terça-feira, 17 de junho de 2025

Bolsonaro aparelhou a Abin para proteger seus filhos, aponta PF

Investigação revela que agência atuou de forma clandestina para favorecer Carlos, Flávio e Jair Renan em diferentes situações

                             Carlos e Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)

A Polícia Federal identificou que três filhos de Jair Bolsonaro (PL) foram diretamente beneficiados pela estrutura paralela montada ilegalmente na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O documento que fundamentou os indiciamentos demonstra que a agência operou de forma clandestina para favorecer o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador eleito de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan (PL). As informações constam do relatório da investigação, conforme revelado pelo jornal O Globo, que também expôs o uso do programa espião FirstMile pela estrutura paralela da Abin.

O ex-mandatário não se manifestou sobre o indiciamento. Em ocasiões anteriores, negou tanto a existência de uma estrutura paralela na agência quanto qualquer participação em atividades de espionagem ilegal. A Abin, por sua parte, declarou estar "à disposição das autoridades" e enfatizou que os fatos sob investigação ocorreram durante "gestões passadas".

A rede paralela da Abin foi mobilizada contra o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que havia encaminhado requerimento para que Carlos Bolsonaro prestasse esclarecimentos na CPI da Covid e tivesse seus sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático quebrados pela Justiça.

A corporação descobriu que a estrutura clandestina coordenava ações para marcar Carlos Bolsonaro em publicações nas redes sociais que continham informações falsas direcionadas contra adversários políticos. Diálogos interceptados mostram membros da suposta organização combinando marcar o filho do ex-presidente em postagens que atacavam Vieira.

A CPI da Covid, instalada em 2021, apurou a condução da resposta governamental à pandemia durante a gestão Bolsonaro e propôs o indiciamento do então presidente por nove crimes.

A investigação identificou uma gravação de 1 hora e 8 minutos, datada de 25 de agosto de 2020, encontrada em aparelho pertencente ao então diretor-geral da Abin e hoje deputado federal, Alexandre Ramagem (PL). No áudio, o ex-mandatário, Ramagem e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, discutem a investigação que envolvia o senador Flávio Bolsonaro no caso das supostas "rachadinhas".

Durante a conversa, eles analisavam possíveis irregularidades que teriam sido cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que deu origem ao inquérito contra o filho do ex-presidente. Uma das advogadas de Flávio também teria participado da reunião. Segundo as apurações, Ramagem afirmou na gravação que "seria necessário a instauração de procedimento administrativo" contra os auditores da Receita "com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos".

O relatório policial também demonstra que a estrutura paralela produziu elementos probatórios para beneficiar Jair Renan, que era investigado por suspeita de tráfico de influência. Esta investigação foi posteriormente arquivada.

As ações clandestinas "teriam sido determinadas pelo 01 conforme interlocução dos investigados", segundo a PF, que não especifica a identidade do denominado "01". Uma mensagem interceptada mostra um integrante da "Abin paralela" solicitando o monitoramento de "carros em nome do filho Renan". "Veja quais carros estão em nome do filho Renan do PR (presidente). Veja da mãe dele tb. Msg do 01", diz a mensagem captada.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) concluiu que "os agentes também realizaram pesquisas envolvendo o inquérito policial instaurado contra Renan Bolsonaro, possivelmente a pedido do então do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro".

Em março de 2021, a Polícia Federal iniciou um inquérito para apurar se Jair Renan estava intermediando reuniões e facilitando acesso de empresas privadas ao governo federal. O caso começou a ser investigado na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF), após representação de parlamentares da oposição, sendo posteriormente encaminhado para a PF.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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