Parlamentares do chamado Centrão enfrentam a rejeição da proposta em suas bases eleitorais, o que dificulta a ação da base bolsonarista
Uma possível anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, incluindo Jair Bolsonaro, ocupou o debate dentro do Congresso Nacional, dominando o cenário político em Brasília. É a principal pauta da oposição neste semestre, em meio ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), mas enfrenta fortes entraves tanto no Congresso quanto na relação com o governo Lula e os ministros da Corte.
A base bolsonarista defende a isenção de punições não apenas a manifestantes comuns, mas também a lideranças políticas investigadas, incluindo Bolsonaro, derrubando inclusive sua inelegibilidade. O ex-presidente já está inelegível após condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ataques ao sistema eleitoral. Ainda assim, setores da oposição alimentam expectativas de reversão.
Já a base do governo do presidente Lula rejeita a aprovação de qualquer tipo de perdão. Soma-se a isso a rejeição popular à proposta de anistia. Pesquisas de opinião mostram que a maioria da sociedade é contrária ao perdão dos envolvidos nos atos antidemocráticos.
De acordo com levantamento da Genial/Quaest, 56% dos brasileiros são contrários à anistia para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Especialistas e políticos ouvidos pelo g1 apontam que os obstáculos à aprovação da anistia envolvem cálculos eleitorais, resistência popular e o papel estratégico dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
“Motta tenta se equilibrar entre os interesses do governo e os apelos da oposição. Ele evita pautar o projeto da anistia nesse momento para não melindrar o trabalho dos ministros do STF, até porque o julgamento ainda está em curso”, explicou o cientista político Murilo Medeiros, ressaltando que Motta também se preocupa com os impactos em sua carreira política. “Em território paraibano, ele tende a buscar a reeleição com o suporte da base de apoio a Lula no estado. A nível nacional, além da relação amistosa com a esquerda, ele precisa manter pontes de conexão com a oposição, com os partidos de centro e com seu partido, o Republicanos, de base conservadora.”
No Senado, a resistência é ainda maior. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, já sinalizou que não aceita o texto da Câmara. Seu objetivo é aprovar uma versão “mais conectada ao STF”, que reduza penas, mas não beneficie Jair Bolsonaro.
“Ele trabalha uma anistia mais conectada ao STF, com um diálogo muito melhor com o Supremo e uma anistia com um texto alternativo que, começando pelo Senado, não estenderia benefícios ao ex-presidente Bolsonaro, seria uma anistia light”, avaliou o cientista político Rodrigo Prando.
Sobre o movimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que entrou no circuito para defender o indulto a Bolsonaro, analistas apontam que ele busca consolidar-se como alternativa à liderança do ex-presidente, ainda que tenha sido criticado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por não se engajar de forma mais enfática.
Fonte> Brasil 247
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