Nova estratégia de comunicação tenta dissociar imagem do Centrão e reforça combate a privilégios em meio a crise com o Congresso e desgaste com eleitorado
Sidônio Palmeira e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Dois anos e meio após o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo federal se prepara para aposentar o slogan “União e Reconstrução”. A mudança de estratégia visa reposicionar a comunicação oficial e dissociar a imagem do governo da do Centrão, que tem protagonizado embates com o Planalto. Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo deste domingo (13), a nova palavra de ordem busca enfatizar justiça social, combate aos privilégios e valorização do trabalho como pilares centrais da gestão.
Em uma publicação nas redes sociais, o presidente Lula publicou uma imagem com o slogan “Brasil soberano”, seguido de uma frase da nota publicada nessa quarta-feira (9/7). “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, diz a publicação.
A troca de slogan foi acelerada após o desgaste provocado pela tentativa frustrada de aumentar as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que culminou em uma crise com o Congresso. Partidos aliados, mas independentes do PT, barraram o decreto presidencial, levando o governo a recorrer ao Supremo Tribunal Federal. A disputa escancarou a fragilidade da coalizão e estimulou o Planalto a reforçar sua identidade política.
Para recuperar apoio, a comunicação oficial agora se concentra em destacar que “reforçar os privilégios” é o maior obstáculo à prosperidade coletiva. A ideia é ir além da narrativa “ricos contra pobres” e mostrar que os programas sociais e de crédito também atendem à classe média. “O principal adversário do Brasil é o sistema de desigualdade montado para favorecer 1% da população contra os outros 99%”, repetem ministros em entrevistas, conforme orientação da Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Essa guinada na narrativa tem a digital do publicitário Sidônio Palmeira, ministro-chefe da Secom, que assumiu o cargo em janeiro com a missão de reverter o desgaste do presidente. No entanto, o desafio tem sido maior do que o esperado: pesquisas internas indicam que Lula perdeu apoio até mesmo no Nordeste, tradicional reduto do PT, e entre os eleitores mais pobres. “Eu vim aqui para fazer um doutorado. Estou ministro hoje e amanhã posso não estar. Não tenho interesse político”, afirmou Sidônio ao Estadão.
Desde que assumiu o posto, Sidônio já enfrentou ao menos 12 crises de comunicação, que vão desde boatarias sobre tributação do Pix até polêmicas envolvendo ministros e ataques nas redes sociais. Uma das campanhas mais recentes, que propôs isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, foi batizada informalmente de “BBB” — alusão à taxação de Bilionários, Bancos e Apostas. Monitoramentos indicam que a iniciativa teve boa aceitação.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro da Indústria e Comércio, elogiou o trabalho do marqueteiro. “A comunicação é sempre um desafio, mas o Sidônio tem experiência, sensibilidade e vai avançar mais ainda”, afirmou.
Ainda assim, a atuação da Secom provocou reação no Congresso. Mensagens nas redes sociais criticando parlamentares e chamando o Legislativo de “Congresso da mamata” incomodaram deputados da base e da oposição, em especial o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O ministro foi convocado a prestar esclarecimentos, mas conseguiu adiar sua ida ao plenário para agosto.
Até lá, o novo slogan — ainda mantido sob sigilo — deverá estar nas ruas e nas peças institucionais do governo. Segundo apurou o Estadão, a nova mensagem terá um toque nacionalista, reforçado após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros. A justificativa do republicano foi o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe, o que irritou o governo brasileiro. Em resposta, Lula voltou a exibir o boné com a frase “O Brasil é dos brasileiros”.
Sidônio também teve atritos com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Um dos embates ocorreu após a revogação de uma norma da Receita Federal sobre fiscalização financeira via Pix. Mesmo com a resistência de Haddad, a medida foi revertida após pressão nas redes. Um vídeo com desinformação, publicado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), ultrapassou 200 milhões de visualizações e contribuiu para o recuo.
Apesar das dificuldades, Sidônio insiste em intensificar a exposição de Lula na mídia e aproximá-lo da população. “Sou uma pessoa determinada”, disse ao jornal. Lula, no entanto, resiste a dar mais entrevistas, mesmo diante das recomendações da equipe de comunicação.
Para o Planalto, a nova fase do governo exige um discurso mais afiado e combativo. A expectativa é que o novo slogan funcione como um divisor de águas entre a primeira metade da gestão e a caminhada até 2026, quando Lula deve decidir se disputará mais uma vez a Presidência da República.
Fonte: Brasil 247