quarta-feira, 16 de julho de 2025

Em carta, governo Lula cobra EUA por tarifas de 50% e exige retomada de diálogo comercial

Carta assinada por Geraldo Alckmin e Mauro Vieira protesta contra tarifaço e busca reabrir negociações com os EUA, sem pedir adiamento

Vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin - 10/12/2024 (Foto: Adriano Machado/Reuters)

O governo brasileiro, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enviou aos Estados Unidos uma nova carta diplomática dirigida à administração de Donald Trump. O documento expressa a insatisfação do Brasil com a imposição de tarifas de 50% sobre produtos nacionais e cobra uma resposta formal a uma proposta de negociação anteriormente ignorada por Washington.

A correspondência é assinada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin — que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) — e pelo chanceler Mauro Vieira. A carta foi despachada nesta terça-feira (15) e será entregue pessoalmente por representantes da embaixada brasileira em Washington a autoridades do governo Trump, especificamente ao secretário de Comércio, Howard Lutnick, e ao representante comercial dos Estados Unidos (USTR), o embaixador Jamieson Greer.

Segundo Alckmin, o Brasil já havia encaminhado uma proposta de negociação há dois meses, em resposta à tarifação de 10% imposta anteriormente pelo governo estadunidense. Os termos dessa proposta foram mantidos sob sigilo, mas o governo Lula não obteve qualquer retorno por parte dos Estados Unidos.

Diante da nova decisão unilateral de Trump de aumentar as tarifas para 50%, tomada sem consulta prévia a seus próprios assessores de comércio exterior, Alckmin e Vieira reformularam o conteúdo da carta original. Removeram trechos que mencionavam soberania e separação de Poderes no Brasil e concentraram-se exclusivamente em temas comerciais — especialmente no superávit que os EUA mantêm na balança comercial com o Brasil.

Apesar da pressão de exportadores brasileiros para que o governo federal tentasse negociar uma prorrogação de 90 dias antes da entrada em vigor das novas tarifas — prevista para 1º de agosto — o Brasil optou por não pedir adiamento. O foco da carta, segundo interlocutores diplomáticos, está na retomada do diálogo técnico entre os dois países.

Leia a íntegra da carta:

"No contexto do anúncio por parte do Governo norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos brasileiros para os EUA, o Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram ontem, dia 15 de julho, carta ao Secretário de Comercio dos EUA Howard Lutnick e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:

1. O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.

2 . Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano.

3. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.

4. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.

5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral."

Fonte: Brasil 247

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