Play, Brasil Social e Con-tato.
O deputado Carlos Jordy afirmou, por meio de sua assessoria, que não tem qualquer interferência na execução dos projetos ou na escolha dos fornecedores, e declarou ter “total interesse na apuração dos fatos”. Além do Realizando o Futuro, Jordy destinou cerca de R$ 13 milhões a outras ONGs que passaram a ser investigadas. Parte desse valor, aproximadamente R$ 9 milhões, foi posteriormente realocado para outras entidades.
O Instituto Realizando o Futuro alegou que não tem controle sobre os documentos apresentados por empresas não contratadas e que a responsabilidade por eventuais irregularidades é dos próprios proponentes. Já a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), parceira no projeto, declarou que a assinatura de uma pessoa falecida “causa estranheza” e que caberá às autoridades competentes verificar se houve falsidade ideológica ou uso indevido de identidade.
No fim do processo, a ONG contratou a empresa Telecoop Cooperativa de Transporte por R$ 8.320 mensais durante 16 meses. No entanto, as notas fiscais não informam quantos veículos foram utilizados nem a quantidade de combustível adquirida. A prestação de contas ainda não foi finalizada.
A Unirio afirmou que poderá solicitar a devolução dos recursos, caso sejam constatadas irregularidades.Apesar das suspeitas, nem a ONG, nem a universidade, nem os parlamentares envolvidos reconheceram indícios de fraude. A expectativa é que a fiscalização oficial ocorra durante a análise final das prestações de contas pelos órgãos competentes.
Fonte: Brasil 247 com informações do UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário