Imprensa estrangeira destaca julgamento histórico no STF e suas consequências para a democracia brasileira
Jair Bolsonaro comparece ao julgamento no Supremo Tribunal do Brasil sobre a tentativa de golpe perante o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes - 10/06/2025 (Foto: REUTERS/DIEGO HERCULANO)
O início do julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de participação em uma trama golpista ganhou destaque em veículos de comunicação internacionais. Segundo o jornal O Globo, veículos de mídia internacional como Washington Post, New York Times, The Economist, The Guardian, El País e El Universal acompanham de perto o processo no Supremo Tribunal Federal (STF), considerado um dos mais relevantes da História recente do Brasil.
De acordo com o Washington Post, o país confronta agora não apenas o seu passado autoritário, mas também uma disputa indireta com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O jornal americano destacou que, apesar da “longa história de golpes”, esta é a primeira vez que autoridades brasileiras são julgadas por tentar “subverter a vontade do povo”.
O New York Times classificou o julgamento como um “momento histórico” para a democracia brasileira, ressaltando que Bolsonaro pode ser condenado a décadas de prisão. O veículo ainda apontou preocupações das autoridades com uma possível fuga do ex-presidente, que atualmente cumpre prisão domiciliar. Policiais à paisana vigiam a residência, enquanto cresce a apreensão sobre as pressões doo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tenta mobilizar apoio junto à Casa Branca.
Já a revista britânica The Economist destacou que, enquanto os Estados Unidos deixaram Donald Trump ileso após o ataque ao Capitólio em 2021, o Brasil busca responsabilizar Bolsonaro. Em podcast especial, a publicação classificou o julgamento como uma lição sobre como as democracias podem resistir ao populismo autoritário.
O The Guardian trouxe um olhar cultural, com entrevista ao trompetista Fabiano Leitão, conhecido por ironizar Bolsonaro com canções como Bella Ciao e a Marcha Fúnebre de Chopin. O jornal afirmou que o músico prepara um samba para o dia de uma eventual condenação.
O espanhol El País avaliou o processo como uma “contagem regressiva” não apenas para Bolsonaro, mas também para sua família e a direita brasileira. Segundo o veículo, o julgamento expõe fissuras no movimento conservador internacional e pode resultar em mais de 40 anos de prisão. A publicação também destacou as tentativas de Trump de pressionar o Brasil por meio de tarifas e sanções contra ministros do STF, sem sucesso.
No México, o jornal El Universal ressaltou as acusações contra o ex-presidente, que incluem organização criminosa armada, golpe de Estado e até conspirações extremas como supostos planos de envenenar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assassinar o ministro Alexandre de Moraes. Para o diário, trata-se do “julgamento mais importante da História recente do Brasil”.
Ainda segundo a reportagem, no campo jurídico, especialistas apontam que o julgamento poderá trazer definições sobre a chamada “absorção” de crimes, isto é, a possibilidade de que algumas acusações sejam consideradas sobrepostas. O professor Thiago Bottino, da Fundação Getulio Vargas, explicou que “embora seja um único processo, cada crime é julgado de forma independente. Os ministros podem condenar por alguns crimes e absolver por outros”.
Outro ponto em discussão é a dosimetria da pena. A soma máxima das acusações pode chegar a 43 anos, mas o cálculo dependerá de fatores como antecedentes, agravantes e circunstâncias atenuantes. Caso a condenação ultrapasse oito anos, Bolsonaro deverá cumprir pena em regime fechado, o que pode abrir novo debate sobre onde o ex-mandatário, de 70 anos e com histórico de problemas de saúde, permanecerá preso.
Além do risco de prisão, Bolsonaro já está inelegível desde 2023 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, mas uma nova condenação pode prolongar e agravar essa situação. A Lei da Ficha Limpa prevê que políticos condenados por órgãos colegiados fiquem inelegíveis por oito anos após o fim da pena, o que afastaria o ex-mandatário da cena eleitoral por um longo período.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo