terça-feira, 19 de agosto de 2025

Efeito Trump: economista-chefe da Moody’s diz que "EUA estão à beira de uma recessão"

Mark Zandi alerta que tarifas impostas por Trump já colocaram setores inteiros em contração e que consumidores arcarão com dois terços do impacto até 2026

Economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi (Foto: REUTERS/Brendan McDermid)

O economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, avaliou que a economia dos Estados Unidos “está à beira da recessão”, em entrevista publicada nesta terça-feira (19) pelo Estadão. Segundo ele, o aparente fôlego mostrado pelo Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre não altera o quadro de fragilidade causado pelas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.

Zandi destacou que setores como indústria, agricultura, construção e mineração já estão entrando em contração. Além disso, o crescimento do emprego praticamente parou após os números fracos do mercado de trabalho em julho. “Se os números de empregos se tornam negativos, historicamente, isso sempre foi o início da recessão”, disse.

◎ Consumidores vão sentir o peso das tarifas

De acordo com a análise, as empresas americanas ainda absorvem boa parte das tarifas impostas pelo governo, mas essa dinâmica tende a mudar. “No fim das contas, daqui a um ano, dois terços dos aumentos tarifários serão arcados pelos consumidores dos EUA”, afirmou Zandi. A previsão é que o impacto máximo sobre os preços ao consumidor ocorra no segundo trimestre de 2026, quando a inflação medida pelo PCE — indicador preferido do Federal Reserve (Fed) — pode atingir 3,5%, bem acima da meta de 2%.

◎ Pressão sobre o Fed e cortes de juros

O economista-chefe da Moody’s projeta que o Fed terá de reduzir juros entre duas e três vezes ainda em 2025 para tentar conter os efeitos da desaceleração. Até o fim de 2026, Zandi prevê ao menos cinco cortes, levando a taxa dos Fed Funds para 3%.

Para ele, a autoridade monetária está sob “pressão política tremenda” e teme perder sua independência caso uma recessão seja confirmada. “Os dirigentes do Fed desesperadamente querem evitar uma recessão”, afirmou.

◎ Mercados em alta, economia enfraquecida

Apesar do alerta, Wall Street segue batendo recordes, puxada por ações de inteligência artificial e pelos cortes de impostos incluídos no “Grande e Belo Projeto de Lei” de Trump. Para Zandi, trata-se de um otimismo excessivo: “Os mercados estão supervalorizados. Uma vez que fique claro que as tarifas e outras políticas econômicas estão causando danos reais, essa espuma vai sair”.

O impacto, segundo ele, será desigual no mundo. Países como o México devem sentir os efeitos de forma mais aguda, enquanto o Brasil pode até encontrar oportunidades ao redirecionar exportações para a China. No entanto, o balanço global é negativo.

“Estamos à beira de uma desaceleração forte. Nossa linha de base ainda não prevê uma recessão real, mas vai ser difícil navegar com toda a incerteza pendendo para o negativo”, concluiu.

Fonte: Brasil 247

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