terça-feira, 22 de julho de 2025

Exportações de carne brasileira aos EUA desabam após tarifaço de Trump

Volume caiu 80% desde abril; sobretaxa de 50% entra em vigor em 1º de agosto e pode inviabilizar as vendas ao segundo maior mercado do Brasil

        Frigorífico no Mato Grosso do Sul (Foto: Reprodução (TV Morena))

As tarifas adicionais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já provocam impacto devastador nas exportações brasileiras de carne bovina, mesmo antes da entrada em vigor da nova alíquota de 50% prevista para 1º de agosto. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o volume de carne vendida ao mercado americano caiu vertiginosamente nos últimos meses. As informações são da Folha de S. Paulo.

Em abril, quando Trump instituiu uma sobretaxa de 10%, as exportações somaram 47,8 mil toneladas. Desde então, os embarques não pararam de recuar: em maio, o volume caiu para 27,4 mil toneladas; em junho, recuou para 18,2 mil. Agora, em julho, os números apontam para apenas 9,7 mil toneladas, o que representa um tombo de 80% em relação a abril.

Enquanto o volume despenca, o preço da carne brasileira sobe nos Estados Unidos. Em abril, o valor médio da tonelada era de US$ 5.200. Em julho, já atinge US$ 5.850, uma alta de 12%. A valorização, no entanto, não tem compensado a redução no fluxo comercial.

Com o novo cenário tarifário, alguns embarques já contratados estão sendo desviados de portos americanos para evitar que as cargas desembarquem após 1º de agosto e sofram a taxação majorada.

Nos bastidores, representantes do governo brasileiro e da indústria frigorífica vêm tentando negociar com importadores norte-americanos. O objetivo é demonstrar os efeitos deletérios da tarifa de 50% sobre o comércio bilateral e buscar alternativas negociadas em etapas.

Apesar dos esforços, interlocutores próximos às negociações relatam um ambiente desfavorável. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o governo estadunidense tem se mostrado inflexível e condiciona qualquer avanço a exigências de cunho político, como a interrupção de processos contra Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), o que torna o processo ainda mais delicado.

Na última semana, unidades frigoríficas em Mato Grosso do Sul suspenderam temporariamente a produção voltada ao mercado americano. O Brasil é hoje o principal fornecedor de carne bovina para os EUA, à frente de Austrália, Nova Zelândia e Uruguai. Em contrapartida, os EUA são o segundo maior destino da carne brasileira, atrás apenas da China.

Entre janeiro e junho deste ano, o Brasil exportou 181,5 mil toneladas de carne bovina aos Estados Unidos, com faturamento de US$ 1,04 bilhão. Isso representa um crescimento de 112,6% no volume e de 102% na receita em comparação ao mesmo período de 2024, quando o país vendeu 85,4 mil toneladas, totalizando US$ 515 milhões.

Esse desempenho, no entanto, foi sustentado por vendas acima da cota anual de 65 mil toneladas com tarifa reduzida. A maior parte da carne brasileira, portanto, já vinha sendo vendida com alíquotas elevadas — e mesmo assim conseguia manter competitividade. A adoção da sobretaxa de 50%, contudo, poderá inviabilizar o acesso ao mercado americano.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) iniciou conversas com setores produtivos nesta terça-feira (15), apontando o setor como agente fundamental nas negociações bilaterais. A estratégia passa por organizar os produtores nacionais e buscar apoio do setor privado americano para pressionar pela flexibilização das medidas.

A Abiec aponta que cerca de 70% da carne bovina brasileira é consumida internamente, enquanto os 30% exportados correspondem, em sua maioria, a cortes menos valorizados no mercado nacional. É o caso do dianteiro do boi, utilizado na produção de hambúrgueres nos Estados Unidos, e de miúdos bovinos, que têm maior saída em países asiáticos.

Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo

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