quarta-feira, 7 de maio de 2025

CNI critica alta dos juros: 'impõe um fardo ainda mais pesado à economia'

Segundo a Confederação Nacional da Indústria, o aumento dos juros tem “consequências negativas para o emprego, e o bem-estar da população”

        Confederação Nacional da Indústria e outras entidades (Foto: Divulgação (CNI))

A Confederação Nacional da Indústria afirmou nesta quarta-feira (7) que o aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros anunciado pelo Banco Central tem “consequências negativas para o emprego, a renda e o bem-estar da população”. O percentual chegou a 14,75% ao ano (a.a.), maior patamar em quase 20 anos.

De acordo com o presidente da CNI, Ricardo Alban, “embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”.

Segundo a CNI, “ao menos quatro fatores deveriam ser considerados para evitar nova elevação da taxa de juros”. “O primeiro é a defasagem dos efeitos da política monetária contracionista, intensificada a partir de setembro de 2024. A materialização da alta de juros deve ser observada na totalidade a partir do segundo semestre de 2025, o que torna um novo aumento da Selic um ato precipitado, agravando a desaceleração da economia desnecessariamente”, ponderou a entidade.

“O segundo é que, com a Selic a 14,25%, a taxa de juros real de 8,8% ao ano seria suficiente para controlar a inflação. A CNI reitera que o parâmetro já superava em 3,8 pontos percentuais a taxa de juros neutra, estimada em 5% ao ano pelo Banco Central. Vale lembrar que o Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo, o que é mais do que adequado para atrair investimentos e controlar a inflação a partir da valorização do câmbio. Os juros altos encarecem o crédito, desestimulam investimentos e dificultam o crescimento da economia”, complementou a CNI.

Conforme a entidade, “o terceiro fator considera a recente política comercial dos Estados Unidos”. “A imposição de novas tarifas de importação aumentou o risco de recessão nos EUA e enfraqueceu o dólar no mercado internacional. Somado à grande diferença de taxa de juros praticada no Brasil, o fato contribuiu para a valorização do real, que atingiu 8,2% entre dezembro de 2024 e abril de 2025, e reduz a pressão da taxa de câmbio sobre a inflação”.

         Ricardo Alban, presidente da CNI. Foto: Divulgação (CNI)

Ainda reforçando o seu terceiro argumento, a CNI disse que os “efeitos do tarifaço sobre o crescimento econômico mundial e o aumento de oferta de petróleo pela OPEP+ levaram à queda global do preço do barril, passando de US$ 75, no fim de 2024, para US$ 62, no início de maio”. “A redução já refletiu na queda do preço do diesel nas refinarias da Petrobras, o que tende a ter um impacto positivo sobre os custos de transporte e sobre a inflação, como um todo”.

“Em quarto lugar, é importante ressaltar que a forte desaceleração do impulso fiscal, observada desde o segundo semestre de 2024 e que deve se manter ao longo de 2025, também contribui para a moderação do consumo e favorece o controle da inflação”, acrescentou a confederação.

A CNI pontuou, também, que os quatro fatores mencionados pela instituição “têm levado ao arrefecimento das expectativas de inflação, espelhadas nos últimos três boletins Focus”. “A estimativa para 2025 caiu de 5,65% para 5,53%. Para 2026, a projeção é de inflação em 4,5%, indicando o início da trajetória de convergência para a meta estabelecida, de 3% a.a”.

Juros, investimentos e custos

A Confederação Nacional da Indústria afirmou que o “Copom desconsidera três riscos. “O primeiro deles é o desestímulo ao investimento produtivo”. “Embora um crescimento menor ou mesmo a queda dos investimentos ajude a conter a demanda agregada e a controlar a inflação no curto prazo, leva também a um menor crescimento da oferta no médio prazo. Isso, por sua vez, pode pressionar os preços quando a demanda for retomada”, detalhou.

Conforme a CNI, “o segundo risco é o aumento dos custos financeiros sobre os custos totais das empresas, o que impacta os preços”. “Associada ao spread bancário extremamente alto, a taxa de juros média nas operações com pessoas jurídicas saltou de 19,4% a.a., em dezembro de 2024, para 22,8% a.a., em março de 2025”, continuou.

“O terceiro deles é elevação do custo da dívida pública, que amplia o déficit público e o risco fiscal. Estimativas do próprio Banco Central indicam que cada aumento de 1 ponto percentual na Selic eleva o custo da dívida bruta federal em cerca de R$ 50 bilhões. Essa dinâmica pode comprometer a sustentabilidade das contas públicas e contribuir, sob essa ótica, para a instabilidade econômica. Em 2024, a dívida pública bruta alcançou 76,5% do PIB e a CNI estima que deverá atingir 79,4% do PIB ao final de 2025”.

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