terça-feira, 15 de julho de 2025

Preços dos alimentos caem no Brasil após 9 meses de alta

Apesar do recuo, sobretaxa prometida pelos EUA sobre exportações brasileiras traz incerteza cambial e ameaça novo repique

    Supermercado (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)

Após uma sequência de nove meses consecutivos de alta, os preços dos alimentos consumidos no domicílio registraram queda de 0,43% em junho, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo IBGE. Analistas apontam que essa redução foi impulsionada por dois fatores principais: a melhora nas condições climáticas que favoreceram a produção agrícola e a desvalorização do dólar nos últimos meses. As informações são da Folha de S. Paulo.

Contudo, o cenário projetado para o segundo semestre ganhou um novo elemento de incerteza. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a intenção de aplicar uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o país, o que pode afetar diretamente a inflação e o câmbio no Brasil.

Entre os principais itens da pauta de exportação brasileira para os EUA estão o café, a carne bovina e o suco de laranja. Em um primeiro momento, caso os embarques para o mercado norte-americano diminuam, a oferta interna desses produtos poderia aumentar e contribuir para novas quedas de preços, conforme explicou Leandro Gilio, economista e pesquisador do Insper Agro Global.

No entanto, Gilio ressalta que “o dólar tende a se valorizar em períodos de incertezas elevadas”. Essa possível oscilação no câmbio elevaria os custos de insumos importados e, consequentemente, os preços finais dos produtos, inclusive os alimentos. “A gente não sabe ainda se tudo vai ser aplicado e como o Brasil vai responder”, pondera. “Tem um ambiente de incertezas de ambas as partes”, afirma.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, considera prematuro prever alterações expressivas no cenário inflacionário. “Tudo ainda está incipiente. Não sabemos se Trump vai ficar com os 50%, se isso vai ser negociado, se o Brasil vai retaliar”, avaliou.

Ainda segundo Vale, se o cenário mais extremo se concretizar — com manutenção das sobretaxas e retaliação do governo Lula em igual proporção —, a tendência é de uma forte pressão sobre o câmbio. “Um câmbio que sobe, em contraposição a uma queda de preços que pode acontecer em um ou outro produto, teria um efeito mais negativo para a inflação”, argumenta.

Atualmente, a expectativa de Vale é que os preços dos alimentos consumidos no domicílio encerrem o ano com alta de 5,5%, após um avanço de 8,23% em 2024. Esse movimento de desaceleração ocorre em um contexto de recomposição das safras, com o Brasil caminhando para uma colheita recorde de grãos em 2025.

Ainda de acordo com a reprotagem, mesmo com a queda pontual registrada em junho, os alimentos consumidos no domicílio acumulam alta de 6,23% em 12 meses, acima do índice geral do IPCA, que ficou em 5,35% no mesmo período. O encarecimento dos alimentos no início do ano foi uma das principais razões apontadas para a perda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo analistas políticos.

Entre os produtos que tiveram redução de preços em junho estão o ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). Em contrapartida, o tomate liderou as altas, com elevação de 3,25%.

Para Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro, os efeitos diretos da medida prometida por Trump seriam restritos a uma gama “bem limitada” de produtos agropecuários. O risco maior, afirma, está no impacto cambial. “A maior ameaça para a inflação dos alimentos viria de uma pressão significativa sobre a taxa de câmbio, o que não se configurou até o momento”, analisa.

Serigati observa que ainda há espaço para negociação, já que os EUA teriam dificuldade em encontrar fornecedores à altura do Brasil para determinados produtos. No caso do suco de laranja, ele exemplifica, a imposição da tarifa geraria uma situação “perde-perde”: os EUA perderiam abastecimento e o Brasil, mercado. “Como é uma estratégia perde-perde, não sei se [a sobretaxa de 50%] vai efetivamente acontecer”, conclui o pesquisador.

Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo

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